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    Após apelo presidencial, premiê italiano deve adiar sua renúncia

    DIOGO BERCITO
    DE MADRI

    05/12/2016 18h02

    O primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, reuniu-se com o presidente Sergio Mattarella nesta segunda-feira (5) e apresentou a sua demissão, já anunciada na véspera.

    Mattarella pediu, no entanto, que Renzi adie sua renúncia até depois da aprovação do orçamento de 2017, o que pode acontecer já na sexta-feira (9). O atraso deve agravar a incerteza política.

    Andreas Solaro-4.dez.2016/AFP
    Italy's Prime Minister Matteo Renzi gives a press conference at the Palazzo Chigi after the results of the vote for a referendum on constitutional reforms, on December 4, 2016 in Rome. Italy's Prime Minister Matteo Renzi announced his resignation after losing a referendum on constitutional reform. "My experience of government finishes here," Renzi told a press conference after the No campaign won what he described as an "extraordinarily clear" victory in the referendum on which he had staked his future. / AFP PHOTO / Andreas SOLARO
    O primeiro-ministro italiano Matteo Renzi dá entrevista em Roma

    Renzi renunciou ao cargo após ter sido derrotado no referendo de domingo (4), cumprindo a ameaça feita durante a sua campanha.

    O resultado da votação foi lamentado ao redor do continente como mais um sinal da crise política. Os partidos populistas, no entanto, celebraram a vitória do "não".

    O presidente Mattarella deve se reunir com os principais partidos políticos depois da demissão de Renzi para nomear o substituto —que deverá permanecer no posto durante a transição. O processo pode durar semanas.

    Há nomes cotados para o cargo, como os ministros Pier Carlo Padoan (Finanças) e Dario Franceschini (Cultura). O resultado dependerá, porém, dos acordos políticos.

    O Partido Democrático, de Renzi, e o Força Itália, do ex-premiê Silvio Berlusconi, preferem a formação de um governo sem convocar novas eleições. O pleito está, por ora, previsto para 2018.

    Mas o movimento antissistema Cinco Estrelas e o Liga Norte, xenófobo, têm pedido que haja eleições antecipadas, o que lhes beneficiaria.

    Eles têm pressa porque as leis eleitorais podem ser modificadas antes do pleito de 2018, ameaçando as suas ambições políticas. Com a regra atual, o vencedor das eleições recebe a maioria automática no Parlamento.

    INCERTEZA

    O resultado do referendo foi recebido com desalento por governos europeus e pelos mercados globais. Há ansiedade em relação aos bancos italianos, que poderão precisar ser resgatados.

    Frank-Walter Steinmeier, ministro das relações exteriores da Alemanha, disse que o resultado representa uma "preocupação".

    A derrota de Renzi foi, porém, comemorada por políticos como Marine Le Pen, do partido francês de extrema-direita Frente Nacional.

    Os italianos teriam, segundo Le Pen, se somado "à lista daqueles que querem dar as costas às políticas absurdas que estão mergulhando o continente na pobreza".

    Há temor de que a Itália, em crise, conteste sua participação na União Europeia durante os próximos anos.

    O movimento populista Cinco Estrelas, assim como a Frente Nacional, é avesso à integração europeia e poderia desencadear uma crise no bloco europeu —somando-se ao "brexit", a decisão britânica de separar-se da UE.

    Mas o referendo italiano não estava diretamente vinculado à União Europeia. Esse tema não foi votado pelos cidadãos. Parte deles votou no "não" como maneira de punir o governo, em meio à estagnação da economia.

    SENADO

    A reforma constitucional proposta pelo premiê Renzi, rejeitada por 59,1% dos votos, teria sido a maior mudança na Constituição italiana desde o final da Segunda Guerra (1939-1945).

    O texto propunha simplificar a burocracia do país, acelerando a aprovação de leis.

    O principal ponto em discussão era a redução do Senado em número de senadores e em poderes. A paridade entre Senado e Câmara é criticada pelo governo como um entrave a suas políticas.

    Renzi propunha que o número de senadores passasse de 315 a 100 e que a Casa não pudesse mais dissolver governos ou aprovar orçamentos. O Senado deixaria de aprovar leis, salvo nos casos em que houvesse uma modificação na Constituição.

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