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    Entenda as acusações contra a presidente da Coreia do Sul

    CHOE SANG HUN
    DO "NEW YORK TIMES"

    09/12/2016 02h00

    O Parlamento da Coreia do Sul deve votar nesta sexta-feira (9) um pedido de impeachment da presidente Park Geun-hye, cujo governo foi consumido por um escândalo de corrupção. A moção a acusa de "violações extensas e sérias da Constituição e da lei".

    Os promotores também a acusaram de crimes em conexão com o escândalo – ainda que, como presidente, ela não possa ser indiciada.

    Kim Hong-Ji/Reuters
    Manifestantes tomam as ruas de Seul para pedir a saída da presidente, envolvida em escândalo
    Manifestantes tomam as ruas de Seul para pedir a saída da presidente, envolvida em escândalo

    Eis as acusações contra Park, que ela negou e classificou como "um castelo de cartas", por intermédio de seu porta-voz e de seu advogado:

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    Extorsão e abuso de poder

    - Em 2014, Park mandou um assessor, Ahn Chong-bum, ajudar uma empresa dirigida por um dos sócios de Choi Soon-sil, sua amiga de infância, a conquistar um contrato junto à Hyundai Motor. Ahn transmitiu o pedido à Hyundai, e a companhia em questão terminou recebendo um contrato de US$ 860 mil. Choi recebeu retribuição em valor de US$ 44 mil, incluindo uma bolsa Chanel, de seu sócio.

    - Em uma série de reuniões em julho de 2015, Park solicitou que os presidentes dos conselhos de oito grandes empresas contribuíssem para duas novas fundações, cujo objetivo seria promover a cultura e o esporte da Coreia do Sul. Park solicitou a Choi que as criasse e dirigisse. Com a ajuda de assessores presidenciais, Choi pressionou as empresas a doar o equivalente a US$ 69 milhões às fundações.

    - Em janeiro deste ano, Choi criou uma empresa de gestão esportiva chamada Blue K. Com o apoio de Park e Ahn, ela coagiu o conglomerado Lotte a doar US$ 6 milhões para um complexo esportivo que empresa planejava construir e administrar. Em fevereiro, Park pediu à siderúrgica Posco que ajudasse a empresa de Choi; pressionada por Ahn, a Posco concordou em criar uma equipe de esgrima para que a Blue K gerenciasse.

    - Em fevereiro, uma vez mais sob ordens de Park, Ahn pediu à Hyundai e ao grupo de telecomunicações KT que contratassem a agência de publicidade de Choi. As duas atenderam ao pedido, e a agência faturou US$ 1,2 milhão com esses contratos.

    Os promotores dizem que essas empresas temiam investigação pelas autoridades tributárias ou outras formas de retaliação oficial caso recusassem os pedidos. Em uma recente audiência no Parlamento, os presidentes dos conselhos das empresas confirmaram que as solicitações haviam partido diretamente de Park ou de seus assessores, e disseram que teria sido difícil dizer não.

    Park reconhece que se reuniu com os empresários, mas nega qualquer coação. Ela já havia dito que ajudou a criar as fundações pelo bem público e jamais lucrou com elas pessoalmente. Choi também nega as acusações contra ela.

    Vazamento de documentos confidenciais do governo

    - Os promotores afirmam que Park pediu a outro assessor, Chung Ho-sung, que entregasse 180 conjuntos de documentos governamentais, 47 dos quais sigilosos, a Choi, entre janeiro de 2013 e abril deste ano. Eles continham, entre outras coisas, informações sobre quem seria indicado para importantes postos governamentais, entre os quais a diretoria dos serviços nacionais de inteligência. Choi não tinha posição formal no governo e nem licença para receber materiais confidenciais.

    Violar a constituição

    Em sua moção de impeachment contra Park, os partidos de oposição citam as acusações mencionadas acima, definindo-as como violações de sua obrigação constitucional de defender a democracia e a economia de mercado. Além disso, eles a acusam de violar a constituição das seguintes maneiras:

    - Ao conspirar para dar postos governamentais a associados de Choi, e, em seguida, permitir que Choi usasse essas pessoas para exercer influência e conquistar contratos lucrativos. A oposição também diz que Park promoveu demissões de integrantes do governo que tentaram chamar a atenção para as atividades de Choi.

    - Ao forçar um jornal a demitir seu presidente, em 2014, depois que o veículo publicou reportagens sobre a suposta influência de Choi. Isso solapou a garantia constitucional à liberdade de imprensa, segundo a oposição.

    - Ao não fornecer relato completo sobre suas atividades em 16 de abril de 2014, quando mais de 300 pessoas morreram no naufrágio de uma balsa em águas sul-coreanas. Park não deixou sua residência por diversas horas naquele dia, e a oposição diz que o povo tem o direito constitucional de saber o que ela estava fazendo. Essa acusação pouco ou nada tem a ver com as outras, mas críticos há muito responsabilizam o governo de Park pelo naufrágio, um dos piores desastres que o país sofreu em tempo de paz.

    Suborno

    A moção de impeachment também acusa Park de solicitar subornos, argumentando que as doações às fundações de Choi eram feitas na expectativa de favores governamentais em retorno. Os presidentes dos conselhos das empresas envolvidas negam o fato.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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