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    Forças iraquianas descobrem a indústria militar do Estado Islâmico

    MAX DELANY
    DA FRANCE-PRESSE

    14/12/2016 14h36

    Fábricas de munições ou ruas transformadas em linha de produção de carros-bomba: a medida que as tropas iraquianas avançam na região Mossul, no Iraque, descobrem a extensão da indústria de armas dos extremistas.

    Em mais de dois anos de controle sobre grandes áreas do território iraquiano, o grupo Estado Islâmico (EI) estabeleceu um sistema extremamente bem organizado e jamais igualado por outro movimento de insurgência islâmica, asseguram especialistas.

    Sua capacidade de produção tem sido um dos principais pontos fortes dos extremistas islâmicos para manter seu domínio sobre os territórios conquistados em 2014 no Iraque, mas também na Síria.

    As descobertas feitas graças ao avanço das tropas iraquianas e curdas, apoiadas por uma coalizão internacional, fornece informações valiosas que podem ajudar a impedir ataques futuros nos países ocidentais.

    "Em termos de escala, organização, comando centralizado e precisão na fabricação, isto é novo", diz James Bevan, diretor do grupo Conflict Armament Research.

    "Não conheço nenhum outro grupo armado que fabrica [armamento] nesta escala e com este grau de coordenação", diz aquele que com suas equipes visitou o Iraque para identificar a produção de armas do EI.

    Seu trabalho, tornado público nesta quarta-feira (14), revela um conjunto sofisticado de dezenas de milhares de morteiros, foguetes e explosivos, cuja qualidade era verificada regularmente.

    No chão, Hachim Ali, um agente especializado no desarme de bombas, detalha as descobertas feitas ao longo da rua Mart Chmoni, em Qaraqosh. Esta cidade iraquiana, retomada do EI em outubro, está localizada ao sudoeste de Mossul, reduto do EI que é alvo de uma ampla ofensiva das forças pró-governo.

    'MUITO ORGANIZADOS'

    O EI tomou Qaraqosh em 2014, forçando sua população de maioria cristã a fugir, e transformando as ruas em uma temível fábrica de produção de armas.

    No local onde filas de caminhões descarregavam suas cargas de mercadorias turcas nas lojas, os jihadistas fabricavam em cadeia sua arma mais formidável: carros-bomba.

    No primeiro edifício eles desmontavam os veículos. No segundo, cortavam placas de metal para blindagem. Um pouco mais adiante, os jihadistas fabricavam os explosivos, que eram colocados nos veículos estacionados mais acima na rua.

    Os extremistas, afirma Hashim Ali, são "muito organizados" e "quando têm um pouco de tempo, eles encontram uma nova maneira de nos surpreender".

    De fato, as tropas iraquianas são visadas diariamente por estes veículos, cujas carcaças se acumulam no norte do Iraque.

    As armas caseiras eram fabricadas em usinas tomadas pelo EI, com equipamentos que já estavam lá. Assim, em um antiga fábrica de cimento de al-Arej, ao sul de Mossul, as máquinas foram utilizadas para a fabricação de morteiros e foguetes. Em outra parte, um antigo galpão de armazenamento de combustível havia sido convertido em centro de produção de explosivos.

    Para dar um toque final e assinar a sua produção, o EI afixava seu logotipo em suas armas.

    INFORMAÇÃO PARA O OCIDENTE

    No campo de batalha, as armas fabricadas pelo EI, comandado por muitos ex-membros do exército e da inteligência iraquiana, passaram pelo teste, somadas aquelas recuperadas nas reservas das forças regulares.

    Mas hoje, com o cerco apertando em torno do grupo, as informações recolhidas sobre esta produção poderiam ajudar a melhor identificar e combater a ameaça representada para além dos territórios sob o seu controlo, diz Bevan.

    Da França para o Egito, passando pela Bélgica ou Turquia, o EI e seus satélites realizaram ataques mortais em 2015 e 2016. E em dezembro, o escritório europeu da polícia Europol advertiu que os jihadistas poderiam visar alvos na Europa com carros-bomba.

    "Os palcos da Síria e do Iraque são um polo de desenvolvimento de dispositivos cada vez mais sofisticados, que certamente nunca são iguais", estima Bevan.

    E sua ameaça agora se estende para além desses territórios porque "se o EI for expulso de Mossul e de grandes partes da Síria, seus combatentes vão se dispersar, e entre eles seus fabricantes de bombas".

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