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    Trump inclui filhos na transição e alimenta acusação de nepotismo

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE NOVA YORK

    16/12/2016 02h00

    Quando a nata do Vale do Silício saiu do elevador dourado da Trump Tower para encontrar o presidente eleito no 25º andar, levou quatro Trumps pelo preço de um.

    Ao lado de Donald, o pai, executivos de gigantes como Apple e Facebook dividiram a mesa com três de seus cinco filhos: Donald Jr., Eric e Ivanka —ela acompanhada do marido, Jared Kushner.

    A prole nada tem de decorativa na política paterna. Ivanka estava na linha quando o pai conversou por telefone com o presidente da Argentina, Mauricio Macri. Com Trump, também recebeu o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe —isso enquanto ela negociava licenciar sua marca de roupas para uma empresa japonesa.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Donald Jr. foi decisivo na seleção do deputado Ryan Zinke (Montana), com quem compartilha o amor à caça, para o Departamento do Interior do próximo governo.

    Já Eric juntou-se ao pai em ao menos uma reunião com Mitt Romney, quando o ex-presidenciável ainda estava no páreo para ser secretário de Estado —posto que lhe foi negado em parte porque suas visões de mundo (sobretudo o repúdio à Rússia) divergiam muito com as de Trump, mas também porque Romney se recusou a pedir desculpas públicas por ter chamado o empresário de "fraude" para baixo na campanha.

    Que Trump é um homem de família, isso já estava claro desde o pleito, quando achincalhou a adversária Hillary Clinton por convocar uma constelação de celebridades (de Beyoncé a Bruce Springsteen), enquanto ele só dizia precisar do sangue de seu sangue em comícios.

    Para críticos, Trump alimenta tanto nepotismo quanto conflito de interesses ao incorporar a prole à sua equipe de transição e, possivelmente, em sua administração.

    O presidente eleito desmarcou entrevista que daria à imprensa nesta quinta-feira (15), para anunciar como pretendia evitar misturar negócios públicos e privados —um dos casos mais simbólicos é o hotel que abriu na mesma avenida da Casa Branca, em outubro, durante a campanha.

    Assim que tomar posse, o novo presidente viverá a insólita situação de ser proprietário e inquilino daquele terreno, que uma agência federal alugou para as Organizações Trump por um período de 60 anos, a custo de US$ 180 milhões. Ivanka supervisionou a transformação do antigo prédio público num hotel cinco estrelas. O contrato veta "autoridades eleitas do governo dos EUA".

    Trump adiantou que seus filhos Jr. e Eric —os mesmos que participam ativamente de sua transição— cuidarão de seu legado empresarial enquanto ele for presidente. Ao deixar Ivanka de fora, fortaleceu especulações de que ela e/ou o marido terão algum cargo no governo. O casal já está à procura de uma casa em Washington.

    Segundo a CNN, uma sala comumente reservada à primeira-dama na Casa Branca viraria a sala da "primeira-família", de onde a filha poderia despachar. Porta-voz de Trump, Hope Hicks diz que ainda "não há decisões sobre o envolvimento de Ivanka" na futura gestão.

    Há dúvidas sobre a legalidade deste envolvimento, entretanto, já que uma lei antinepotismo de 1967 —sancionada após John Kennedy indicar o irmão para ser seu procurador-geral— barraria parentes no governo.

    Não seria, contudo, um caso inédito de política consanguínea na Casa Branca. Na era Bill Clinton, a primeira-dama Hillary liderou força-tarefa para uma eventualmente fracassada reforma na saúde.

    De John Adams (1797-1801) a Dwight Eisenhower (1953-61), outros presidentes colocaram familiares em postos federais.

    A equipe do presidente eleito procura uma brecha legal para validar a presença de outros Trumps em Washington. Dispensar o salário é uma das possibilidades.

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