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    Atentado pode prejudicar política alemã de abertura para refugiados

    DIOGO BERCITO
    DE MADRI

    21/12/2016 02h00

    O ataque em Berlim deve prejudicar a política de portas abertas adotada até agora pelo governo alemão, que recebeu cerca de 900 mil refugiados durante 2015.

    Com a suspeita inicial de que o autor do atentado fosse um refugiado paquistanês, mais tarde solto pela polícia, esse tema foi debatido durante o dia no país.

    Algumas forças políticas foram velozes em transformar o ataque em um tema eleitoral. O partido populista de direita AfD (Alternativa para a Alemanha) afirmou que as mortes no mercado natalino não foram acidentais. A culpa, segundo a sigla, foi de Angela Merkel.

    "Nós consideramos nossa chanceler como sendo pessoalmente responsável pelo que aconteceu", disse Beatrix von Storch, vice-líder da AfD. "Nós vínhamos avisando sobre isso", disse.

    Siglas como a AfD têm questionado a entrada de refugiados no país, afirmando haver risco à segurança. A insatisfação é compartilhada por parte da população e explica o crescimento da AfD e o encolhimento da popularidade de Merkel —que vai concorrer ao quarto mandato em setembro de 2017.

    A AfD tem avançado em pleitos regionais e pode se tornar um rival relevante quando o país for às urnas.

    Há um argumento recorrente de que extremistas podem entrar no país escondidos entre refugiados e de que migrantes vindos de nações como a Síria e o Afeganistão são incapazes de se integrar à sociedade da Alemanha.

    Frauke Petry, líder da AfD, afirmou que as mortes foram "não apenas um ataque à nossa liberdade e estilo de vida, mas também à tradição cristã". "A Alemanha é um país dividido sobre a questão da imigração."

    De acordo com uma reportagem publicada pelo jornal britânico "The Guardian", refugiados em Berlim temem agora ser alvo da desconfiança da população alemã.

    As autoridades da cidade dizem que houve 59 ataques contra abrigos de refugiados em 2015 e 48 neste ano.

    "Depois de ataques como o de Nice e de Berlim, há sempre uma animosidade contra aqueles que são desconhecidos, que são diferentes", afirma à Folha o especialista em integração Westy Egmont, do Boston College.

    "No contexto alemão, esses eventos vão ter consequências nas eleições e nos comportamentos", afirma.

    Egmont diz, ainda, que as generalizações são padrões perigosos em momentos como este. "Essa perspectiva quer atribuir atos de violência a determinadas pessoas, quando poderia ter sido qualquer pessoa."

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