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    Moeda venezuelana é matéria-prima para falsificar dólares

    FABIANO MAISONNAVE
    DE MANAUS

    24/12/2016 02h00

    Nas ruas venezuelanas, uma nota de 100 bolívares, a mais alta do país, vale apenas US$ 0,04 e não alcança nem sequer para um café na padaria. Nas mãos de falsificadores no exterior, porém, os bilhetes podem se transformar em até US$ 100.

    A saída de notas de 100 bolívares foi a justificativa usada pelo presidente Nicolás Maduro para fechar as fronteiras com Brasil e Colômbia. Com o Brasil, o trânsito foi reaberto na segunda (19) para carros e, no dia seguinte, para pedestres.

    Federico Parra/AFP
    Manifestante favorável a Nicolás Maduro, com notas de 100 bolívares
    Manifestante favorável a Nicolás Maduro, com notas de 100 bolívares

    Ao explicar a medida, Maduro disse que a Venezuela é vítima de "mãos de máfias vinculadas à direita" apoiadas pelo Departamento de Estado dos EUA, que estariam tirando o dinheiro em circulação para desestabilizá-lo e derrubá-lo do poder.

    Os indícios, no entanto, sugerem que a motivação seja apenas criminal. Nos últimos meses, houve ao menos sete grandes apreensões de bolívares só no Brasil.

    Quatro delas ocorreram em Roraima. A maior foi no dia 30 de março, em Pacaraima, na fronteira com a Venezuela. Um palestino foi preso pela PM com 17,5 milhões de bolívares em notas de 100 escondidas no carro –o equivalente a 175 mil cédulas.

    As outras ocorrências foram registradas em Guaíra (PR), Santa Terezinha de Itaipu (PR), ambas na fronteira com o Paraguai, e em Barra do Turvo (SP).

    Na cidade paulista, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) apreendeu, em dezembro de 2015, 3,91 milhões de bolívares em notas de 100 e 50. No câmbio paralelo, o valor equivale apenas a US$ 1.419.

    O caso mais curioso é o de Santa Terezinha, onde a PRF encontrou, em setembro, 470 mil bolívares no carro de uma dupla sertaneja. Eles alegaram que receberam de um músico boliviano por um serviço prestado.
    Procurada pela Folha, a Polícia Federal se recusou a comentar o uso de bolívares por falsificadores.

    Federico Parra/AFP
    Partidários do presidente Nicolás Maduro seguram nota 100 bolívares em manifestação
    Partidários do presidente Nicolás Maduro seguram nota de 100 bolívares em manifestação

    Um eventual uso para lavagem de dinheiro é, na prática, inviável. A moeda venezuelana é não-conversível, ou seja, não pode ser trocada legalmente por outra moeda.

    Além disso, o bolívar vem se desvalorizando rapidamente: 60% nos últimos dois meses. O poder de compra é tão baixo que, em alguns estabelecimentos venezuelanos, as vendas são feitas pesando maços de bilhetes, tamanha a quantidade de notas necessárias para fazer compras simples, como de supermercado.

    Segundo relatos da imprensa venezuelana, existe um grande comércio de notas de 100 na fronteira com a Colômbia. Em troca, o vendedor recebe 140 bolívares.

    De acordo com peritos colombianos citado pelo jornal "El Tiempo", o bilhete venezuelano é ideal para a falsificação devido a seu baixo custo e por conseguir passar sem ser detectado em alguns tipos de teste de autenticidade.

    Em março, o jornal "The Guardian" entrevistou um dos principais falsificadores de dólares do Peru, que usa notas de 10 bolívares para fabricar bilhetes de US$ 100.

    No processo, explicou o falsificador, o bilhete é descolorido para que seja impressa a imagem de Benjamin Franklin (1706-1790).

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