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    Para analista americano, popularidade de Putin será dissipada com a crise

    IGOR GIELOW
    NA RÚSSIA

    27/12/2016 02h00

    Divulgação
    George Friedman, diretor do centro de previsões estratégicas da Geopolitical Futures
    George Friedman, diretor do centro de previsões estratégicas da Geopolitical Futures

    Para George Friedman, 67, que dirige o centro de previsões estratégicas Geopolitical Futures e foi fundador da famosa Stratfor, o Ocidente superestima o poder de Vladimir Putin.
    Segundo ele, o russo joga muito bem com o medo que consegue impingir, sem necessariamente ter capacidades de ir além da retórica. Em sua visão, a Rússia já está em declínio, o que não a torna menos perigosa geopoliticamente.

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    Folha - O sr. crê que Putin terá sucesso em consolidar as zonas tampão em torno de suas fronteiras ou até ir além, mesmo que a sua União Eurasiana pareça ilusória?
    George Friedman - Eu acho que já há o tampão. A Ucrânia é um conflito congelado, o Ocidente tem pouco envolvimento militar e os russos têm limitado o que os rebeldes no leste ucraniano podem fazer.
    Sobre a União Eurasiana, a união de aleijados ainda é aleijada. A crise dos preços da energia atingiu toda a Ásia Central, assim como a Rússia.

    Os eventos recentes, da eleição de Donald Trump nos EUA à emergência de nacionalismos na Europa, parecem se encaixar na narrativa russa. Assim, estamos diante de uma janela de oportunidade para Putin, enquanto ele tenta achar um indicado para sucedê-lo em 2018 _se não ele mesmo ao fim?
    Vemos a reemergência de nacionalismo em todas suas formas. Mas qualquer popularidade que Putin tenha vai esvair-se com a crise.

    O sr. já comparou a Rússia a Esparta, como um adversário menos forte do que a Atenas à época, mas que pôde ganhar a disputa. O fato de a Rússia estar quebrando e com muitas limitações militares a faz mais perigosa? Se o sr. fosse um estoniano o letão étnico, o quão estaria preocupado com a ideia de que a Otan sob Trump possa não defendê-lo?
    A Rússia ainda tem algum poder militar, mas não isso não pode ser superestimado. Claro, na Letônia isso seria suficiente. Mas os americanos estão lá, e o desejo russo de enfrentá-los diretamente é limitado. Invadindo e sendo derrotado é o pior cenário possível.

    Enquanto é ilógico pensar numa guerra total, há potências regionais surgindo exatamente nas franjas da esfera russa, como a Turquia e a Polônia. Há chance de confronto futuro?
    Se consideramos que a Rússia está enfrentando a mesma crise que a União Soviética enfrentou, então temos de estar abertos para pensar no fracasso da Federação da Rússia. Assim, os países na periferia assumiriam um papel maior. A Turquia emerge claramente, assim como a Polônia. Logo, como ocorreu no meio do século 20, haverá uma rotação entre as grandes potências. Como o Reino Unido declinou, a Alemanha e o Japão entraram em colapso. Isso é normal.

    O quanto o Ocidente é culpado pela retórica russa?
    Retórica é retórica. É usada para influenciar a opinião estrangeira e doméstica, e para ameaçar é preciso ter com que ameaçar. A Rússia vem ameaçando desde a mudança no regime ucraniano [em 2014], mas foi isso que fez e já tem um tempo.

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