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    Plebiscito britânico

    Jornal britânico recém-criado se firma como voz anti-'brexit'

    DIOGO BERCITO
    DE MADRI

    28/12/2016 02h00

    Reprodução
    Capa do jornal britânico "The New European"
    Capa do jornal britânico "The New European"

    O Reino Unido votou em 23 de junho para deixar a União Europeia. Desde então, pouco de fato aconteceu ali. Governo e população seguem sem saber como e quando o tal divórcio vai acontecer.

    Enquanto espera, um grupo de jornalistas reuniu-se para criar um novo jornal e, assim, participar do debate.

    O semanário "New European" (novo europeu) tem se consolidado desde então como a voz dos 48% que votaram por continuar no bloco.

    "Ninguém esperava que o voto fosse como foi", conta à Folha Matt Kelly, editor desse jornal. "Houve muito choque na manhã seguinte."

    Kelly —que trabalhou no "Daily Mirror"— diz ter visto que não havia nenhum veículo de comunicação que refletisse a comunidade de quem era contra o "brexit".

    Ele identificou ali uma oportunidade de negócio e decidiu criar o seu jornal em estilo "pop-up" —ou seja, um jornal efêmero, como as lojas temporárias também conhecidas como "pop-up".

    A imprensa no país está organizada entre direita e esquerda. Mas o "brexit", diz, não reflete essa dicotomia.

    "A comunidade que surgiu em torno da campanha por continuar na União Europeia transcende a política tradicional", afirma. "Nós queríamos ter nosso enfoque nessa importante questão."

    O "New European" circula todas as sextas-feiras desde 8 de julho com 48 páginas. Cada edição custa R$ 9.

    "Nosso desafio é abordar essa questão de maneira profunda sem, no entanto, que o jornal seja chato", diz Kelly. Há assim partes dedicadas a cultura e entretenimento, e não só política.

    O jornal tinha sido planejado para ter apenas quatro edições, mas consolidou-se e agora será publicado por um período indeterminado.

    Diversas de suas apostas ajudaram a estabelecer o nome. Por exemplo, o contrato exclusivo para publicar o quinto volume dos diários de Alastair Campbell, que foi diretor de comunicação do ex-premiê britânico Tony Blair.

    "Nós ajudamos a moldar o discurso político", afirma Kelly. "Mas não acho que somos grande o bastante para causar uma mudança substancial. Somos uma pequena voz em um mercado que ainda favorece a direita."

    CLUBE

    O "New European" foi pensado como uma maneira de "pertencer a um clube", diz o editor. O jornal tem por isso uma versão impressa, em vez de apenas a digital.

    "Queríamos criar uma coisa que as pessoas pudessem carregar para demonstrar que são parte do 48%", diz.

    "Você não pode fazer isso com um site. Dá um sentimento mais profundo de pertencer. Ler um jornal é uma experiência pública", afirma.

    Por ser um jornal pequeno, com uma equipe de cinco profissionais fixos, o "New European" segue um modelo de negócios sem investimentos ou planejamentos de longuíssimo prazo.

    "O jornal é rentável e, enquanto fizer dinheiro, vamos continuar", diz Kelly. A dimensão das operações, afirma, permitem que o jornal seja fechado rapidamente, estancando possíveis perdas.

    VAIVÉM

    Não há nenhuma definição a respeito do "brexit", apesar dos meses que se passaram desde o voto.

    A Justiça britânica ouve nesta semana os argumentos do governo da premiê Theresa May a respeito do tema.

    Cidadãos desafiaram o governo na Corte e disseram que cabe ao Parlamento, e não à premiê, acionar o Artigo 50 do Tratado de Lisboa, que inicia oficialmente as negociações para o divórcio.

    A questão é legal e diz respeito aos poderes do Parlamento e do governo. Mas a decisão da Justiça, esperada para o início de 2017, pode ser decisiva no processo.

    Se for decidido que o Parlamento tem direito a voto, o "brexit" pode ser atrasado ou amenizado em diversas das questões que estão em aberto. Por exemplo, na situação dos migrantes europeus e na permanência no mercado comum do bloco.

    Edição impressa
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