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    Duterte acusa 6.000 políticos de narcotráfico e promete punição

    ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
    DE SÃO PAULO

    29/12/2016 12h14 - Atualizado às 17h26

    Reprodução/Rappler
    Em entrevista ao vivo, o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, entrega à diretora do site noticioso Rappler calhamaço de folhas que, segundo ele, contém nomes de 6.000 políticos envolvidos em narcotráfico e corrupção. Duterte mostra também folha com fotos de generais que, segundo ele, estão envolvidos no tráfico de drogas. Foto: Reproducao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Em entrevista ao vivo, o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, entrega com nomes de 6.000 narcopolíticos, segundo ele

    O presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, usou as emissoras de televisão nesta quinta (29) para ameaçar funcionários públicos e políticos envolvidos em corrupção e narcotráfico.

    Depois de dizer em discurso na terça (27) que convidaria "os corruptos para um passeio de helicóptero sobre Manila" e os empurraria "para fora, lá do alto", Duterte mostrou nesta quinta uma pilha de folhas com cerca de 15 centímetros de altura que, segundo ele, contém os nomes de 6.000 narcopolíticos.

    A lista foi entregue aos jornalistas em duas entrevistas ao vivo —as primeiras desde que ele tomou posse, em julho deste ano—, para a emissora filipina ABS-CBN e o site noticioso Rappler. "Esta é a imagem concreta da indústria das drogas filipina", afirmou, contrariando a previsão de alguns analistas de que ele abrandaria seu discurso e mudaria o foco de sua gestão.

    Na entrevista ao Rappler, Duterte foi claro: "A violência é necessária. Nada vai mudar se os criminosos não tiverem medo".

    Reprodução/Rappler
    Em entrevista ao vivo, o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, entrega à diretora do site noticioso Rappler calhamaço de folhas que, segundo ele, contém nomes de 6.000 políticos envolvidos em narcotráfico e corrupção. Duterte mostra também folha com fotos de generais que, segundo ele, estão envolvidos no tráfico de drogas. Foto: Reproducao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    O presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, mostra em entrevista ao vivo folha com fotos de generais que diz estarem envolvidos em narcotráfico

    A estratégia é a mesma usada na vertente da guerra às drogas que ocorre nas ruas das cidades filipinas há seis meses: instilar o medo de punição. Ou, no caso das ruas, o medo de morrer.

    Segundo dados da própria polícia nacional (PNP), já são 6.214 as vítimas "comuns" —pequenos usuários e traficantes, segundo o governo; inocentes, segundo a maioria dos familiares. Não houve inquérito ou julgamento dos suspeitos.

    Do total, 2.165 foram mortas pelas forças policiais e 4.049, por grupos de extermínio —os chamados vigilantes.

    Apesar de críticas internacionais, de entidades de direitos humanos e da Igreja Católica local (que congrega 80% dos filipinos), o controverso presidente repetiu em outra exclusiva ao vivo para a TV5 que "a guerra continuará custando vidas até o final do mandato", em 2022.

    O presidente já prometeu uma "luta sangrenta até que o último narcotraficante morra", e o ritmo dos assassinatos não foi reduzido, segundo números da polícia e de veículos de mídia que fazem contagens independentes.

    'EFEITO COLATERAL'

    À ABS-CBN, o presidente repetiu o pedido de desculpas feito há duas semanas em discurso, pelas mortes "indesejadas", que ele chama de "efeito colateral" —mas ressaltou que sente apenas por esses erros, não pela decisão de combater duramente usuários e traficantes de shabu (metanfetaminas, o entorpecente mais usado nas Filipinas, país com uma das economias que mais crescem no mundo, mas no qual ao menos metade da população vive em pobreza).

    Em seu discurso de Natal, o diretor-geral da PNP, Ronald "Bato" de la Rosa, pediu aos filipinos que rezassem pelos policiais que mataram "os envolvidos com drogas em confrontos armados", porque a guerra continuaria.

    Disse também esperar que "as almas dos assassinados e de suas famílias" o perdoassem.

    A lista divulgada em rede nacional nesta quinta, com os nomes dos que o governo chama de "high-level targets", tem generais, governadores e chefes de barangays (a menor unidade federativa no país), segundo Duterte.

    O presidente disse que os nomes foram checados por até três serviços de inteligência diferentes, para evitar erros, e prometeu punir os envolvidos, incluindo os que são seus amigos.

    Também afirmou que sua promessa de erradicar as drogas em até seis meses foi um erro de cálculo, por não ter levado em conta os grupos terroristas —que atuam principalmente no sul do arquipélago e estão sendo financiados pelo tráfico, segundo ele.

    Erik de Castro - 22.dez.2016/Reuters
    O presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, discursa para mães e donas de casa na província de Pampanga
    O presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, discursa para mulheres na província de Pampanga

    LEI MARCIAL

    O presidente tem dado declarações insinuando que seria necessária uma Lei Marcial para combater tanto o terrorismo quanto o narcotráfico.

    As mensagens a esse respeito, porém, são contraditórias. Por um lado, Duterte prega que a Constituição deveria ser alterada para que o presidente possa declarar Lei Marcial sem autorização do Congresso.

    Por outro, afirma que não pretende usá-la, que ela não melhora a vida dos filipinos, e seu porta-voz tem convocado entrevistas para reafirmar que o presidente não pretende instituir a Lei Marcial.

    Ao lado de acabar com as guerras, o ex-prefeito de Davao havia prometido durante a campanha presidencial reprimir a corrupção e dar mais eficiência à administração.

    Ao site Rappler, Duterte afirmou que os maiores progressos até agora foram obtidos na corrupção cotidiana —citou como exemplos taxistas que cobram taxas extras e falsos flagrantes no aeroporto.

    O presidente também deu uma entrevista exclusiva à rede de TV americana CNN, na qual declarou que os que ameaçam tirá-lo do governo "podem terminar com o nariz sangrando".

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