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    Comércio da Guiana atrai brasileiros após Venezuela fechar fronteira

    MARCELO TOLEDO
    ENVIADO ESPECIAL A LETHEM (GUIANA)

    02/01/2017 02h00

    Por R$ 10, é possível comprar um perfume Chanel ou Giorgio Armani. Camisas de badalados clubes de futebol da Europa custam R$ 15, enquanto roupas de grifes famosas são encontradas em quase todas as lojas por menos de R$ 30.

    Esse "oásis" de preços baixos —todos produtos falsificados— fica em Lethem, primeira cidade da Guiana depois da fronteira com o Brasil, que viu crescer a frequência de compradores sobretudo após o fechamento da fronteira da Venezuela com o Brasil, na primeira quinzena de dezembro.

    Dados da unidade da Receita Federal na fronteira mostram que o fluxo diário de veículos que passam na aduana subiu de 500 para até 4.000.

    Mais próxima de Boa Vista (125 km), capital de Roraima, do que a venezuelana Santa Elena de Uairén (212 km), na fronteira com a brasileira Pacaraima, Lethem tem um ar bucólico, que lembra cenários de filmes de faroeste.

    O comércio foi impulsionado com a chegada de lojistas chineses e árabes. "Com a Venezuela fechada, as pessoas vêm para cá. Os preços compensam. Uma camisa que aqui pago R$ 20 custa mais de R$ 100 no Brasil", diz o empresário Francisco Monteiro Barbosa, de Boa Vista.

    A pequena Lethem fica às margens do rio Tacutu, que a divide da brasileira Bonfim e, além de roupas, também se notabiliza pela venda de alho chinês, principal item apreendido nas fiscalizações, segundo a Polícia Federal.

    Com infraestrutura precária, a cidade tem cerca de 3.000 habitantes, muitos trabalhando nas lojas. Fica a mais de 500 km da capital, Georgetown, acessada por estradas de terra ou por aviões que partem de um aeroporto sem terminal de embarque ou iluminação na pista.

    "Notamos uma alta nas vendas, principalmente de roupas. As pessoas têm de comprar para revender, e têm vindo para cá devido às dificuldades de acesso à Venezuela", afirma o empresário Raimundo Martins, que tem uma loja na Guiana.

    REGRAS

    Turistas de Manaus, comuns nas ruas locais, viajam mais de 900 km para comprar na Guiana. Foi o caso de um que lotou o carro de camisas piratas de Flamengo e Vasco, mas foi abordado pela Receita Federal e perdeu a carga.

    A entrada terrestre no Brasil permite que cada contribuinte compre até US$ 300 em mercadorias, mas há especificações que devem ser seguidas, ainda que ele não estoure a cota. Uma delas é não trazer produtos em quantidade que configure o interesse na comercialização.

    Mas ser flagrado é algo raro, segundo funcionários da Receita ouvidos pela Folha, que criticam o baixo efetivo de servidores, a falta de segurança para o trabalho e deficit de equipamentos.

    A reportagem flagrou compradores atravessando a fronteira a pé ou de bicicleta que escapam da fiscalização. Não há, nem na chegada nem na saída, uma canalização do fluxo, o que permite a fuga.

    Foram apreendidos cerca de R$ 7 milhões em mercadorias neste ano, 30% mais que em 2015, mas esse volume, na avaliação de servidores, não representa 3% do montante estimado que entra de forma ilegal pela fronteira.

    A Receita Federal informou que o governo criou um programa de proteção integrada de fronteiras para aprimorar a fiscalização.

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