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    Governo Trump

    Até véspera de chegada à Casa Branca, Trump mantém tom de campanha

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE SÃO PAULO

    19/01/2017 02h00

    Nada de muito empolgante costumava acontecer nas 11 semanas que separam a eleição e a posse de um novo presidente americano. Então veio Donald Trump.

    Sob a lógica "o show tem que continuar", o ex-apresentador de TV, que estreia nesta sexta (20) na Casa Branca, conduziu a transição tal qual um reality show.

    Se não gosta de algo, tuíta. Xingou e foi xingado. A lista de desafetos inclui agências de inteligência, manifestantes, líderes mundiais, meia mídia, Hollywood. Para rebatê-los, tem predileção por duas expressões: "triste!" e "errado!".

    Jim Watson - 17.jan.2017/AFP
    O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, participa do Chairman's Global Dinner, em Washington
    O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, participa do Chairman's Global Dinner, em Washington

    O republicano lotou o gabinete com nomes que povoam os piores pesadelos dos democratas, a começar pelo estrategista-chefe. Stephen Bannon pilotava o site-coqueluche da extrema-direita, o Breitbart News, perito em manchetes como: "Você prefere que sua filha contraia feminismo ou câncer?".

    Para a pasta da Justiça, chamou Jeff Sessions, um crítico da imigração (legal ou ilegal) que no passado achou engraçado brincar que membros do KKK seriam "OK" se "não fumassem maconha".

    Sua titular na Educação, Betsy DeVos, sugeriu que armas nas escolas são aceitáveis, pois servem de defesa contra ataques de ursos.

    No Trabalho, um empresário que se opõe ao aumento do salário mínimo e, como Trump, zela pelo politicamente incorreto. Assim Andrew Puzder defendeu anúncios de sua rede de fast-food: "Gosto de lindas mulheres comendo hambúrguer, acho que é muito americano".

    Por vezes Trump deu sinais ambíguos. Na semana em que recebeu Bill Gates e Kanye West, reuniu-se com Al Gore, ícone da causa verde. Depois, indicou à Agência de Proteção Ambiental o pró-petróleo Scott Pruitt, que já viu exagero nas "regulações desnecessárias".

    A guinada gerou nas redes a campanha #TrumpNarraOPlaneta –tuítes que emulam Trump ("Uma lua. Triste! Júpiter tem 67. Quando eu for presidente da Terra, teremos cem luas").

    VAI TER BOLO

    No dia do pleito, 8/11, nem sua equipe mostrava confiança numa vitória sobre Hillary Clinton. Um bolo simbolizava o clima inicial no hotel Hilton de Nova York, onde aliados acompanhavam a apuração: a confeteira esculpiu o rosto de Trump na massa, mas a expressão era triste.

    A "arte" virou piada na internet. "Este bolo é o menino louro de 'Karate Kid', já crescido, prestes a fazer striptease numa despedida de solteira por US$ 25", zombou a revista "Esquire".

    Quando Trump ganhou, choveram previsões de que sua vingança contra inimigos seria doce. Mas aquele começo foi paz e amor. "Agora é a hora da América cicatrizar as feridas da divisão", disse no discurso de vitória.

    Mais momentos graciosos viriam. Nos dias seguintes, exaltou a "ótima química" com Obama, após conhecer na Casa Branca o homem que já definiu como "talvez o pior dos presidentes".

    A trégua teve vida curta, como prova um tuíte de 31/12: "Feliz Ano Novo a todos, inclusive aos meus muitos inimigos e àqueles que perderam feio. [...] Amor!".

    A "imprensa mentirosa" teria promovido "uma caça às bruxas política" por evocar temas espinhosos, como o potencial conflito de interesses entre sua Presidência e seu império empresarial.

    Meryl Streep o criticou no Globo de Ouro, e ele revidou : "É uma das atrizes mais superestimadas de Hollywood". Trump ainda é o produtor-executivo do reality que apresentou de 2004 a 2015, "O Aprendiz". Nem por isso poupou seu substituto, Arnold Schwarzenegger, republicano que apoiou Hillary.

    "Uau! Arnold 'atolou' se comparado com a máquina de audiência Trump", tuitou após a reestreia da atração.

    Mais palatável foi "Objectified", programa no qual o fundador do site de fofocas TMZ, Harvey Levin, elenca perguntas dóceis –como sua paixão por esportes, "microcosmo da vida" no qual "você tem um perdedor e um vencedor". Trump oferece um tour por seu tríplex. No caminho, a miniatura de uma Mercedes pilotada pelo caçula dos cinco filhos, Barron, 10.

    "Trump continua o mesmo", diz à Folha seu biógrafo Michael D'Antonio. "Extremamente emocional e reativo, desinteressado em quem discorda dele. Isso preocupa os que esperam que ele seja um presidente para todos."

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