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    Governo Trump

    Análise

    Política econômica de Trump é tão paradoxal quanto seu regente

    RAQUEL LANDIM
    DE SÃO PAULO

    20/01/2017 23h54

    Se quiser agradar, ao mesmo tempo, o mercado e seus eleitores, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, corre o risco de aplicar uma política econômica errática, com resultados que podem contradizer suas promessas.

    O bilionário vem acenando com redução de impostos e desregulamentação do mercado financeiro, que agradam o Partido Republicano e as grandes corporações.

    Seu desafio é combinar essa política liberal com o discurso populista e protecionista de ameaças de guerra comercial contra a China, para "trazer os empregos de volta"

    Até agora, a reação dos mercados às promessas de Trump tem sido tão paradoxal quanto a personalidade do novo ocupante da Casa Branca. Apesar das incertezas sobre o novo governo, o dólar se fortaleceu.

    Desde as eleições americanas em 8 de novembro até a posse nesta sexta-feira (20), euro, iene e peso mexicano, se desvalorizaram, respectivamente, cerca de 3%, 8% e 15% em relação ao dólar.

    Ou seja, enquanto Trump vociferava no Twitter contra as montadoras que investem no México, a expectativa de sua chegada à Presidência tornou o país vizinho ainda mais barato e atrativo.

    O dólar vem se valorizando por conta da promessa de uma política fiscal mais frouxa, que combina redução de impostos com US$ 1 trilhão de gastos em infraestrutura.

    A aposta dos investidores é que essas medidas vão aquecer a economia, provocar inflação e levar o Fed, o banco central dos EUA, a subir os juros mais que o previsto. Juros mais altos atraem capital e fortalecem a moeda.

    Os assessores de Trump estimam que o PIB dos EUA pode crescer 3% a 4% nos próximos anos, um ritmo que o país não vê há mais de uma década, por conta da crise financeira, da baixa produtividade e do envelhecimento da sua população.

    Os analistas estão mais cautelosos. Na segunda-feira (16), o Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou as estimativas de crescimento dos EUA para 2,3% este ano e 2,5% em 2018.

    Para Mônica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute, em Washington, sem elevar a produtividade da economia, existe o risco de mais gastos provocarem apenas um surto de crescimento, que deixará para trás ainda mais dívidas.

    Os EUA estão crescendo devagar, mas Trump herda uma situação muito mais confortável que seu antecessor, Barack Obama, que assumiu após a crise de 2008.

    A taxa de desemprego americana está em 4,9%, patamar considerado pleno emprego. Faltam vagas pouco qualificadas para a classe média baixa branca que elegeu Trump, mas outros setores e regiões avançam.

    Mesmo assim, o ex-astro de TV prometeu sobretaxar os produtos feitos por empresas americanas no exterior para gerar mais empregos nos Estados Unidos.

    Se a força de trabalho não crescer (e é provável que encolha caso imigrantes sejam deportados), a demanda extra elevará os salários, o que é bom para os trabalhadores, mas pressiona a inflação e reduz os lucros das empresas.

    Além disso, barreiras protecionistas aumentarão os custos dos insumos e dos produtos importados —outro abalado para a competitividade.

    No curto prazo, as ameaças de Trump até atraem investimentos, mas seu intervencionismo prejudica as engrenagens da economia. Não é o melhor jeito de "tornar a América grande de novo"

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