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    Governo Trump

    Marcha das Mulheres reúne milhares contra Trump em todo o mundo

    PATRÍCIA CAMPOS MELLO
    ENVIADA ESPECIAL A WASHINGTON

    21/01/2017 16h14 - Atualizado às 20h09

    Um mar de mais de 500 mil mulheres, homens e crianças, usando gorros cor de rosa, tomou as ruas da capital americana na Marcha das Mulheres contra o presidente Donald Trump.

    Estimativas preliminares da agência de notícias Associated Press e do site Vox apontavam para pelo menos 500 mil manifestantes, número superior ao público que esteve no Capitólio e no National Mall para a posse do presidente Trump na quinta-feira (20), estimado em cerca de 300 mil. Segundo os organizadores da marcha, havia mais 3 milhões de manifestantes em Marchas das Mulheres nos Estados unidos e em outros países.

    O foco da marcha era a defesa de direitos das mulheres e das minorias, em reação a comentários vistos como misóginos feitos pelo novo presidente americano e a medidas contra o direito ao aborto, prometidas durante a campanha. Mas a manifestação se transformou em um protesto contra a eleição de Trump, uma anticelebração da posse.

    Manifestantes vindos do país inteiro entupiram o metrô, que tinha filas enormes e vagões lotados de gorros cor de rosa. Os gorros são parte do "Pussyhat project" (Projeto chapéu de xoxota), lançado no fim de novembro. Trata-se de uma campanha conclamando mulheres do país inteiro a tricotarem gorros de lã cor-de-rosa, com duas pontas na parte de cima, usarem os acessórios na marcha ou enviarem a outras mulheres que iriam participar. Segundo a campanha, mais de 1,17 milhão de gorros foram tricotados (número de pessoas que cabem no National Mall), e eles fazem referência ao vídeo em que Trump foi flagrado dizendo que poderia até "pegar mulheres pela xoxota" se quisesse.

    "Trump é especialmente desrespeitoso com as mulheres e minha grande preocupação são questões femininas como o direito ao aborto, mas estamos aqui para protestar também contra as posições de Trump sobre o meio ambiente, lei e ordem e liberdade de expressão", disse a professora Melissa Haber, 47. Ela tricotou 14 gorros de lã rosa, três deles durante a viagem de carro de Boston até Washington, que levou 11 horas (normalmente, demora 7 horas, mas havia um congestionamento de ônibus cheios de gorros rosa, ela explicou). Ela veio com o marido e dois filhos, todos com seus gorros cor de rosa.

    A democrata Hillary Clinton, que perdeu a eleição para Trump, tuitou: "obrigada por defender, falar e marchar por nossos valores na @womensmarch" É mais importante do que nunca."

    hillary

    "Presidente Trump, eu nao votei em você. Dito isso, eu quero poder te apoiar. Mas antes, eu pergunto: você vai me apoiar? Apoiar minha mãe, minha irmã, minha melhor amiga?"discursou a atriz Scarlett Johansson no palco principal da marcha.

    Por lá passaram também Glória Steinem, 82, um ícone do feminismo, a cantora Alicia Keys, a senadora democrata Elizabeth Warren e o cineasta Michael Moore.

    "Não vamos passar de uma nação de imigrantes para uma nação de ignorantes", disse a atriz hispânica America Ferrera.

    Até a cantora Madonna participou. "Vamos celebrar nossa recusa em aceitar essa nova era de tirania; não só as mulheres estão em perigo, todas as pessoas marginalizadas estão", disse. "Sim, eu pensei muito em explodir a Casa Branca, mas sei que isso não vai mudar nada."

    Ambulantes vendiam camisetas da marcha por US$ 10 (R$ 32), crachás com a foto de Michelle Obama por US$ 5 (R$ 16) e bottoms das posses passadas de Obama por USS 1 (R$ 3,20).

    O ex-secretário de Estado John Kerry foi à marcha com seu cachorro.

    Em Chicago, depois que 150 mil manifestantes lotaram as ruas, as autoridades tiveram de cancelar a marcha e pediram para que o protesto fosse estacionário. O sistema de trânsito de Boston teve de acrescentar linhas de metrô e ônibus. Nova York e Miami também tiveram grande numero de pessoas.

    "Lutei por direitos humanos minha vida toda, não vou desistir agora", dizia Adelaide Marion Miller, 80, que foi de cadeira de rodas à marcha. Advogada, ela participou do movimento de direitos civis e é veterana de protestos. Desta vez, quase desistiu, porque está em hemodiálise, tratamento para insuficiência renal.

    Ela veio com a amiga Jenny Nachbar, professora, 48 que usava um gorro tricotado por uma senhora no Alasca. "Precisamos garantir que ele não vai acabar com a voz das mulheres no governo", dizia Jenny.

    Os manifestantes usavam faixas e cartazes com os dizeres "Make america hate gain", "Black lives Matter", "Not my president" e "Womens rights are human rights."

    Ele destacou a filha Ivanka para melhorar sua imagem com as mulheres. Ivanka é uma das principais defensoras do plano de licença maternidade remunerada para mulheres proposto por Trump –hoje em dia, as americanas não tem direito a nem um dia de licença remunerada depois que têm filhos.

    Hillary Clinton ganhou o voto feminino na eleição de 2016 por 12 pontos, e perdeu no masculino por 11.

    A democrata, que tinha a defesa das mulheres como uma das principais plataformas de campanha, recebeu 54% dos votos das mulheres, diante de 42% para Trump. Considerando apenas as mulheres brancas, no entanto, Trump venceu com 53%.

    NO MUNDO

    Além das marchas nos EUA, foram registrados protestos contra Trump em dezenas de países ao redor do mundo.

    De acordo com o site dos organizadores, cerca de 670 marchas foram planejadas. O total de protestos que de fato ocorreram não pôde ser verificado.

    Na Europa, marchas foram realizadas em Londres, Berlim, Paris, Roma, Viena, Genebra e Amsterdã. Na capital britânica, manifestantes relataram a participação de mais de 100 mil pessoas.

    Na África, centenas cantaram músicas de protesto em países como Quênia e África do Sul.

    Centenas de pessoas também protestaram em Tóquio, entre as quais muitos expatriados norte-americanos.

    Em Sidney, na Austrália, cerca de 3.000 homens e mulheres marcharam até o consulado americano e, em Melbourne, foram 5.000 pessoas. Na Nova Zelândia, houve marchas em quatro cidades, envolvendo cerca de 2.000 pessoas.

    No Rio de Janeiro, cerca de 60 homens e mulheres, em sua maioria americanos que vivem na cidade, se reuniram em Ipanema.

    Houve protesto contra o novo presidente dos EUA até mesmo na Antártica. Algumas dezenas de ambientalistas que participam de uma expedição em Paradise Bay seguraram cartazes como "Penguins pela Paz" e "Amor desde os sete continentes".

    Tuíte

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    TRUMP vs. MULHERES

    Veja frases ditas por Donald Trump vistas como misóginas:

    "Quando se é uma celebridade, as mulheres deixam você fazer qualquer coisa, como pegá-las pela xoxota"
    Em áudio de 2005 divulgado durante a campanha

    "Dava para ver que tinha sangue saindo dos olhos dela, saindo de sei lá de onde"
    Sobre a apresentadora Megyn Kelly, insinuando que estaria assim por estar menstruada (ago.2015)

    "Ela é feia, não surpreende que seu marido a deixou para ficar com outro homem"
    Sobre a jornalista Arianna Huffington (ago.2012)

    "Sou pró-vida e apontarei juízes pró-vida. A decisão [sobre o aborto] vai voltar para os Estados"
    Sobre intuito de reverter decisão da Suprema Corte de 1973 que tornou o aborto legal (nov.2016)

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