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    Com Trump, democratas irados pretendem seguir linha do Tea Party

    JONATHAN MARTIN
    DO "NEW YORK TIMES", EM AVENTURA (FLÓRIDA)

    25/01/2017 07h00

    Manifestantes recém-energizados estão ocupando as ruas, membros do Congresso estão sendo confrontados em seus distritos por eleitores nervosos com a reforma de saúde e doadores ricos estão transformando o medo em ação.

    Oito anos depois que os republicanos se uniram após uma dolorosa derrota eleitoral para se opor ao presidente Barack Obama, os democratas estão canalizando uma ansiedade ainda mais profunda sobre o presidente Donald Trump —e uma derrota muito mais rasa— para um novo ímpeto organizacional.

    Líderes do partido, vendo os enormes protestos no último fim de semana e as crescentes preocupações sobre a prometida revogação da Lei de Acesso à Saúde, esperam recriar o movimento popular que se ergueu em 2009 e empurrou os republicanos ao poder na Câmara dos Deputados e em disputas para governador em todo o país —um equivalente ao Tea Party na esquerda.

    E eles estão recorrendo ao mesmo manual que conduziu seus homólogos conservadores depois da eleição de Obama: criar ou expandir vários grupos fora da arquitetura formal do partido, enfocando campanhas legislativas estaduais e de redistribuição de distritos muitas vezes negligenciadas, e unir os captadores de fundos assustados para subscrever tudo isso.

    Recriar as condições para um segundo raio no mesmo lugar será difícil. O tipo de desemprego disparado que se seguiu à pior recessão desde a Grande Depressão de 1929 não é provável tão cedo, e com muitos distritos da Câmara dominados por republicanos e poucos assentos no Senado ocupados por republicanos abertos em 2018, o terreno político hoje é mais proibitivo para os democratas.

    Só dois assentos republicanos no Senado —em Nevada e no Arizona— estão plausivelmente disponíveis aos democratas no momento, enquanto estes têm de defender dez assentos em Estados onde Trump ganhou. As campanhas mais difíceis poderão ser as 38 disputas para governador que ocorrerão nos próximos dois anos.

    Mas na fúria contra Trump e, especificamente, na raiva fervente pela tentativa republicana de revogar a Lei de Acesso à Saúde, os democratas veem paixões do seu lado e o mesmo potencial para exageros que animou os eleitores conservadores em 2009 e 2010.

    "Você pode ver essa coisa da saúde se desenrolando bem na frente deles", disse James Carville, o antigo estrategista democrata, invocando a máxima política de que "Quem se move sobre o atendimento à saúde perde".
    "Fazer alguma coisa é perder."

    REJEIÇÃO

    A esquerda começa com uma vantagem: Trump já é muito mais impopular do que Obama era no início de sua Presidência.

    A pergunta que paira é se os democratas conseguirão manter a paixão de seus colaboradores e ativistas quando o choque da posse de Trump passar.

    O sucesso do Partido Democrata pós-Obama será determinado por se os progressistas que agora estão entusiasmados abrirão suas carteiras e comparecerão em seus comitês democratas antes das eleições de meio de mandato em 2018.

    Os democratas devem "se reconstruir a partir da base e voltar a ser competitivos nas eleições estaduais e locais", disse Eric Schneiderman, o secretário da Justiça de Nova York e um democrata. "Mesmo que Hillary Clinton tivesse vencido, os republicanos ainda estariam controlando 69 das 99 câmaras legislativas estaduais e 33 mansões de governador."

    A profundidade dos problemas do partido foi um tema recorrente enquanto os doadores, ainda descrentes da eleição de Trump, se reuniram aqui no fim de semana da posse, em um clube de golfe à sombra de palmeiras, para planejar sua volta e esquecer a transferência de poder a 1.500 km ao norte.

    David Brock, o combativo organizador democrata, trouxe cerca de 150 contribuintes e agentes para uma conferência de três dias que salientou a oportunidade que os liberais têm e os desafios que eles enfrentam ao tentar criar sua resposta ao Tea Party.

    O fato de o duro crítico Brock —polarizando mesmo entre os democratas e identificado principalmente com Hillary— ter atraído um amplo leque de progressistas foi um indício da energia que percorre a esquerda.

    Passeando à beira da piscina e falando sobre como reconstruir, entre apresentações com títulos como "Que diabos acaba de acontecer?", os doadores manifestaram sua determinação de revidar.

    "Há uma energia realmente urgente", disse Susie Tompkins Buell, uma das principais angariadoras de fundos de Hillary. "Isto é maior que os direitos das mulheres, que os direitos humanos, que o meio ambiente. Isto é o futuro do mundo inteiro."

    Um debate sobre os primeiros cem dias do presidente começou em uma sessão aqui, com o prefeito de Chicago, Rahm Emanuel, pressionando por um certo compromisso e Ron Klain, um agente democrata veterano, pedindo total oposição.

    "Minha atitude é: haverá coisas em que vamos trabalhar, no interesse do país, e coisas em que não, porque não é do melhor interesse", disse Emanuel.

    O debate destacou uma diferença mais fundamental entre a direita e a esquerda política, o que poderá dificultar a união democrata: enquanto os conservadores ficam felizes em conseguir os benefícios políticos por conter ou minar uma expansão do governo, os liberais estão investidos em um Estado que funcione bem.

    "Você vai ter mais dificuldade para fazer os democratas dizerem 'Nós não queremos que o governo dê certo'", disse Schneiderman, que foi um dos debatedores no evento.

    Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES

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