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    Justiça da França abre inquérito contra mulher do presidenciável Fillon

    DA AFP

    26/01/2017 08h24

    O candidato presidencial da direita francesa, François Fillon, viu-se envolvido nesta quarta-feira (25) em uma polêmica depois que um jornal o acusou de empregar como funcionária fantasma a própria mulher, que teria trabalhado como assessora parlamentar quando ele foi deputado.

    Após as revelações, a Justiça abriu uma investigação por suspeita de "desvio de dinheiro público", a menos de três meses para o primeiro turno da eleição presidencial, na qual Fillon é um dos favoritos.

    Eric Fererberg - 27.nov.2016/AFP
    French member of Parliament and candidate for the right-wing primaries ahead of the 2017 presidential elections, Francois Fillon, walks out out the voting booth in a polling station in Paris, on November 27, 2016, during the second round of the primary. France's conservatives hold final run-off round of a primary battle on November 27 to determine who will be the right- wing nominee for next year's presidential election. / AFP PHOTO / POOL / Eric FEFERBERG
    O presidenciável conservador francês, François Fillon, em cabine de votação, em Paris

    O jornal "Le Canard Enchaîné", que mistura sátira com jornalismo investigativo, assegura que quando François Fillon foi deputado, sua mulher, Penelope, recebeu pagamentos de seu marido de um orçamento destinado às assessorias.

    A mulher do candidato conservador, que sempre se apresentou como uma dona de casa, recebeu do marido como suposta assessora cerca de € 500 mil (R$ 1,7 milhões) ao longo de vários anos, de acordo com o semanário satírico.

    Segundo a lei francesa, a contratação de um familiar não é proibida, desde que a pessoa desempenhe funções efetivas, mas o "Le Canard Enchaîné" afirma que não havia registros de atividades da mulher do candidato, nem de sua presença na Assembleia Nacional.

    Os deputados franceses dispõem de um montante mensal (€ 9.561, ou R$32,5 mil, em 2016) para remunerar o trabalho real de até cinco colaboradores, mesmo familiares, lembra o veículo.

    DEPRECIATIVO E MISÓGINO

    "Foi aberta a estação da campanha suja", lamentou Fillon nesta quarta-feira, em reação às acusações do "Le Canard Enchaîné", que considerou depreciativo e misógino, antes do anúncio da abertura da investigação judicial.

    "Quero dizer que estou escandalizado com o desprezo e a misoginia deste artigo", acrescentou.

    "Porque ela é minha mulher não tinha o direito de trabalhar? Imaginem por um momento que um político diz que uma mulher, como afirma este artigo, só sabe cozinhar. Todas as feministas se rebelariam!", ressaltou.

    Em outro comunicado, o candidato de direita declarou estar contente com a abertura de uma investigação oficial, que permitirá "calar esta campanha".

    Fillon garantiu que pretende prestar depoimento sobre o caso "o mais cedo possível".

    A denúncia chega em um momento muito ruim para o ex-ministro conservador do presidente Nicolas Sarkozy (2007-2012), considerado o favorito segundo as pesquisas para vencer a eleição presidencial no segundo turno contra a candidata da extrema-direita, Marine Le Pen.

    Fillon defende um programa econômico considerado muito duro por seus adversários, e defende a supressão de centenas de milhares de postos de trabalho no serviço público.

    PRÁTICA HABITUAL

    Thierry Solère, porta-voz do candidato, declarou à AFP que efetivamente Penelope Fillon "foi colaboradora de François Fillon".

    "É comum que os cônjuges sejam colaboradores", afirmou.

    Esta prática é, de fato, legal e comum na França: em 2014, de 10 a 15% dos parlamentares contavam com um membro da família entre seus assessores, de acordo com um estudo da imprensa, mas com a condição de que não fosse um emprego fantasma.

    A prática também é comum no Reino Unido, mas na Alemanha é proibido remunerar familiares. No Parlamento Europeu, esta prática foi proibida desde 2009.

    A revelação sobre Fillon ecoou nas redes sociais e em pouco tempo a hashtag #PenelopeGate invadiu o Twitter.

    O "Le Canard Enchaîné" indicou, citando as folhas de pagamento, que Penelope tinha recebido pagamentos entre 1998 e 2002 como assistente parlamentar.

    Entre 2002 e 2007, quando Fillon ocupou o cargo de ministro no governo do presidente Jacques Chirac, Penelope continuou contratada por seu suplente, Marc Joulaud, com honorários que giravam em torno de € 6.900 e € 7.900 (R$ 23,5 mil e R$26,9 mil, respectivamente) por mês.

    Uma colaboradora de Joulaud entrevistada pelo semanário disse que "nunca" trabalhou com Penelope.

    "Eu nunca trabalhei com ela, não tenho nenhuma informação sobre o assunto e só a conhecia como mulher do ministro", garantiu.

    Outros colaboradores do partido Os Republicanos de François Fillon também desconheciam este emprego.

    Presidente da Assembleia Legislativa de 2007 a 2012, e secretário-geral do partido, Bernard Accoyer, tenhou socorrer o colega, afirmando ter visto Penelope "participar de atividades".

    O "Le Canard Enchaîné" relatou que a mulher voltou a receber "por ao menos seis meses" em 2012, quando Fillon voltou a trabalhar como deputado.

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