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    Oposição cancela diálogo com governo e chama novos protestos na Venezuela

    DE SÃO PAULO
    DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

    26/01/2017 14h15 - Atualizado às 20h49

    A oposição da Venezuela abandonou nesta quinta (26) o diálogo com o governo acusando o presidente Nicolás Maduro de descumprir a promessa de soltar adversários presos e permitir a entrada de produtos escassos no país.

    A negociação era conduzida pelos ex-dirigentes José Luis Rodríguez Zapatero (Espanha), Martín Torrijos (Panamá) e Leonel Fernández (República Dominicana) e mediada pelo Vaticano, mas não avançava havia dois meses.

    Juan Barreto - 24.jan.2017/AFP
    Manifestantes opositores de Maduro protestam por novas eleições, na última segunda-feira (24), em Caracas
    Manifestantes anti-Maduro protestam por novas eleições, na última segunda-feira (24), em Caracas

    Em nota, a coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD) disse que a tentativa de diálogo "é um capítulo encerrado que não voltará a se abrir" e chamou seus seguidores a reforçarem os protestos contra o chavista.

    "O descumprimento dos acordos e sobretudo a resposta grosseira e soberba do regime às demandas do Vaticano revelaram o que o povo venezuelano está careca de saber: que o regime não tem palavra", diz o comunicado.

    Ela faz referência à carta do secretário de Estado da Santa Sé, Pietro Parolin, pedindo ao chavismo que acelerasse a libertação dos opositores presos, a entrada de ajuda humanitária e o fim da declaração de desacato da Assembleia Nacional, dominada pela oposição.

    As cobranças, feitas em 1º de dezembro, irritaram Maduro, que chamou o Vaticano de "sabotador" e "cúmplice na tentativa de implodir o diálogo". Países como Argentina, Brasil e Colômbia deram apoio à carta de Parolin.

    Desde a reação explosiva do presidente, o diálogo não avançou. Para os opositores, apenas a partir da mobilização popular é que será possível levar Maduro a convocar eleições que abreviem seu mandato, a encerrar em 2019.

    "Nenhum acordo terá sucesso no alcance de uma mudança política urgente e na defesa dos direitos econômicos e sociais da população se este não for apoiado por uma crescente e sustentada mobilização cidadã."

    A declaração confirma a tendência da maioria dos partidos opositores em abandonar o diálogo, demonstrada nos protestos de segunda (23). Eles acusam o presidente de usar o diálogo para querer protelar a crise no país até a próxima eleição.

    O desabastecimento de remédios e alimentos, a hiperinflação —de quase 500% em 2016— e a dificuldade de o governo de resolver a situação socioeconômica com as atuais medidas tendem a agravar a crise e acirrar os ânimos entre os dois lados.

    O ex-candidato presidencial Henrique Capriles afirmou que o diálogo só será possível "quando se ouça a voz do povo". "Para estes senhores do governo o diálogo é um monólogo: ou se faz o que eles querem o não se faz nada", disse o líder opositor.

    Maduro não havia se manifestado até a conclusão desta edição. Seu ministro das Finanças, Ramón Lobo, acusou a MUD de não querer trabalhar pelo país.

    RÚSSIA

    A decisão da oposição de deixar o diálogo venezuelano foi criticada pela Rússia, que fez uma defesa pouco comum do governo chavista.

    Em nota, o Ministério das Relações Exteriores russo disse que os adversários de Maduro "estabeleceram um rumo à desobediência civil".

    Em retaliação, o presidente da Assembleia Nacional, Julio Borges, aprovou uma moção de repúdio a Moscou por interferência em assuntos internos da Venezuela.

    A justificativa é a mesma usada pelo governo chavista em reprovações a críticas de outros países, principalmente dos EUA e de países vizinhos não aliados, como Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Peru e Paraguai.

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