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    Governo Trump

    Decreto anti-imigração de Trump preocupa brasileiros nos EUA

    RENATA CAFARDO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM NOVA YORK

    01/02/2017 17h57

    O assunto no Rio Market, um misto de mercado e restaurante brasileiro em Nova York, não varia muito esses dias. Os clientes que vão atrás do prato de bife acebolado, com arroz e feijão, só conversam sobre as novas medidas de imigração do governo Trump.

    "Está todo mundo em pânico, sem saber o que vai acontecer", diz o advogado paulistano Roberto Tuchinski, 27, que chegou há sete meses no país. Seu visto já venceu, mas ele se casou com o namorado americano e vai entrar em breve com o pedido de "green card", que dá o status de residente permanente nos Estados Unidos.

    Tuchinski acha que por causa da nova administração, o documento pode demorar a sair. "Fico apreensivo por estar nessa situação incerta. Não posso sair do país, minha mãe quer vir me visitar e já acho que pode ser muito difícil ela conseguir o visto."

    Segundo estimativas do Itamaraty, há 285 mil brasileiros vivendo em Nova York. Os dados são do fim de 2016. A comunidade é a segunda maior do país, perde apenas para Boston, onde há 350 mil. No total, 1,4 milhão de brasileiros moram hoje nos Estados Unidos.

    O Rio Market fica em Astoria, no Queens, conhecido por abrigar a comunidade brasileira na cidade. A motorista Margareth Souza, 60, que sempre almoça por lá, tem a cidadania americana, mas se preocupa com a filha.

    A jovem foi beneficiada pelo DACA (Deffered Action for Childhood Arrivals), uma política que desde 2012 protege pessoas que chegaram quando eram crianças ao país. "Ele é um louco e deve acabar com tudo isso", diz, referindo-se ao novo presidente americano.

    Mais de 600 líderes de universidades americanas, entre eles os presidentes das Universidades de Stanford, Harvard e Yale, assinaram um documento em defesa da continuidade do DACA. Eles argumentam que o programa oferece grandes benefícios porque permite que os jovens cursem ensino superior e ajudem no desenvolvimento de suas comunidades. Há o temor de que o governo Trump acabe com o programa, criado por Barack Obama.

    Sentada sozinha numa mesa, a cozinheira baiana Maria (nome fictício), 70, afirma que não sabe mais o que esperar do país que a acolheu há 24 anos. Ela não tem qualquer documentação que a permita morar nos Estados Unidos. "Esse país já foi bom, a gente ganhava bem, mandava dinheiro pro Brasil, agora não é mais assim", diz. Ela está desempregada e não quis ter seu nome publicado por temer perseguição.

    Muitos brasileiros trabalham mesmo com visto de estudante, que permite apenas estágios. Flávia (nome fictício), 29, estuda inglês e atua no comércio. Também não quis que seu nome fosse publicado.

    "Agora com o Trump, tenho medo que possam vir atrás de mim por eu estar trabalhando." Muitas de suas amigas que pensavam em vir para os EUA na mesma condição, segundo ela, já estão desistindo da viagem.

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