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    Após derrota de Hillary, Fundação Clinton reexamina suas perspectivas

    STEVE EDER
    SHERI FINK
    AMY CHOZICK
    DO "NEW YORK TIMES"

    06/02/2017 07h00

    No ano passado o ex-presidente Bill Clinton prometeu que se Hillary Clinton vencesse a eleição presidencial ele evitaria conflitos, afastando-se de muitas de suas funções na Fundação Clinton, limitando as doações vindas do exterior para a organização beneficente e desfazendo-a de certos programas.

    Agora, quase três meses após a derrota de Hillary, a fundação ainda está tendo dificuldade em definir seu lugar na era do presidente Donald Trump.

    Zumapress - 20.jan.2017/Xinhua
    O ex-presidente Bill Clinton e a ex-secretária de Estado Hillary Clinton participam da posse de Trump
    O ex-presidente Bill Clinton e a ex-secretária de Estado Hillary Clinton participam da posse de Trump

    Ela enfrenta desafios grandes: uma redução nas atividades de levantamento de fundos durante a campanha eleitoral; incerteza quanto à escala das ambições do ex-presidente; interrogações sobre sua liderança, incluindo o tempo de permanência de sua presidente, Donna E. Shalala, e a possibilidade de Hillary Clinton voltar a trabalhar na fundação.

    Em carta a ser divulgada em conjunto com o relatório anual da fundação, esta semana, Bill Clinton chegou a pedir a opinião dos apoiadores sobre seu futuro. "Queremos sua colaboração e suas ideias", ele escreveu, dizendo que a fundação vai trabalhar para ampliar seu impacto.

    Em entrevista concedida na quinta-feira (2), Donna Shalala reconheceu as dificuldades. "O ano passado foi difícil porque nos criticavam por coisas sem fundamento" —alusão às alegações de que doadores estariam usando a fundação para conquistar as simpatias dos Clinton.

    Ela admitiu que a receita da fundação diminuiu em 2016, em parte devido a restrições voluntárias e ao fato de que seus principais levantadores de fundos —o ex-presidente e sua filha, Chelsea— estavam ocupados fazendo campanha para Hillary.

    "A receita também caiu durante a depressão econômica", disse Shalala.

    Mas tanto ela quanto Bill Clinton expressaram otimismo, e Shalala falou na preocupação em conservar talentos. "Em última análise, acho que nossa organização vai continuar a ser o que sempre foi: uma fundação dinâmica e criativa que ajuda a melhorar a vida de milhões de pessoas".

    Enquanto a fundação faz uma autoanálise, muitos especialistas acham que é correto que ela avalie seu futuro, estudando se ainda existe necessidade suficiente de seu maior ponto forte: a capacidade de unir o setor privado com organizações sem fins lucrativos, em prol de causas que não recebem a atenção que merecem.

    "A paisagem está diferente de como era" quando o trabalho da fundação começou, disse Carolyn Miles, presidente e executiva-chefe da Save the Children, uma das primeiras organizações parceiras da fundação. "Eu diria que ela precisa voltar como algo um pouco diferente."

    DEMISSÕES

    Nas últimas semanas a fundação terminou de fechar a Iniciativa Global Clinton, que promovia uma reunião anual de alto perfil, e demitir a maioria da equipe da iniciativa, formada de cerca de cem profissionais. Representantes da fundação confirmaram na quinta-feira que dois programas importantes, incluindo um no Haiti, serão transferidos para fora da fundação.

    A Fundação Clinton foi formada em 1997, durante a Presidência de Bill Clinton, e desde então levantou cerca de US$2 bilhões. Seu trabalho abrangeu 180 países, incluindo os EUA, e 3.500 projetos em áreas desde a recuperação após o terremoto no Haiti e iniciativas de saúde em Ruanda.

    Durante a campanha presidencial, adversários políticos atacaram a fundação impiedosamente, criticando suas relações com doadores estrangeiros e financistas.

    Não surgiu nenhuma evidência de um toma lá, dá cá enquanto Hillary Clinton foi secretária de Estado, mas a candidatura presidencial dela foi prejudicada pela sobreposição de interesses de doadores internacionais à fundação e os assuntos internacionais oficiais.

    Muitos acreditam que o futuro da fundação vai depender de Bill Clinton, que sempre foi sua força motriz e hoje tem 70 anos. "Ele ainda tem a energia, garra, vontade e saúde para dedicar-se à fundação?", perguntou Neal Keny-Guyer, executivo-chefe da organização humanitária global Mercy Corps, em entrevista telefônica dada de Davos durante o Fórum Econômico Mundial, em janeiro.

    Na terça-feira Shalala disse que o ex-presidente e Chelsea Clinton, ambos membros do conselho de direção da organização, continuam engajados e são influentes nas decisões tomadas pela organização, enquanto Bill Clinton ainda é uma figura que atrai doadores. "Ele ainda tem muitos amigos", disse Shalala.

    Outros, porém, enxergam obstáculos pela frente."O grande problema que vão enfrentar é até que ponto poderão levantar recursos, agora que os dois Clinton parecem estar fora de cargos de liderança nacional", disse o especialista em filantropia Leslie Lenkowsky, da Universidade de Indiana. "Eles perderam um pouco do brilho."

    QUEDA NA RECEITA

    A receita da fundação caiu de US$338 milhões em 2014 para quase US$300 milhões em 2015, segundo o relatório anual da entidade. Os números relativos a 2016 ainda não foram divulgados, mas Shalala reconheceu que são mais baixos. A meta interna de levantar US$20 milhões em doações sem restrições em 2016 foi superada, "mas foi preciso um esforço grande para chegar a isso".

    Em agosto, no início oficial da campanha eleitoral, a fundação anunciou sua decisão de fechar a Iniciativa Global Clinton, uma reunião anual concebida por Douglas J. Band, um assessor de longa data de Bill Clinton, para colocar grandes doadores e empresas em contato com causas merecedoras de ajuda. A reunião final da iniciativa aconteceu em setembro.

    Já a Iniciativa Clinton de Acesso à Saúde, conhecida como Chai —uma entidade separada, mas filiada à fundação— sustou uma série de passos que visavam sua separação dos Clinton no caso de Hillary Clinton chegar à Casa Branca.

    Regan Lachapelle, porta-voz da Chai, disse que o trabalho do grupo continua em meio à discussão sobre seu futuro.

    "Nada foi resolvido", disse em entrevista telefônica a partir do Haiti Paul Farmer, membro do conselho de direção da Chai, que promove programas de saúde em 70 países, incluindo programas de tratamento da Aids e reforço de sistemas de saúde. "No clima atual, não é fácil saber o que fazer."

    Em todos os lugares do mundo onde a Fundação Clinton tem uma presença, as especulações sobre seu futuro correm soltas. Em alguns países, a Chai foi acusada de usar a influência dos Clinton para pressionar governos a promover determinadas iniciativas ou para recompensar parceiros de desenvolvimento americanos.

    A Fundação Clinton trabalha há anos com organizações fundadas por outros ex-presidentes, desde Lyndon Johnson até George W. Bush. Nos últimos meses, disse Shalala, funcionários da fundação vêm dando assessoria a Barack e Michelle Obama na criação de sua própria fundação, que vai trabalhar com programas nacionais e internacionais de construção de comunidades.

    Tradução de CLARA ALLAIN.

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