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    Governo Trump

    Gafe de assessora expõe linha tênue entre governo e negócios de Trump

    ISABEL FLECK
    DE WASHINGTON

    09/02/2017 17h26 - Atualizado às 00h16

    Reprodução/Fox News/Associated Press
    Frame da entrevista da assessora de Trump Kellyanne Conway à rede Fox News nesta quinta (9)
    Frame da entrevista da assessora de Trump Kellyanne Conway à rede Fox News nesta quinta (9)

    Ao vivo, em entrevista à Fox News nesta quinta (9), Kellyanne Conway, a assessora que é uma das principais vozes do governo Trump, decidiu fazer uma "propaganda de graça" —como ela mesma definiu— para a filha do presidente, Ivanka: "Vá comprar hoje. Você consegue encontrar [os produtos] online".

    A declaração foi feita quando Conway comentava o já polêmico tuíte de Trump no dia anterior, criticando a loja Nordstrom por não vender mais a linha de roupas, sapatos e acessórios de Ivanka.

    Chris Helgren - 3.fev.2017/Reuters
    Blusas e calças da linha de roupas de Ivanka Trump em loja de Toronto, no Canadá
    Blusas e calças da linha de roupas de Ivanka Trump em loja de Toronto, no Canadá

    Só que até a Casa Branca, desta vez, considerou que a assessora foi além, num movimento que expôs ainda mais o já nebuloso limite entre o governo e os negócios da família Trump.

    Aos jornalistas, o porta-voz da presidência, Sean Spicer, disse que Conway estava sendo "aconselhada" após a declaração.

    Para especialistas, ela pode ter violado o regulamento de ética federal que determina que um empregado do Poder Executivo "não pode usar seu escritório público para seu próprio ganho, para apoiar nenhum produto, serviço ou empresa ou para o ganho privado de amigos, familiares ou pessoas com quem tem ligação não governamental".

    Horas depois da entrevista, o site do Escritório de Ética do governo, uma agência independente do Poder Executivo, ficou sobrecarregado com o elevado número de acessos e caiu. No Twitter, o escritório disse que seu site e o seu sistema de telefones e de e-mails estavam recebendo "um extraordinário volume de contatos de cidadãos sobre os eventos recentes".

    O escritório, contudo, esclareceu que não tem autoridade para investigar uma possível violação, mas sim o Congresso, o FBI (polícia federal) e o Escritório de Responsabilidade do Governo (GAO).

    Se ficar provado que Conway extrapolou sua função, ela pode receber uma carta de reprimenda ou até ser demitida. Em casos mais raros, os funcionários podem ter que responder ao Departamento de Justiça por uma infração civil ou até criminal.

    "O tuíte de Trump foi inapropriado, mas não parece ter violado leis éticas. Os comentários de Conway nesta manhã cruzaram o limite da ética", disse à Folha Scott Amey, do Projeto de Fiscalização do Governo (Pogo, na sigla em inglês).

    Dois membros da comissão de Fiscalização e Reforma do Governo —o republicano Jason Chaffetz e o democrata Elijah Cummings— enviaram uma carta pedindo uma ação disciplinar contra a assessora.

    Em nova entrevista à Fox News, à noite, Conway não quis comentar sobre a carta, embora tenha dito que a Casa Branca a recebeu. Ela afirmou que o presidente "a apoia em 100%".

    "Em algum ponto, eu espero que as mulheres americanas trabalhem para um chefe que as trate da forma como o presidente me tratou hoje."

    No caso de Trump, Spicer justificou a crítica do presidente à Nordstrom, feita numa plataforma que tem sido usada para assuntos oficiais da Casa Branca, como a defesa da filha por um pai.

    O argumento é que ativistas têm boicotado empresas que vendem produtos das empresas Trump. A Nordstrom diz que a decisão de não comercializar mais os produtos de Ivanka é a baixa demanda. "O tuíte mostra que Trump não consegue ficar de fora dos negócios da família", diz Amey.

    A tênue linha que separa os negócios da família Trump do governo tem sido testada também em outros episódios.

    Segundo o "Washington Post", o Departamento de Defesa pretende alugar um espaço na Trump Tower, em Nova York, para abrigar o pessoal e o equipamento que vai assessorar o presidente quando estiver na cidade —o que injetaria dinheiro público diretamente nos negócios da família.

    Na última semana, Eric, filho do presidente, embarcou numa viagem de negócios para o Uruguai, onde o gasto público com sua segurança foi de quase US$ 98 mil.

    "Recentemente, o presidente entregou o Trump Hotel em Washington ao seu filho, mas o acordo diz que o bem está sendo mantido para o benefício exclusivo de Trump. As questões de ética seguirão o presidente durante todo o seu mandato", afirma Amey.

    Um possível conflito de interesses é justamente o que alegam os críticos que já defendem um pedido de impeachment de Trump. Uma petição online feita por duas organizações contava, até a última terça-feira (7), com mais de 655 mil assinaturas.

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