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    Premiê japonês joga golfe com Trump em resort do bilionário na Flórida

    JULIE HIRSCHFELD DAVIS
    DO "NEW YORK TIMES", EM WEST PALM BEACH (FLÓRIDA)

    12/02/2017 21h37

    As portas e janelas de uma suíte luxuosa de um dos resorts do presidente Donald Trump foram cobertas por plástico preto no sábado (11), enquanto Trump passava momentos descontraídos com o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, disputando partidas de golfe em um dia de tempo perfeito.

    As coberturas impediram jornalistas americanos e japoneses de vislumbrar os dois líderes no luxuoso campo particular de golfe em Jupiter, na Flórida.

    Mas assessores de Trump fizeram suas próprias fotos da cena amigável, postando nas contas do presidente nas redes sociais uma foto de Trump e Abe se cumprimentando com um gesto de "toca aqui!", com uma bandeira americana esvoaçando majestosamente no pano de fundo, para ser vista por seus milhões de seguidores.

    Cabinet Public Relations Office/Reuters
    O premiê japonês, Shinzo Abe, joga golfe com o presidente dos EUA, Donald Trump, na Flórida
    O premiê japonês, Shinzo Abe, joga golfe com o presidente dos EUA, Donald Trump, na Flórida

    "Divertindo-se para valer sendo anfitrião nos Estados Unidos do primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe!", disse o post de Trump.

    Foi esse, afinal, o objetivo de Trump ao convidar Abe para seu resort de Mar-a-Lago, em Palm Beach: a oportunidade de passar um fim de semana cheio de oportunidades de boas fotos, sendo anfitrião de um líder estrangeiro com quem ele já disse que quer desenvolver uma relação estreita.

    Isso possibilitou ao presidente fazer uso máximo de alguns momentos não previstos no protocolo, depois de um período inicial na Presidência marcado por conversas em clima antagônico com alguns líderes de outros países.

    O blecaute para a mídia não foi nada de incomum nos anais dos horários de lazer de presidentes. O presidente Barack Obama habitualmente jogava golfe longe dos olhares dos jornalistas que o acompanhavam, apenas ocasionalmente deixando que tivessem um vislumbre dele fazendo uma tacada ou interagindo com seus companheiros.

    Mas foi o fator mais recente a lembrar que Trump vem misturando seu papel oficial de presidente com os negócios que carregam seu nome.

    A visita de Abe foi a primeira de muitas em que, segundo os assessores mais próximos de Trump, ele vai utilizar Mar-a-Lago —mansão cor de rosa de 126 cômodos na Costa do Ouro da Flórida— como palco para forjar relacionamentos importantes com líderes mundiais.

    Isso provavelmente vai significar que o clube —além dos campos de golfe pertencentes a Trump situados nas proximidades, em Jupiter e West Palm Beach, onde o presidente levou Abe no sábado, ao lado do jogador profissional de golfe Ernie Els— vai chamar atenção redobrada, com todo o potencial de lucros adicionais que isso encerra.

    Mar-a-Lago dobrou o valor da joia que precisa ser paga por novos sócios, que subiu para US$ 200 mil.

    "Ficamos nos conhecendo muito, muito bem no campo de golfe", disse Trump a jornalistas na noite de sábado, ao lado de Abe e das mulheres dos dois líderes, a caminho de um jantar em Mar-a-Lago.

    Enquanto isso, uma fila de sócios do clube usando trajes formais conduzia seus carros Bentley e Rolls-Royce para a entrada, enquanto o luar iluminava as palmeiras.

    A administração americana disse que Trump recebeu Abe e sua mulher em seu clube como "presente" ao líder japonês e que quaisquer lucros auferidos com a estadia de membros de governos estrangeiros em propriedades de Trump durante sua Presidência serão doados ao Tesouro americano, para evitar a impressão de que ele está se beneficiando financeiramente de seu cargo.

    É possível que esse arranjo se torne frequente.

    "O presidente Trump é alguém que sabe fechar negócios. Ele sabe manejar relacionamentos pessoais e tentar convencer as pessoas a negociar de certas maneiras que o favorecem. É isso o que ele faz", disse a acadêmica Kathryn Dunn Tenpas, do Brookings Institution.

    Trump não é o primeiro presidente dos EUA a fazer uso de um local que era seu retiro pessoal para ali fazer diplomacia informal.

    George W. Bush recebeu líderes de outros países em seu rancho em Crawford, Texas, enquanto Bill Clinton usava Camp David, o retiro presidencial oficial em Thurmont, Maryland, como pano de fundo informal para esforços de alta diplomacia, incluindo esforços para forjar uma paz no Oriente Médio.

    No caso de Trump, porém, seu retiro também é um clube com fins lucrativos que beneficia seus negócios familiares, dos quais ele se negou a distanciar-se por completo.

    "É mais um exemplo do uso de seu cargo público para auferir lucros pessoais", comentou Richard W. Painter, que foi advogado da Casa Branca no governo de Bush e é especialista em ética governamental. "Está claro que a ideia é elevar o valor da marca Trump e transmitir a líderes estrangeiros que, se eles quiseram cair nas boas graças do presidente, devem frequentar propriedades de Trump."

    No sábado, Trump pareceu ter dado alguns passos para separar o pessoal do político. Enquanto ele e Abe eram levados de um campo de golfe a outro na limusine presidencial blindada conhecida como "The Beast" (A Besta), as bandeiras que normalmente tremulam no capô da limusine e os selos presidenciais que enfeitam as portas estavam ausentes, em um indicativo de que aquelas não eram escalas oficiais.

    Houve outros indícios de que a visita estava acontecendo quase exclusivamente em terreno pertencente a Trump. No Trump National Golf Club, em Jupiter, jornalistas que viajaram com o presidente foram instruídos a não fazer fotos ou vídeos. "É um clube particular", explicou um assessor.

    Tradução de CLARA ALLAIN

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