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    Trump é criticado por discutir crise internacional em restaurante aberto

    MICHAEL D. SHEAR
    MAGGIE HABERMAN
    DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

    14/02/2017 12h58

    O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump e seus principais assessores coordenaram sua resposta ao teste de míssil da Coreia do Norte no sábado (11) à plena vista de visitantes no resort Mar-a-Lago, na Flórida –uma notável exibição pública de atividade presidencial que quase sempre ocorre em ambientes altamente seguros.

    A cena –assessores debruçados sobre seus computadores e o presidente em seu celular no terraço do clube particular de Trump– foi captada por um sócio do clube que jantava ali perto e publicada em fotos em sua conta no Facebook. As imagens também mostram Trump conversando com seu convidado ao resort, o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe.

    Reprodução
    Post no Facebook mostra fotos de Donald Trump resolvendo crise de míssil da Coreia do Norte em mesa do resort de Mar-a-Lago acessível ao público - https://pbs.twimg.com/media/C4jxa6mW8AArs9A.jpg
    Post no Facebook mostra fotos de Donald Trump resolvendo crise de míssil em mesa de resort

    Pouco antes de o sócio Richard DeAgazio, que entrou para o clube recentemente, tirar suas fotos, a Coreia do Norte disparou um míssil balístico em um teste em seu litoral leste. DeAgazio postou as fotos no Facebook enquanto os dois líderes e suas equipes revisavam documentos e trabalhavam em seus notebooks, usando celulares como lanternas.

    "SANTA MÃE! Foi fascinante assistir ao vendaval de atividade durante o jantar quando chegou a notícia de que a Coreia do Norte tinha lançado um míssil na direção do Japão", escreveu DeAgazio mais tarde no Facebook, descrevendo como os dois líderes "conversaram e então foram para outra sala para uma entrevista coletiva convocada às pressas."

    "Puxa... no centro da ação!!!", escreveu DeAgazio no post. A cena em Mar-a-Lago foi relatada primeiramente pela emissora CNN. DeAgazio não respondeu a um telefonema para fazer comentários.

    O fato de o incidente de segurança nacional ter-se desenrolado à vista do público provocou uma rápida condenação de políticos democratas, que consideraram irresponsável Trump não ter levado sua conversa para um local mais seguro.

    "Não há desculpa para deixar uma crise internacional se desenrolar na frente de um bando de sócios do clube de campo, como um teatro-jantar", escreveu no Twitter a deputada Nancy Pelosi, da Califórnia, líder democrata na Câmara.

    Os senadores democratas Sheldon Whitehouse, de Rhode Island, e Tom Udall, do Novo México, pediram que o clube divulgasse uma lista de seus sócios e denunciaram o presidente na segunda-feira (13) por discutir abertamente o lançamento do míssil norte-coreano.

    "Isto é a política externa dos EUA, não o episódio desta semana de 'Saturday Night Live'", disseram os senadores em um comunicado. "Instamos nossos colegas republicanos a que comecem a levar a sério a conduta impulsiva e antiprofissional deste governo, antes que haja consequências que todos lamentaremos."

    Os senadores republicanos também pareciam perplexos com os atos do presidente. Marco Rubio, da Flórida, disse: "Geralmente esse não é um lugar onde se faz esse tipo de coisa". John McCain, do Arizona, mal conseguia encontrar palavras. "Não me conformo", disse.

    Michael J. Morell, um ex-diretor da CIA (agência central de inteligência) sob o presidente Barack Obama, declarou: "Todo presidente com quem trabalhei teria ido a uma sala privativa para ter o que era potencialmente uma conversa sigilosa."

    Trump estava em seu clube de campo Mar-a-Lago em Palm Beach, na Flórida –conhecido informalmente como a Casa Branca de inverno–, para um encontro pessoal com o primeiro-ministro japonês, incluindo um tempo com Abe no campo de golfe e um jantar com suas mulheres.

    Cabinet Public Relations Office/Reuters
    O premiê japonês, Shinzo Abe, joga golfe com o presidente dos EUA, Donald Trump, na Flórida
    O premiê japonês, Shinzo Abe, joga golfe com o presidente dos EUA, Donald Trump, na Flórida

    Por volta das 20h de sábado, os dois líderes apareceram para uma sessão de fotos rápida na entrada principal do clube. Trump ignorou uma pergunta que um repórter gritou sobre o teste de míssil norte-coreano, que tinha ocorrido cerca de uma hora antes.

    O presidente e seus convidados almoçaram no restaurante do clube nas duas horas seguintes e acabaram produzindo a movimentação de segurança nacional que DeAgazio fotografou. Por volta das 22h30, Trump e Abe fizeram declarações curtas para um pequeno grupo de repórteres levados a outra sala do resort.

    O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, disse a repórteres que Trump e Abe não tinham examinado material secreto no pátio do clube.

    Spicer disse que o presidente foi informado sobre a Coreia do Norte em um local seguro da propriedade. É contra a lei autoridades lidarem com material secreto em um ambiente não seguro.

    Spicer disse que Trump e seus assessores estavam revisando a "logística da entrevista coletiva" sobre o teste de míssil da Coreia do Norte.

    Mas veteranos em segurança nacional de governos anteriores ainda manifestaram surpresa de que Trump e sua equipe não tenham se retirado para conversar sobre a situação da Coreia do Norte e rever documentos secretos ou delicados.

    Discussões sobre como reagir a incidentes internacionais que envolvem adversários como a Coreia do Norte quase sempre são conduzidas em locais com proteção de alta tecnologia contra espionagem, como a Sala de Situação da Casa Branca.

    Quando os presidentes estão fora da Casa Branca, muitas vezes tratam de assuntos importantes em uma Instalação Compartimentada de Informação Delicada (SCIF na sigla em inglês), um local que pode ser arranjado temporariamente para ser imune a observadores.

    Tais instalações podem ser feitas permanentemente em lugares que o presidente visita com frequência, como Mar-a-Lago. E a equipe de comunicações viaja com o presidente aonde quer que ele vá para garantir que possa se comunicar em segurança em qualquer local.

    Além de publicar as fotos da conversa sobre a Coreia do Norte, DeAgazio divulgou imagens de si mesmo com uma pessoa que ele descreveu como assessor militar de Trump, responsável por carregar a "bola de futebol" nuclear –a maleta que contém códigos para o lançamento de armas nucleares.

    Depois que foram publicadas notícias sobre a conta de DeAgazio no Facebook, a conta foi deletada, juntamente com as fotos.

    Representantes do clube Mar-a-Lago não responderam a pedidos de comentários sobre o uso da rede social pelo conviva para publicar fotos do presidente.

    Traduzido por LUIZ ROBERTO M. GONÇALVES

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