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    Primeiro mês de governo Trump deixa Washington em estado de choque

    MICHAEL D. SHEAR
    DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

    15/02/2017 07h00

    A renúncia de Michael T. Flynn como assessor de Segurança Nacional, na noite de segunda-feira (13), veio coroar um primeiro mês altamente tumultuado na Casa Branca de Donald Trump.

    Os primeiros dias da Presidência foram carregados de escândalos, contestações legais, dramas envolvendo funcionários e questionamentos sobre o temperamento do presidente em suas interações com outros líderes mundiais.

    Saul Loeb/AFP
    O presidente dos EUA, Donald Trump, conversa com professores na Casa Branca na segunda (14)
    O presidente dos EUA, Donald Trump, conversa com professores na Casa Branca na segunda (14)

    General reformado do Exército, Flynn ficou só 24 dias no cargo, até admitir ter enganado o vice-presidente e outros colegas na Casa Branca sobre o teor de um telefonema que teve com o embaixador da Rússia nos Estados Unidos.

    Sua renúncia e a turbulência atual no Conselho de Segurança Nacional abalaram profundamente o establishment de Washington.

    O senador republicano John McCain, do Arizona, divulgou comunicado nesta terça (14) criticando a "disfunção" do aparato de segurança nacional do país.

    O general Tony Thomas, chefe do Comando de Operações Especiais das Forças Armadas, expressou sua preocupação com a turbulência presente na Casa Branca.

    "Nosso governo continua em estado de turbulência inacreditável. Espero que ele resolva a situação em breve, porque somos uma nação em guerra", ele disse em conferência militar na terça-feira.

    Indagado mais tarde sobre suas declarações, Thomas respondeu em uma entrevista breve: "Como comandante, minha preocupação é que nosso governo seja o mais estável possível".

    Mas a saída de Flynn, tarde da noite, veio apenas intensificar o clima maior de caos na Casa Branca.

    Em um prazo recorde, o 45º presidente provocou reações de indignação global com um decreto proibindo a entrada de viajantes de países muçulmanos.

    Dias depois demitiu sua secretária interina de Justiça por recusar-se a defender o decreto e viu tribunais reagirem rapidamente para obstruir a aplicação do decreto, qualificando-o como uso inconstitucional do Poder Executivo.

    O presidente cancelou furiosamente uma reunião marcada com o presidente mexicano, desligou na cara do primeiro-ministro da Austrália, autorizou uma operação de comandos que resultou na morte de um membro da unidade de SEALS da Marinha, mentiu repetidas vezes sobre a existência de milhões de votos fraudulentos que teriam sido depositados na eleição de 2016 e travou guerras no Twitter com senadores, o dono de um time esportivo, uma atriz de Hollywood e uma grande rede de lojas de departamentos. Suas palavras e ações geraram protestos quase diários pelo país afora.

    Apesar da turbulência, o presidente vem avançando em áreas mais típicas dos primeiros dias de um governo de primeiro mandato.

    Doze dias depois de ser empossado, Trump indicou um juiz para a Suprema Corte; ele já emitiu uma dúzia de ordens executivas, incluindo algumas para limitar a influência de lobistas, reduzir regulamentos, enxugar a Affordable Care Act (a lei de reforma da saúde legada por Obama), adiantar a construção de um oleoduto, acabar com acordos comerciais e aumentar as deportações de imigrantes ilegais.

    Mas metade de seu gabinete ainda não foi confirmada pelo Senado, controlado pelo Partido Republicano, e vários outros de seus assessores principais na Casa Branca viraram alvos de zombaria diária por humoristas em programas de TV.

    DESDE 1995

    Tudo isso deixou o establishment de Washington exausto e em choque, esforçando-se para entender e acompanhar a tempestade quase constante de atividade que gira em torno do presidente e seus assessores.

    "Tivemos o 'Obama sem drama'; agora temos o Trump que é só drama, o tempo todo", comentou o veterano estrategista republicano John Feehery, que comparou as últimas semanas ao início caótico do período em que New Gingrich presidiu a Câmara dos Deputados, em 1995.

    "Newt nunca se acalmou. Era sempre uma crise depois de outra", Feehery recordou. "Talvez esta se torne a nova normalidade. As pessoas vão se acostumar a ela, mas também ficarão exaustas com isso."

    Como candidato, Trump prometeu agir rapidamente para cumprir suas promessas. Um elemento central de sua agenda de campanha foi sua promessa de ser uma força que perturbaria o status quo em Washington —e isso é algo que ele vem fazendo, sem dúvida alguma.

    Mas as perturbações carregam um custo: o presidente avançou pouco até agora com uma legislação que possa revogar a lei de reforma da saúde de Obama.

    A Casa Branca não apresentou ainda uma lei prometida para reparar estradas, pontes e túneis deteriorados. E os assessores do presidente ainda não traçaram planos para uma reforma do código tributário nacional.

    "É bastante previsível", disse Feehery. "Esse homem nunca antes participou do governo. E prometeu perturbar o status quo."

    Tradução de CLARA ALLAIN

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