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    Crise econômica aflige equatorianos antes de eleição presidencial

    SYLVIA COLOMBO
    ENVIADA ESPECIAL A GUAYAQUIL

    16/02/2017 02h00

    O vencedor das eleições presidenciais do Equador, cujo primeiro turno será no próximo domingo (19), herdará um país cuja economia vem encolhendo desde 2015.

    Vão longe os anos de "boom das commodities", do crescimento do PIB na marca dos 7,9%, nos quais Rafael Correa gozava de picos de popularidade ao ter a possibilidade de aumentar o gasto social em programas de assistência.

    Mariana Bazo/Reuters
    Ambulantes vendem comida em comício de Guillermo Lasso; informalidade na economia chega a 39%
    Ambulantes vendem comida em comício de Guillermo Lasso; informalidade na economia chega a 39%

    Tal bonança, porém, chegou ao fim com a queda do preço do petróleo e a redução geral das exportações em mais de 10%, em 2016. Para piorar o quadro, um terremoto, em abril do ano passado, custou aos cofres públicos US$ 3 bilhões.

    Segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional), o Equador deve ser o único país da América Latina, ao lado da Venezuela, que em 2017 apresentará um crescimento negativo, por volta dos -2,7% —contando com certa recuperação de Brasil e Argentina.

    Outros indicadores também não são animadores. O desemprego aumentou, de 2015 para o ano passado, de 4,8% a 6,6%, e a informalidade hoje corresponde a 39% do mercado de trabalho. A palavra "ajuste", tão impopular, não se ouve da boca dos candidatos, mas sua necessidade é mencionada de modo generalizado quando se pergunta aos especialistas.

    "Retomar o caminho do crescimento levará tempo e os próximos anos serão difíceis porque demoramos muito para colocar em prática as ações corretivas que eram necessárias para a economia", diz o economista Juan Falconi Morales.

    Com tal cenário, não é difícil entender porque, então, as pesquisas colocam as preocupações com a economia como as principais dos equatorianos diante do próximo pleito.

    Segundo o Instituto Cedatos, 28% se dizem preocupados com os rumos econômicos do país e com a inflação, e 26% com o desemprego. A corrupção (19%) e a segurança (10%) ficam bem para trás.

    "Eu estou cansado de trabalhar na rua", diz o engraxate José Diáz, 63, que trabalha numa praça do centro de Guayaquil, cidade mais populosa do país.

    "Passei a vida assim. Vendi jornais, doces, e nos últimos anos aguentei e tive esperança porque Correa deu à minha família a possibilidade de que minha filha fosse à universidade. Agora até isso está em risco, porque se diz que as ajudas às famílias humildes vão acabar", resume.

    De fato, o governo Correa tem o mérito de ter conseguido reduzir a pobreza de 37%, em 2007, quando assumiu, para 23%, no ano passado, além de ter aumentado gastos com saúde e educação para os setores menos favorecidos. Essas conquistas, porém, estarão em risco caso a perspectiva de recessão se confirme.

    As dificuldades causadas pelo terremoto fizeram com que Correa aprovasse impostos extras à população, logrando aumentar a arrecadação geral, em 2016, em US$ 1 bilhão.

    As novas taxas —chamadas de "contribuições solidárias", ainda que obrigatórias— e o aumento, que era para ser temporário, do IVA, de 12% a 14%, são hoje muito impopulares e vêm contribuindo para o desgaste de sua imagem.

    Correa tem hoje 42% de aprovação popular —índice alto para a América Latina, mas não para seus padrões, que já chegaram aos 70%, em meados de seu período na Presidência.

    Para ajudar a cobrir os gastos, Correa também aumentou o endividamento do Estado, chegando a 38% do PIB, quase atingindo o topo do que permite a Constituição, de 40%. Isso, também, terá seu custo a médio prazo.

    Seu candidato, Lenín Moreno, não apresenta propostas consistentes de mudanças de rumo na política econômica. Mais à esquerda que Correa, nega que gastos sociais serão prejudicados, e aposta na manutenção das taxas e no endividamento, com a esperança de uma lenta recuperação do preço do petróleo.

    Seu principal adversário, Guillermo Lasso, é mais ousado nas propostas. Crê que é preciso "despetrolizar" a economia, oferecendo incentivos para diversificar a produção e o valor agregado das exportações. Também crê que os anos Correa foram de isolamento, e buscará tratados de livre-comércio e maior integração aos blocos comerciais da região.

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