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    Governo Trump

    Vazamentos geram atrito entre Trump e inteligência dos EUA

    ISABEL FLECK
    DE WASHINGTON

    18/02/2017 02h00

    No dia seguinte à posse, Donald Trump escolheu a sede da CIA (serviço secreto americano) para sua primeira aparição pública, onde disse "amar" e estar "1.000%" com a inteligência dos EUA. A ideia era tentar contornar o mal-estar gerado após um relatório da agência indicar, em dezembro, que a Rússia interferiu nas eleições para ajudá-lo.

    O tom elogioso, porém, não durou muito. Após vazamentos de informações sigilosas à imprensa nas primeiras semanas, Trump partiu para o confronto com a inteligência e disse que os autores das ações "criminosas" pagarão um "alto preço".

    "O verdadeiro escândalo aqui é que informação confidencial tem sido distribuída pela nossa 'inteligência' como se fossem doces", escreveu Trump, após a queda de seu conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn.

    O general renunciou depois de ter sido revelado que ele conversou sobre sanções com o embaixador russo nos EUA antes da posse.

    A promessa de caçar os autores dos vazamentos –que, segundo Trump, seriam partidários de Obama que permaneceram nos cargos– já começou a se materializar.

    Nesta semana, o "New York Times" divulgou que Trump planeja trazer Stephen Feinberg, cofundador do fundo americano Cerberus, para fazer uma "revisão" das agências de inteligência.

    Para especialistas ouvidos pela Folha, o presidente tem direito de contestar os vazamentos, mas há dúvidas sobre se tudo o que vazou à imprensa deveria ser classificado como confidencial.

    "Vazar informações confidenciais é crime, mas há uma série de coisas marcadas como confidenciais que não deveriam ser", afirma o especialista Joseph Young, da American University.

    "Há uma diferença entre o que é tema sensível –que pode tornar os EUA menos seguros– e o que é confidencial –cujo vazamento não é um grande problema."

    Gary Schmitt, do think tank conservador American Enterprise Institute, considera ilegal tanto o vazamento das informações sobre o telefonema de Flynn ao embaixador russo como a gravação.

    Para ele, o presidente tem o direito de ir atrás dos autores dos vazamentos e processá-los. "A pergunta que Trump tem que se fazer é se, ao fazer isso, vai romper com a comunidade de inteligência, da qual ele precisa para ter sucesso", diz Schmitt. "O problema é que ele não acredita que precise dela."

    Se Trump tem receio da inteligência, a recíproca se aplica também. Segundo o "Wall Street Journal", funcionários de inteligência teriam revelado que informações sensíveis não estariam sendo repassadas ao presidente por medo de que sejam vazadas. O diretor da CIA, Mike Pompeo, indicado por Trump, negou.

    Para Stephen Slick, diretor do Projeto de Estudos de Inteligência da Universidade do Texas, esconder informações do presidente seria "contrário à lei" –o que ele diz duvidar que esteja ocorrendo. "Nossa inteligência existe para servir à necessidade de informação do presidente."

    Porém, se Trump continuar ameaçando a comunidade de inteligência, afirma Young, é possível que essa relação piore. "O efeito é que os funcionários continuem não se reportando ao presidente."

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