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    Eleição presidencial põe capital contra costa do Equador

    SYLVIA COLOMBO
    ENVIADA ESPECIAL A QUITO

    19/02/2017 02h00

    Dolores Ochoa/Associated Press
    Election workers prepare electoral kits for the upcoming elections, in Quito, Ecuador, Friday, Feb. 17, 2017. Ecuadoreans will elect a new president, vice-president and National Assembly alongside a referendum on tax havens on Sunday. (AP Photo/Dolores Ochoa) ORG XMIT: DOR105
    Funcionárias preparam kits para as eleições no Equador

    Pouco mais da metade do eleitorado equatoriano está polarizado entre dois candidatos. O governista Lenín Moreno, 63, que tem 32,3% das intenções de voto, concorre com o banqueiro Guillermo Lasso, 61, que tem 21%, segundo os últimos dados do instituto Cedatos —o mais confiável num país com um histórico de pesquisas eleitorais com problemas.

    A mesma empresa, porém, aponta para mais de 40% de eleitores indecisos, deixando o panorama da votação deste domingo (19) em aberto.
    O clima eleitoral nos dois principais polos de votação do país, Guayaquil e Quito, são bons exemplos dessa divisão e incerteza.

    "Ganhe no primeiro turno", repetia de modo insistente, como grito de guerra, a multidão que apoiava Lenín Moreno em seu último comício de campanha na capital equatoriana, onde o atual presidente, Rafael Correa, registra grande apoio —embora ele tenha nascido na costa.

    "Se Lenín não levar no primeiro turno, vão comê-lo vivo no segundo. E aí se acabou o governo para os pobres", afirmou à Folha o vendedor ambulante Sebastián Chiriboga, 46, que compareceu ao comício numa noite fria e chuvosa de Quito levando sua bandeira do Alianza País, partido de Correa e Moreno.

    Em sua linguagem coloquial, o comerciante dizia o mesmo que os principais analistas políticos vêm repetindo: se houver segundo turno, a anunciada aliança entre os partidos de direita pode catapultar Lasso para a vitória.

    Para que a eleição termine neste domingo (19), é necessário que o primeiro colocado tenha 50% dos votos mais um, ou 40%, com uma vantagem de dez pontos percentuais sobre o segundo colocado. Caso isso não aconteça, os equatorianos voltarão às urnas no dia 2 de abril. O voto é obrigatório.
    A eleição renova também as 137 cadeiras da Assembleia Nacional (o Poder Legislativo do país é unicameral). Atualmente, o Alianza País tem expressiva maioria na Casa (100 membros).

    OPOSIÇÃO
    A oposição ao chamado "correísmo" concentra-se, principalmente, na região costeira, mais populosa. São de Guayaquil os dois candidatos de direita que querem colocar um ponto final na chamada "Revolução Cidadã" —a versão equatoriana do "socialismo do século 21" venezuelano. O banqueiro Guillermo Lasso, que ficou em segundo lugar contra o próprio Correa em 2013, e a ex-congressista Cynthia Viteri, atualmente com 11% das intenções de voto.

    Ambos têm plataformas parecidas: derrubar leis protecionistas, cortar os novos impostos criados durante o "correísmo", acabar com as leis que limitam a atuação da imprensa e diminuir o gasto social. Também são parecidos do ponto de vista moral, ambos são contra o matrimônio gay e o aborto (não permitidos pela lei).

    "Na costa nos sentimos distantes das bandeiras desse atual governo. Somos mais pragmáticos, queremos uma economia mais ágil. É correto ajudar os pobres e os camponeses indígenas, distribuir benefícios e criar hospitais, reconhecemos que Correa fez isso. Mas também é preciso criar mais empregos e modernizar o país", diz Juan Molina, 59, dono de um restaurante em Guayaquil.

    O candidato governista acena com a garantia de manutenção dos planos sociais e dos impostos criados por Correa para viabilizá-los. Apesar de se considerar "ainda mais à esquerda" do padrinho político, não adota um discurso populista. Tem perfil conciliador e aposta no trabalho em equipe, ao contrário do atual presidente, mais centralizador. Também afirma que diminuirá a pressão contra a imprensa.

    CORRUPÇÃO
    Apesar de os escândalos da Odebrecht e da Petroecuador (petrolífera estatal acusada de desvio de verbas) afetarem Moreno, os institutos de pesquisa relativizam a importância da corrupção na decisão final do eleitor.

    Segundo o instituto Cedatos, a corrupção é a principal preocupação para 18% dos equatorianos.

    "Eu não creio que a corrupção seja um fator predominante para as classes mais baixas, que não sabem direito o que isso significa. A corrupção choca os que têm acesso à informação. Para a população em geral, é mais importante a ideia de ter um pai da pátria, como era Correa", disse à Folha o escritor e analista do jornal "El Comercio" Oscar Vela.

    Já para a professora equatoriana Gabriela Polit, da Universidade do Texas, "há um cansaço generalizado com o 'correísmo', mas, ao mesmo tempo, uma dificuldade em sair dele por falta de opções".

    Além de Moreno, Lasso e Viteri, ainda concorrem no pleito outros cinco candidatos oposicionistas.

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