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    Grupos pró e contra Trump levam disputa política às compras

    ISABEL FLECK
    DE WASHINGTON

    20/02/2017 02h00

    Brendan McDermid/Reuters
    People gather to protest outside the Uber offices in Queens, New York, U.S., February 2, 2017. REUTERS/Brendan McDermid ORG XMIT: NYK505
    Ato contra a Uber em NY; empresa foi acusada de tentar lucrar em meio à disputa política

    Com dólares nas mãos, seis mulheres entram numa loja Nordstrom em Chandler, no Arizona, para cancelar suas contas. Uma delas chega no caixa e anuncia: "por causa da sua decisão de descartar Ivanka Trump, eu não vou mais comprar na sua loja". "Nem meu marido, nem nossos nove filhos e oito netos", completa Laurie Ray, que diz ter sido funcionária da marca e, por 30 anos, sua cliente.

    A ação, na última semana, foi toda gravada e o vídeo viralizou nas redes sociais. Segundo Jeannie Guthrie, que também participou do ato em protesto, a intenção era que o vídeo fosse divulgado só entre os amigos e as famílias, mas seu sucesso é prova de como também comprar virou um ato político durante o governo Trump.

    "Estou emocionada em ver que não estamos sozinhas nesta causa e que milhares e milhares de outras pessoas estão fazendo o mesmo que nós", disse Guthrie.

    A Nordstrom virou o principal alvo dos apoiadores de Trump depois que ele escreveu em sua conta no Twitter (e replicou a mensagem na conta oficial do presidente) que Ivanka tinha sido tratada "injustamente" pela marca, que decidiu parar de vender a linha de roupas e acessórios da filha.

    A polêmica ainda envolveu uma das principais assessoras de Trump, Kellyanne Conway, que em entrevista ao vivo pediu que as pessoas continuassem comprando online os produtos da filha do presidente.
    A Nordstrom justificou a decisão dizendo que os vestidos, sapatos e bolsas de Ivanka vendiam pouco (teriam caído 32% no último ano).

    Para a família Trump, contudo, a marca teria se rendido a um movimento de boicote, divulgado nas redes sociais sob a hashtag #grabyourwallet (agarre sua carteira, em inglês), numa referência à frase "grab them by the pussy", dita por Trump há alguns anos -quando afirmou que "agarrava" as mulheres por suas partes íntimas.

    No site para divulgar o boicote, que teve início antes mesmo da eleição, são listadas as "dez principais empresas" a serem evitadas, entre elas Macy's, Bloomingdale's, Amazon e Bed, Bath and Beyond -todas por "venderem produtos da família Trump".

    Há, no entanto, mais de 50 empresas "fichadas", seja por comercializar a marca Trump, seja por um de seus representantes ter apoiado o presidente de alguma forma.

    Para quem quiser fazer mais do que só segurar a carteira, o site oferece os telefones de atendimento ao consumidor e da matriz de cada empresa para que sejam feitas reclamações, além dos e-mails de atendimentos das assessoria de imprensa.

    Segundo os organizadores do boicote, pelo menos 19 empresas teriam cortado sua ligação com Trump e com marcas de sua família —entre elas, a Nordstrom.

    O Uber também se tornou alvo após ser acusado de tentar lucrar quando taxistas de Nova York pararam em meio a protestos contra o decreto de Trump que vetava a entrada no país de refugiados e imigrantes.

    Movimentos como esse, porém, geraram reações tão enfurecidas quanto, sob hashtags como #buyivanka (compre Ivanka). Quem não aderiu ao boicote anti-Trump foi então premiado por apoiadores do presidente.

    O perfume Ivanka Trump, de US$ 39, se tornou, por exemplo, o produto de beleza mais vendido na última semana na Amazon. No mesmo site, a cantora Joy Villa viu seu álbum "I Make the Static" ser catapultado da posição 534.202 para a 2a posição —à frente do popstar Bruno Mars— entre os álbuns mais baixados, após usar um vestido com o slogan de Trump "Make America Great Again" na premiação do Grammy.

    A Macy's, maior loja de departamento dos EUA, também continua vendendo a linha de Ivanka -apesar da pressão popular e de já ter parado de vender, em 2015, roupas masculinas da linha Donald Trump após ele afirmar que imigrantes mexicanos eram "assassinos e estupradores".

    A razão seria a procura. Segundo levantamento da consultoria Jumpshot, que monitora o tráfego online para empresas, a busca por produtos Ivanka Trump cresceram 18% no site da Macy's só entre dezembro e janeiro.

    A cliente identificada apenas por Pammy K., que comprou um vestido Ivanka preto por US$ 130 para um casamento, é uma das que agradeceu, no site, a decisão da loja. "Eu simplesmente amei o vestido. Tão feliz que a Macy's ainda vende a linha de roupas da Ivanka!"

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