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    OPINIÃO

    Trump e 'brexit' inviabilizaram estratégia de Serra no Itamaraty

    MATHIAS DE ALENCASTRO
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    23/02/2017 15h37

    Ao assumir o Ministério das Relações Exteriores, José Serra tinha desenhado um cenário ideal:
 depois de anos à deriva, a política externa brasileira voltaria aos eixos.


    A aproximação com o governo da presidente americana Hillary Clinton e a União Europeia, finalmente recuperada da crise da zona do euro, reposicionariam o Brasil na arena global. 


    O investimento estrangeiro desempenharia um papel importante na recuperação da economia. Às vésperas de um novo ciclo eleitoral, o regresso do crescimento ficaria intrinsecamente associado à ação do ministro das Relações Exteriores. 


    Alan Marques - 12.ago.2016/Folhapress
    O então ministro das Relações Exteriores José Serra no Itamaraty, em agosto do ano passado
    O então ministro das Relações Exteriores, José Serra, no Itamaraty, em agosto do ano passado

    O realinhamento com o Atlântico Norte distanciaria o Brasil da cooperação Sul-Sul, o que levaria ao desmantelamento da diplomacia brasileira na África. Uma decisão que seria disfarçada em uma operação de redução do número de embaixadas. 


    Mas nada saiu como previsto. A chegada ao poder de Donald Trump nos Estados Unidos e a crise de governabilidade da União Europeia deflagrada pela saída do Reino Unido inviabilizaram as tentativas de ampliar as relações no curto prazo. Esses acontecimentos, tão imprevisíveis como estrondosos, colocaram em xeque a estratégia do Itamaraty.

    Ao contrário de Serra, o seu sucessor assumirá o cargo com perfeita noção do que vem pela frente. Um cenário internacional de relações pautadas por Estados-nações em vez de organizações multilaterais, num contexto caracterizado pelo nacionalismo político, econômico e militar.

    Caberá ao próximo chanceler a decisão de insistir no caminho quixotesco de aproximação com países desenvolvidos cada vez mais fechados em si mesmo, ou aprofundar as relações do Brasil com outras potências emergentes. 


    No final das contas, a diplomacia brasileira parece condenada a apostar na cooperação Sul-Sul, independentemente das considerações políticas e ideológicas do seu futuro líder.

    MATHIAS DE ALENCASTRO é doutor em Ciência Política na Universidade Oxford

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