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    Jornalista há mais tempo preso no mundo é libertado no Uzbequistão

    RAFAEL GREGORIO
    DE SÃO PAULO

    24/02/2017 07h00

    Divulgação/Human Rights Watch
    O jornalista Muhammad Bekjanov foi solto após ficar quase 18 anos na prisão por oposição a ditador
    O jornalista Muhammad Bekjanov foi solto após ficar quase 18 anos na prisão por oposição a ditador

    O jornalista Muhammad Bekjanov foi libertado nesta quarta-feira (22), no Uzbequistão, após quase 18 anos na prisão.

    Segundo as ONGs Human Rights Watch e a Repórteres sem Fronteiras, ele é o jornalista que mais tempo ficou preso em todo o mundo por razões ligadas à repressão política.

    Bekjanov era membro do partido de oposição Erk (Liberdade) e editor de um dos maiores jornais independentes do país à época.

    Ele foi preso em 1999, em Kiev, na Ucrânia, onde se exilara dois anos antes, na sequência de uma série de atos repressivos ordenados pelo então ditador, Islam Karimov (1938-2016), contra opositores.

    Karimov foi o primeiro —e, até sua morte, o único– mandatário uzbeque.

    Ele assumiu o poder em 1991, após a independência do Uzbequistão, na sequência do colapso da antiga União Soviética.

    Ficou conhecido pelo autoritarismo e por suprimir direitos de opositores em nome do combate ao extremismo islâmico no país de maioria muçulmana.

    Detido sem direito a defesa, segundo reportagens da época, e enviado à força de volta ao país, Bekjanov foi condenado a 30 anos de prisão sob a acusação de planejar um atentado contra Karimov.

    Sigiloso, o julgamento se deu em meio a relatos do acusado e de entidades de que o jornalista havia sido torturado com choques elétricos, espancamento e sufocamento para confessar o crime.

    Divulgação/Human Rights Watch
    Muhammad Bekjanov (à esq.), após sair da cadeia no Uzbequistão; ele estava preso desde 1999
    Muhammad Bekjanov (à esq.), após sair da cadeia no Uzbequistão; ele estava preso desde 1999

    DESCASCAR CENOURAS

    Bekjanov é o quarto prisioneiro político libertado no Uzbequistão desde a morte de Karimov, em agosto de 2016.

    Na campanha que o levou ao poder, o atual presidente do país, Shavkat Mirziyoyev, prometeu reformar o sistema de Justiça local e resguardar direitos e garantias dos cidadãos.

    O país ainda tem dezenas de presos políticos, incluindo um colega de Bekjanov, o também jornalista Yusuf Ruzimuradov, condenado sob semelhante acusação.

    Ambos já teriam direito à liberdade há anos, segundo as regras processuais uzbeques, mas tiveram as sentenças ampliadas em diversas oportunidades sob acusações contestadas pela oposição, como a de "falhar ao descascar cenouras".

    Em dezembro, o Comitê para a Proteção dos Jornalistas, nos Estados Unidos, denunciou que ele havia sido transferido para uma cela solitária.

    Em entrevista à rede britânica BBC, em 2014, a filha do jornalista, Aygul Bekjanova, relatou que na última vez em que sua mãe foi autorizada a visitá-lo, dois anos antes, Bekjanov sofria de tuberculose e não tinha a maioria dos dentes.

    Ambas vivem exiladas nos Estados Unidos, para onde Bekjanov deve, agora, solicitar autorização para viajar.

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