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    Emirados se consolidam como potência com ajuda de Trump

    DIOGO BERCITO
    ENVIADO ESPECIAL A DUBAI

    26/02/2017 02h00

    Kamran Jebreili/AP
    FILE- In this Tuesday, Dec. 20, 2016 file photo, an employee fixes a flag post on the green at the Trump International Golf Club, in Dubai, United Arab Emirates. Dubai's DAMAC Properties tells The Associated Press it offered deals to U.S. President-elect Donald Trump's firm worth some $2 billion, but the Trump Organization turned them down. (AP Photo/Kamran Jebreili, File) ORG XMIT: ARE102
    Funcionário fixa bandeira no campo de Trump em Dubai

    O sobrenome do presidente americano, Donald Trump, está espalhado por todo o emirado árabe de Dubai. A palavra, dependurada em outdoors nas principais avenidas, não anuncia outro famigerado veto à entrada de muçulmanos nos EUA, mas um sinal verde: o campo de golfe inaugurado no dia 18 com a presença de dois filhos do magnata.

    O gramado é o primeiro empreendimento de Trump inaugurado após a posse e poderá ser um símbolo das boas relações americanas com os Emirados Árabes, dos quais o presidente deve se aproximar durante o seu mandato.

    Há uma série de interesses em comum entre Trump e os príncipes de Dubai e Abu Dhabi, como o combate à facção terrorista Estado Islâmico e a repulsa ao acordo nuclear travado com o Irã durante a administração do democrata Barack Obama.

    "A administração republicana é bem-vinda depois de oito anos de governo democrata, durante os quais os EUA negociaram em segredo com o Irã sem consultar seus aliados no Golfo", diz à Folha Sultan al-Qassemi.

    Qassemi, criador da fundação de arte Barjeel, é um dos principais analistas políticos dos Emirados Árabes.

    PODER
    A parceria com Trump coincide com o fortalecimento dos Emirados Árabes como potência regional, aproveitando-se da instabilidade da Síria e do Iraque e da crise econômica no Egito.

    Os Emirados, movidos por uma das principais reservas de petróleo do mundo, espalham sua influência em dois eixos: intervenções militares e investimentos culturais.

    O país combate o Estado Islâmico na Síria e já foi chamado pelo Exército norte-americano de "pequena Esparta", referindo-se à região grega conhecida na Antiguidade pela proeza bélica.

    Em paralelo, Abu Dhabi deve em breve abrir uma "filial" do Museu do Louvre e entregará, em abril, um influente prêmio literário para o melhor romance árabe publicado durante 2016.

    "Notamos nos últimos dois anos o aumento no número de representantes globais que visitaram Abu Dhabi", diz Qassemi. "Dificilmente há uma semana sem que um líder internacional faça uma parada na capital."

    Entre os visitantes recentes constam o chanceler russo, Sergei Lavrov, e o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), que passou pelos Emirados Árabes em busca de investidores para o seu programa de privatizações.

    Os Emirados intervieram, nos últimos anos, em países como Líbia, Egito, Bahrein e Iêmen, com avanços também no mar Vermelho. A estratégia tem como um de seus objetivos frear os avanços do Irã, principal rival na região.

    "Os Emirados levam bastante a sério o desenvolvimento de suas capacidades militares para superar limitações demográficas e geográficas", diz Hussein Ibish, analista sênior do Instituto dos Estados do Golfo Árabe em Washington.

    Os principados têm 9,3 milhões de habitantes, dos quais só 13% detêm a cidadania. Os demais são, em sua maioria, expatriados do leste asiático.
    O Irã, cuja população ultrapassa os 77 milhões, é visto pelos Emirados como uma "ameaça existencial e imediata", segundo Ibish, avaliação que pode ser compartilhada por Trump.

    FORTALECIMENTO
    Outro eixo da política externa dos Emirados é o combate a movimentos islamitas de diversas gradações, desde a Irmandade Muçulmana até o EI, no que pode também coincidir com o interesse dos EUA.

    Outros atores regionais, como o Qatar, são acusados de financiar grupos na Síria.

    "A participação dos Emirados em operações para minar a presença de islamitas na região é algo que se encaixou, até agora, com as prioridades americanas", diz Barah Mikail, diretor da consultoria internacional Stractegia e professor da Universidade Saint Louis de Madri. "A cooperação entre os países se fortalecerá."

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