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    Pesquisador diz que plano energético de Donald Trump é 'equivocado'

    SOLANGE REIS
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM SYDNEY

    26/02/2017 02h00

    Donna Carson/REUTERS
    FILE PHOTO - Refinery workers walk inside the LyondellBasell oil refinery in Houston, Texas March 6, 2013. REUTERS/Donna Carson/File Photo ORG XMIT: TOR620
    A refinaria de petróleo Lyondell Basell, em Houston (EUA)

    A política de energia de Donald Trump promete fazer do futuro uma realidade, mas poderá levar o país ao passado. Essa é a avaliação de John Mathews, professor de inovação e estratégia na Macquarie University, em Sydney.

    Em entrevista à Folha, ele afirma que o plano de Trump de se concentrar em fontes de energia como petróleo, gás e carvão, minimizando os riscos geopolíticos da dependência externa, pode acabar entregando a liderança global a seu inimigo declarado: a China.

    O pesquisador australiano é autor do livro "Global Green Shift: When Ceres Meets Gaia" (Transição Verde Global: Quando Ceres Encontra Gaia, editora Anthem Press), ainda não lançado no Brasil.

    *

    Folha - Trump prometeu salvar a indústria de carvão, aumentar a produção de recursos fósseis e acabar com regulamentações ambientais. O que há de errado nesse plano?

    John Mathews - Não existe qualquer chance de Trump tornar a América grande novamente se ignorar a transição verde que já está acontecendo em outros países.

    A mudança para um paradigma de energia limpa é o segredo para a liderança industrial no futuro.

    O país que menosprezar a fabricação de energia renovável dá as costas para uma nova fase do capitalismo industrial.

    O que ganha um Estado ao estimular a transição verde?
    Em primeiro lugar, recursos fósseis limitam o crescimento. Não por serem fontes esgotáveis, mas pelas questões geopolíticas e ambientais.
    Veja o caso de países superpopulosos como China e Índia. Se quiserem continuar crescendo sob um paradigma de energia tradicional, terão que arcar com os custos de poluição e de segurança militar. Em segundo lugar, a transição verde significa que o país fabrica sua própria energia. E aumenta a competitividade industrial.

    Quais países avançaram na transição energética?
    Há o caso da Alemanha e especialmente dos países emergentes, incluindo o Brasil.

    Atualmente, a China lidera essa corrida. O país tem as taxas mais elevadas em termos de investimentos, capacidade instalada e produção de equipamentos de energia renovável. É um caso bem-sucedido de parceria público-privada, com direção estatal e bancos estatais de desenvolvimento.

    Além de desenvolver o setor, a China avançou no que eu chamo de mineração urbana, reutilizando o descarte de outras indústrias e setores.

    Petróleo e segurança internacional se confundem com a hegemonia americana. Mesmo que ignorar a transição verde seja ceder a vez na inovação industrial, pode-se entender a opção pela importância da geopolítica para o status quo dos EUA?

    Você pode ver a questão por esse lado, mas ainda assim é miopia estratégica. A China estava na vanguarda da inovação tecnológica e das expedições marítimas até que a dinastia Ming optou pelo isolacionismo no século 14.

    Este erro abriu o mundo à Europa e impôs à China séculos de humilhação e atraso.

    Os EUA podem estar cometendo o mesmo erro e, se Trump adotar uma doutrina isolacionista, pode entregar a liderança global à China, especialmente no que diz respeito à energia.

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