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    Equador mostrou estar cansado de autoritarismo, afirma jornalista

    SYLVIA COLOMBO
    DE BUENOS AIRES

    27/02/2017 02h00

    Um dos jornalistas equatorianos que mais sofreram com a pressão do presidente Rafael Correa sobre os meios de comunicação opositores ao governo foi Fernando Villavicencio, 50.

    Especializado em investigações sobre corrupção vinculada à exploração de petróleo e mineração, Villavicencio viu sua casa ser invadida, no fim de 2013, por policiais e funcionários da Presidência.

    Notimundo
    O jornalista Fernando Villavicencio, que assessorou o opositor Guillermo Lasso na eleição no Equador
    O jornalista Fernando Villavicencio, que assessorou o opositor Guillermo Lasso na eleição no Equador

    A causa havia sido o fato de ele ter trazido à tona evidências do envolvimento ilícito de empresários aliados ao governo na intermediação da venda de petróleo equatoriano à China.

    Depois de levarem seu computador, o jornalista teve prisão preventiva decretada, sob a acusação de hackear informações confidenciais do Estado, e foi condenado a pagar uma multa de cerca de US$ 50 mil.

    Declarado insolvente, teve embargado todos os seus bens, e decidiu se exilar dentro do próprio país.

    Desde então, legalmente ele é considerado foragido da Justiça e está escondido em território equatoriano. Mas segue trabalhando.

    Além de continuar a publicar suas reportagens nos meios digitais Focus e Planv, faz parte da campanha de apoio ao oposicionista Guillermo Lasso e tentou candidatar-se à Assembleia (órgão unicameral que exerce o poder Legislativo no país), mas teve sua participação impugnada pela Justiça eleitoral.

    Leia a entrevista que Villavicencio concedeu à Folha, por meio de teleconferência.

    *

    Eleição presidencial

    O governo tinha assegurado que ganharia num primeiro turno. Para Correa, era impensável que houvesse um segundo turno. Foi uma de suas maiores derrotas e o começo do fim desse regime. Agora, o "correismo" deve tentar recuperar algo desse 60% da população que decidiu dizer "não" a ele. E isso vai ser muito difícil.

    Candidatura de Lasso

    O chamado de atenção do dia 19 de fevereiro não foi apenas para Correa, mas também para Guillermo Lasso. O que os equatorianos disseram através do voto é que estão cansados de autoritarismo, de um poder Executivo centralizador e da corrupção. Mas isso vale também para a oposição.

    Creio que Lasso agora terá de se abrir mais em termos programáticos, para incluir em sua base de eleitores aqueles que estão insatisfeitos com o "correismo" pelo lado da esquerda e do centro. Precisa, também, amenizar o estigma do candidato banqueiro.

    O melhor seria que propusesse, logo de cara, um governo de coalizão, e que se mostrasse aberto a incluir em seu projeto as exigências dos outros atores políticos.

    Lasso se comprometeu a uma ideia que apresentei de montar uma espécie de comissão da verdade, para apurar o que houve de corrupção nesses dez anos, isso inclui a questão da Odebrecht e muitas outras denúncias.

    Há um setor que precisa ser incluído em sua proposta, porque foi abandonado pelo "correismo", que são os indígenas. Que lhes seja permitido opinar sobre as decisões já tomadas de concessões de suas terras à exploração mineradora. Eles precisam ser chamados a consulta sobre isso, porque perderam voz política nos últimos anos.

    Conservadorismo

    Lasso é um homem religioso e conservador, e pessoalmente é contra o aborto. Mas ele vem mudando seu modo de ver essas questões do ponto de vista político.

    Pelas suas últimas declarações, vejo que vem tentando deixar claro que suas crenças pessoais não vão interferir nas tomadas de decisão nesse sentido, se elas forem um desejo da sociedade.

    Possível governo Lasso

    Creio que a Assembleia vá ser um dos problemas em que Lasso [se eleito presidente] terá de colocar o foco. Num primeiro momento, é necessário restabelecer a independência dos poderes e das instituições, algo que se perdeu nos anos de Correa, em que tudo concentrou-se no Executivo.

    Quanto ao Parlamento, se ele vencer, contará com a legitimidade do voto popular para fazer alianças e negociar, e isso faz parte do jogo democrático.

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