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    Governo Trump

    'Efeito Rússia' amplia críticas contra Trump, que vê 'caça às bruxas'

    ISABEL FLECK
    DE WASHINGTON

    04/03/2017 02h00

    Uma "caça às bruxas". A definição dada nesta sexta (3) por Donald Trump para a sequência de revelações sobre contatos de sua equipe com Moscou não chega a ser novidade, mas agora foi adotada também pelos russos.

    O chanceler russo, Sergei Lavrov, disse nesta sexta que os escândalos recentes, que já levaram à queda do conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn, e têm motivado pedidos de renúncia do secretário de Justiça, Jeff Sessions, são a "lembrança da caça às bruxas e do macarthismo, que todos pensamos que já tinha acabado".

    Nicholas Kamm - 2.mar.2017/AFP
    Protesto em Washington pede a renúncia do secretário de Justiça americano, Jeff Sessions
    Protesto em Washington pede a renúncia do secretário de Justiça americano, Jeff Sessions

    Na quinta (2), Sessions anunciou que se afastaria das investigações sobre a relação da equipe de campanha de Trump com o Kremlin após vir à tona a informação de que ele se reuniu com o embaixador russo em Washington, Sergei Kislyak, duas vezes em 2016. Em sabatina para sua confirmação no Senado, disse que não manteve comunicação com os russos.

    Para os democratas, contudo, só o seu afastamento das investigações não é suficiente, e, nesta sexta (3), muitos parlamentares continuaram pedindo sua saída.

    "Sessions não disse nada de errado. Poderia ter dado uma resposta mais precisa, mas claramente não foi intencional", disse Trump, que acusou a oposição de usar isso mais uma vez para mascarar a derrota na eleição.

    Trump ainda alfinetou os parlamentares democratas Chuck Schumer e Nancy Pelosi por terem mantido encontros com líderes russos. Em um tuíte, o presidente postou a foto do senador comendo donuts com o presidente russo, Vladimir Putin.

    Em outro, publicou a reportagem do site Politico dizendo que Pelosi, líder da minoria democrata na Câmara, mentiu em uma entrevista ao dizer que nunca tinha se encontrado com o embaixador russo, Sergey Kislyak. A reportagem traz a imagem de um encontro com os dois.

    "Peço uma segunda investigação, depois da de Schumer, sobre os laços próximos de Pelosi com a Rússia, e de mentir sobre isso", escreveu.

    O senador respondeu ao tuíte dizendo que o encontro foi em 2003, em frente às câmeras, e desafiando Trump a mostrar os encontros de sua equipe com os russos.

    A proximidade com a Rússia é um tema espinhoso para Trump, principalmente depois que relatórios da inteligência americana mostraram que houve interferência de Moscou no vazamento de mensagens de lideranças democratas antes das eleições para favorecer o republicano.

    Durante essa investigação, os agentes teriam ainda descoberto vários contatos entre a equipe de campanha de Trump e integrantes do governo russo —não ficou comprovado, contudo, qualquer ligação de assessores de Trump com os vazamentos.

    Assim que Flynn caiu, Trump já havia acusado a imprensa e os vazamentos de informações sobre os contatos com Moscou por uma eventual piora nas relações com o presidente russo.

    Segundo o republicano, até mesmo a recente reativação de mísseis por parte de Moscou —uma aparente violação do tratado de controle de armas entre os dois países— teria sido um movimento de Putin diante de uma relação que já não vai tão bem.

    O problema é que, apesar de Trump ter manifestado durante a campanha o interesse em se aproximar da Rússia, ele ainda não tem feito movimentos nessa direção.

    As sanções impostas ao país tanto por causa dos vazamentos nas eleições americanas quanto pela interferência na Ucrânia, por exemplo, continuam em vigor.

    Possivelmente, o barulho em torno do contato com os russos também deve adiar uma maior aproximação oficial com o Kremlin. Nesse jogo, o grande pivô dos escândalos, o embaixador russo em Washington, deve ficar na geladeira por um tempo.

    Além de Sessions e Flynn, Kislyak teria se encontrado também com o genro e assessor de Trump, Jared Kushner, e os ex-assessores de Trump Carter Page e J.D. Gordon.

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