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    Crise econômica e repressão fazem venezuelanos buscar solo uruguaio

    SYLVIA COLOMBO
    ENVIADA ESPECIAL A MONTEVIDÉU

    05/03/2017 02h00

    "Quando saímos do consulado em Caracas com os papéis, meu marido e eu nos abraçamos no elevador. No térreo, tinha uma estátua do Artigas, que eu nem sabia quem era [o prócer da independência uruguaia]. Eu disse: vou aprender tudo sobre você para agradecê-lo", conta a venezuelana Maria Eugenia Contreras, 32.

    Advogada e mãe de dois filhos, Contreras diz que a decisão de ir para o Uruguai foi planejada por dois anos, quando o governo de Nicolás Maduro começou a endurecer mais, e a escassez de alimentos chegou aos bairros de classe média alta.

    Federico Gutierrez/Folhapress
    A venezuelana Maria Eugenia Contreras passeia pelo bairro de Pocitos, onde mora em Montevidéu
    A venezuelana Maria Eugenia Contreras passeia pelo bairro de Pocitos, onde mora em Montevidéu

    A escolha do Uruguai veio depois de descartar países vizinhos que o casal considerava instáveis. "Ainda não sabemos se a paz na Colômbia é para valer; no Equador, estava Rafael Correa, bem ou mal um aliado do chavismo; e no Brasil tem o problema do idioma. Mas o que definiu mesmo foi a facilidade de obter visto de residência no Uruguai a partir de Caracas."

    Nem tudo, porém, foi fácil. O marido foi primeiro, e ela, justo no dia em que cruzaria a pé a fronteira com a Colômbia (de onde pegaria um voo até São Paulo e depois a Montevidéu), com os dois filhos, recebeu a notícia de que a passagem fora fechada.

    Hoje, o casal está empregado e vive no bairro de classe média alta de Pocitos. "Diminuímos nosso padrão de vida, mas não muito. E meus filhos têm uma ótima educação. Esse foi outro ponto que contou, quando vimos os níveis de escolaridade do país."

    ESTUDANTES

    Já Gregory Chirinos, 25, e Jesus Guillén, 23, contam uma história mais dramática. Ambos filhos de famílias de classe média, estudavam na Universidad de los Andes, em Táchira, um dos locais onde a violência da repressão de Maduro aos protestos de 2014 foi mais intensa.

    "Acordávamos sempre com a notícia de que alguém tinha sido preso ou encontrado morto", diz Chirinos.

    Primeiro, eles pediram vistos para os EUA e o Canadá, mas não foram concedidos. Depois, começaram a olhar para o Sul. "O Uruguai nos dava condições muito boas, especialmente a de terminarmos nossos estudos universitários." Hoje, Chirinos está terminando o curso de ciências sociais, e Guillén, o de administração.

    Só de solicitações pendentes, a chancelaria uruguaia afirma ter 6.000 de venezuelanos. Internamente, a recusa do Estado de conceder residência a cidadãos da Venezuela tem levantado críticas da oposição.

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