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    Odebrecht procura Justiça e governo argentinos para tentar fazer acordo

    SYLVIA COLOMBO
    DE BUENOS AIRES

    07/03/2017 02h05

    A empreiteira brasileira Odebrecht estaria se aproximando da Justiça e do governo argentinos, segundo reportagem publicada nesta segunda-feira (6) pelo jornal "La Nación", na tentativa de obter redução de penas e acordos, incluindo o pagamento de multas, para continuar atuando no país.

    Um relatório do Departamento de Justiça dos EUA, produzido com colaboração da empresa, afirma que a Odebrecht distribuiu propinas a autoridades argentinas no valor de US$ 35 milhões.

    Hugo Villalobos - 25,.jan.2017/"Noticias Argentinas"/AFP
    O chefe de inteligência de Macri, Gustavo Arribas, é acusado de receber US$ 600 mil da Odebrecht
    O chefe de inteligência de Macri, Gustavo Arribas, é acusado de receber US$ 600 mil da Odebrecht

    Desde dezembro, foram pedidas investigações à Justiça do país sobre o provável envolvimento de funcionários, principalmente do governo Cristina Kirchner (2007-2015), mas também de membros da atual gestão, do presidente Mauricio Macri, e de seus parentes.

    Entre os nomes suspeitos de terem recebido suborno estão, do lado dos kirchneristas, o ex-ministro do Desenvolvimento Julio De Vido e o ex-secretário de Transporte Ricardo Jaime.

    Já do lado dos macristas estariam Gustavo Arribas, atual chefe do serviço de inteligência do país, e Ángelo Calcaterra, primo do presidente Macri e diretor de uma das empresas do Grupo Macri, pertencente à família.

    Enquanto os dois primeiros estariam envolvidos no recebimento de propinas para a concessão de obras públicas durante a gestão Kirchner, os dois últimos teriam recebido pagamentos relacionados a uma obra específica (de parte de uma linha de trem), na região metropolitana de Buenos Aires, em 2010, quando Macri era chefe de governo da cidade (que tem status de província independente).

    Segundo o "La Nación", a Odebrecht teria contratado um advogado no país, o argentino Guido Tawil, e organizado duas entrevistas com autoridades. Ambas teriam ocorrido sob sigilo, nos últimos dez dias.

    A primeira teria sido com a procuradora-geral, Alejandra Gils Carbó, que teria dado poucas perspectivas à empresa, uma vez que as acusações se encontram diluídas em investigações de promotores diferentes.

    Gils Carbó é tida como uma autoridade controvertida, ligada ao kirchnerismo. Em seus primeiros meses no cargo, Macri fez tentativas para que ela se retirasse da função.

    A segunda visita de Tawil, um especialista em arbitragens entre empresas e a Justiça, teria sido ao ministro da pasta, Germán Garavano, de quem a Odebrecht esperava obter um sinal político de boa vontade. O resultado de tal conversa não é conhecido.

    Do ponto de vista legal, porém, a empreiteira terá dificuldade para obter acordos porque a lei argentina não prevê que se ofereça clemência ou redução de penas em casos de corrupção.

    Uma promessa de campanha do governo Macri, a Lei do Arrependido (que seria similar ao mecanismo de delação premiada) ainda não está completamente regulamentada para casos de corrupção.

    Na semana passada, em seu discurso de abertura das sessões do Congresso, Macri disse que enviaria projetos de lei ao parlamento para que "a obra pública deixe de significar corrupção na Argentina". Tais legislações, porém, ainda nem sequer foram apresentadas.

    Macri é cobrado pela oposição para criar mecanismos que evitem não apenas o desvio de fundos públicos, mas também os conflitos de interesses que envolvem empreendimentos que tenham o selo do Grupo Macri —há décadas relacionado a obras e negócios de sucessivas gestões do governo argentino.

    OUTRO LADO

    A Folha questionou a Odebrecht sobre a revelação. A empresa enviou um comunicado em que "reafirma seu compromisso de colaborar com a Justiça" e diz que "já possui entendimentos avançados com alguns países da América Latina para esclarecer sua participação em atos praticados pela companhia".

    "A Odebrecht adotará as medidas adequadas e necessárias para continuamente aprimorar seu compromisso com práticas empresariais éticas", diz o texto.

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