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    Eleição presidencial na França assinala crise do bipartidarismo

    GUILHERME MAGALHÃES
    DE SÃO PAULO

    11/03/2017 02h44 - Atualizado às 23h48
    Erramos: esse conteúdo foi alterado

    Eric Gaillard - 2.fev.2017/Reuters
    Estátuas de Emmanuel Macron (à esq.), François Fillon (ao centro) e Marine Le Pen (à dir.) em Nice
    Estátuas de Emmanuel Macron (à esq.), François Fillon (ao centro) e Marine Le Pen (à dir.) em Nice

    Na mais imprevisível eleição presidencial das últimas décadas na França, três candidatos disputam uma vaga no segundo turno, marcado para o dia 7 de maio.

    Pela primeira vez desde o início da Quinta República, em 1958, o segundo turno do pleito presidencial não deve ter a principal sigla de esquerda (Socialista) nem a de direita (Republicanos), reflexo da crise do sistema bipartidário, que predominou nas últimas seis décadas, apontam cientistas políticos franceses.

    Há poucos meses, dava-se como certa uma disputa entre Marine Le Pen, da Frente Nacional (extrema direita), e François Fillon, ex-premiê de Nicolas Sarkozy, pelo conservador Republicanos.

    EVOLUÇÃO DAS PESQUISAS NA FRANÇA - Intenção de voto, em %

    EVOLUÇÃO DAS PESQUISAS NA FRANÇA - Cenário de 2º turno (7.mar)

    EVOLUÇÃO DAS PESQUISAS NA FRANÇA - Cenário de 2º turno (7.mar)

    A campanha de Fillon, porém, foi abatida pela denúncia de que ele empregou a mulher como assistente parlamentar. Fillon nega a acusação, e seu partido já declarou apoio ao seu nome.

    "Até hoje, sempre houve uma divisão no eleitorado de direita que permitia aos Republicanos ter a proeminência nesse campo. Agora, os dados das pesquisas são muito claros: a extrema direita tem mais peso que a direita", afirma Gaspard Estrada, da Universidade SciencesPo.

    "Em 2007 e 2012, Sarkozy conseguiu que os tentados pela extrema direita votassem nele porque ele era o centro de gravidade da campanha eleitoral", lembra Estrada. Hoje, esse papel é ocupado por Le Pen, não pelo candidato da direita tradicional, Fillon.

    Ambos, porém, trazem ideias populistas em seus programas. Fillon defende reformar o Tratado de Schengen, que permite a livre circulação de pessoas em 26 países europeus, para limitar a entrada de estrangeiros. Le Pen vai além, ao propor a saída francesa do acordo.

    Pascal Pavani - 9.mar.2017/AFP
    A candidata da extrema direita francesa, Marine Le Pen, participa de comício em Miranda na quinta
    A candidata da extrema direita francesa, Marine Le Pen, participa de comício em Miranda na quinta

    LE PEN

    Analistas avaliam que Le Pen suavizou o tom para seduzir o eleitor conservador que votaria em Fillon por medo da extrema direita. Já Fillon, católico fervoroso e ultraliberal na economia, adotou um tom ainda mais radical que o de Sarkozy.

    "O programa de Le Pen parece estar mais suave, mas, olhando atentamente, os fundamentos da Frente Nacional continuam lá: combate à imigração, à União Europeia, valorização da identidade francesa etc.", diz Bruno Cautrès, pesquisador do Cevipof.

    "Recentemente, Le Pen afirmou que, caso seu partido vença a eleição, altos servidores públicos que não sejam considerados 'patriotas' o suficiente enfrentarão sanções", afirma Thomas Guénolé, da SciencesPo.

    Regis Duvignau - 9,mar.2017/Reuters
    O centrista Emmanuel Macron discursa em uma reunião em Talence, no sudoeste da França
    O centrista Emmanuel Macron discursa em uma reunião em Talence, no sudoeste da França

    MACRON

    O segundo fator, de acordo com os analistas, que vem modificando o antigo sistema bipartidário atende pelo nome de Emmanuel Macron.

    "Macron está encarnando o sentimento de mudança sem o medo do novo", resume Gaspard Estrada.

    Ex-ministro da Economia do socialista François Hollande, Macron deixou o governo em agosto de 2016 após atritos com o atual presidente, que amarga índices pífios de popularidade e decidiu não tentar um novo mandato.

    "A estratégia de Macron é apresentar-se como resposta política à Frente Nacional", diz Estrada. Nesse sentido, o voto útil deve impulsioná-lo ao segundo turno. "Eleitores socialistas votariam em Macron para evitar um segundo turno entre direita e extrema direita", aponta o analista.

    Isso atrapalha, é claro, o candidato socialista, Benoît Hamon, também um ex-ministro de Hollande. Apesar de leve recuperação nas últimas pesquisas, Hamon não consegue convencer o eleitorado de que tem chances de chegar ao segundo turno.

    O programa de Macron, divulgado na semana passada, busca agradar tanto a socialistas como a liberais na economia. Fortemente pró-União Europeia, ele é o único candidato a propor a adoção de um ministro das Finanças da zona do euro e a criação de um Parlamento eleito para decidir sobre as questões econômicas dessa zona.

    Por outro lado, ele também defende que o Estado venda € 10 bilhões (R$ 33,6 bi) em ações de empresas em que tem participação minoritária —o montante iria a um fundo de estímulo à indústria.

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