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    Premiê vence eleição na Holanda, e extrema direita vai pior que esperado

    DIOGO BERCITO
    ENVIADO ESPECIAL A HAIA

    16/03/2017 00h20 - Atualizado às 00h58

    O premiê conservador da Holanda, Mark Rutte, venceu as eleições parlamentares desta quarta-feira (15). Ele derrotou o partido do candidato de extrema direita Geert Wilders, que liderou as pesquisas nos últimos meses.

    O triunfo de Rutte e o desempenho abaixo do esperado de Wilders são o primeiro refluxo de uma tendência ascendente da direita populista nos EUA e na Europa.

    John Thys/AFP
    O primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, comemora o triunfo de seu partido na eleição
    O primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, comemora o triunfo de seu partido na eleição
    Editoria de Arte/Folhapress

    "Esta é uma noite em que a Holanda, depois do 'brexit' [saída do Reino Unido da União Europeia] e de Trump, disse: Basta do tipo de populismo errado", afirmou Rutte.

    A sigla do premiê, o VVD (Partido Popular para a Liberdade e Democracia), conseguiu 33 dos 150 assentos, com 94,3% das seções eleitorais apuradas. Wilders, do populista PVV (Partido da Liberdade), estava em segundo lugar, com 20, com uma cadeira a mais que o CDA (Apelo Democrata Cristão) e o D66 (Democratas 66).

    Wilders havia baseado sua campanha na aversão a imigrantes e na promessa de deixar a União Europeia. Se o resultado se confirmar, seu partido terá crescido sua bancada em 5 assentos em comparação com o pleito de 2012.

    O PvdA (Partido Trabalhista) sofreu, por sua vez, uma derrota histórica. A sigla conquistou só 9 assentos, contra 38 cinco anos atrás.

    O comparecimento nas urnas, estimado em 77,7%, foi o maior nos últimos 31 anos.

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    PRINCIPAIS FORÇAS

    VVD (Partido Popular para a Liberdade e Democracia)
    Líder: Mark Rutte (atual premiê)
    Posição: Liberal, duro na questão migratória, pró-UE
    Propostas
    - Menos impostos na poupança e no lucro de empresas
    - Manter refugiados em suas regiões de origem
    - Proibir o véu de rosto em espaços públicos

    PVV (Partido da Liberdade)
    Líder: Geert Wilders
    Posição: Anti-imigração, anti-islã, anti-UE
    Propostas
    - Reduzir imposto de renda e de veículos
    - Vetar a migrantes e refugiados de países muçulmanos
    - Retirar da Holanda da União Europeia

    CDA (Apelo Democrata Cristão)
    Líder: Sybrand Buma
    Posição:Conservador, apoiado pela classe média no interior
    Propostas
    - Favorecer pequenas empresas
    - Aumentar o gasto militar
    - Expulsar migrantes que não se integrem

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    REPERCUSSÃO

    Os resultados da eleição holandesa foram acompanhados em todo o continente europeu. Angela Merkel, chanceler alemã, parabenizou Rutte por telefone.

    O voto na Holanda foi tratado como uma medida da força do populismo de direita, o que também ocorrerá no pleito da França, em abril, e da Alemanha, em setembro.

    Há afinidade entre o discurso do PVV e o da Frente Nacional, na França, e da Alternativa para a Alemanha. Esse trio coincide, por exemplo, na rejeição à UE.

    Mesmo que o PVV não tenha vencido o pleito, suas 20 cadeiras serão vistas como sinal do apoio a suas ideias.

    Wilders defendeu expulsar parte dos imigrantes marroquinos, a quem se refere como "escória", e proibir o Alcorão, livro sagrado do islã.

    "O que chamo de partidos patrióticos estão ganhando fôlego", disse Wilders ao votar em uma escola em Haia.

    "Qualquer que seja o resultado das eleições de hoje, o gênio não irá voltar para a lâmpada, e essa revolução patriótica, quer seja hoje ou amanhã, acontecerá."

    Como nenhum partido obterá maioria, será necessário negociar coalizões. Neste espectro bastante fragmentado, o processo deve demorar meses. Em 1977, foram 208 dias até se formar a coalizão.

    Dificilmente o radical Wilders fará parte do próximo governo. As demais forças políticas já sinalizaram que não vão se aliar a ele.

    ELEITORES

    A coalizão resultante das negociações terá de lidar com a indicação feita nas urnas de que a imigração é uma questão política urgente.

    Essa era a principal preocupação de dois dos eleitores encontrados pela Folha nesta quarta em Haia, sede do Parlamento holandês.

    "Não sabemos se essas pessoas estão vindo para a Holanda fugindo de guerras ou pelo interesse na economia", disse um deles na prefeitura, sem revelar o nome.

    "Nós pagamos bastante imposto aqui e não gostamos quando vemos que imigrantes não querem trabalhar e ajudar a construir o país."

    Seu colega, concordando com acenos da cabeça, afirmou em seguida: "Os imigrantes têm que ser obrigados a falar holandês e a entender a cultura local".

    Em um país em que o voto da extrema direita foi demonizado nas últimas semanas, a exemplo do visto nos EUA, o silêncio desses eleitores era tão comum que motivou preocupações de que Wilders tivesse mais apoio do que o sugerido pelas pesquisas.

    "Eles têm medo de serem chamados de racistas", diz Joost Niemoller, autor de um livro sobre os eleitores do PVV e simpatizante da sigla.

    A principal questão para esses eleitores, diz Niemoller, é a identidade holandesa. "Seus entornos estão se transformando, e eles se sentem perdidos", afirmou.

    Estima-se que 230 mil pessoas tenham imigrado para a Holanda em 2016. Subtraídas as 141 mil pessoas que emigraram, houve um aumento de 89 mil. A população da Holanda é de 17 milhões.

    As cidades têm se transformado, congregando cada vez mais etnias. O número de municípios com entre 10% e 25% de imigrantes não ocidentais dobrou entre 2002 e 2015, segundo o governo.

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