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    Brasil ficará de fora do Conselho de Segurança da ONU ao menos até 2033

    PATRÍCIA CAMPOS MELLO
    DE SÃO PAULO

    17/03/2017 02h00 - Atualizado às 03h10
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    O Brasil vai ficar ao menos até 2033 fora do Conselho de Segurança das Nações Unidas, porque não apresentou candidatura nos últimos anos. Mais alta instância da ONU, o grupo tem como objetivo cuidar da segurança e da paz internacionais.

    A ausência simboliza uma mudança radical na política externa brasileira. No governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), a diplomacia tinha ambições de mediar a paz entre israelenses e palestinos e chegou a apresentar uma proposta de acordo, em conjunto com a Turquia, para resolver a questão do programa nuclear do Irã.

    Li Muzi - 28.fev.2017/Xinhua
    Membros do Conselho de Segurança da ONU vota sanções ao regime sírio por uso de armas químicas
    Membros do Conselho de Segurança da ONU vota sanções ao regime sírio por uso de armas químicas

    Já sob Dilma Rousseff (2011-2016), não houve nem sequer interesse de fazer parte do Conselho. "O Brasil foi do 80 para o 8", diz um funcionário do governo.

    O Conselho tem cinco vagas permanentes, ocupadas por China, Reino Unido, Estados Unidos, França e Rússia. Outras dez vagas são rotativas e alocadas por região —5 para África e Ásia, 1 para o Leste Europeu, 2 para América Latina e Caribe e 2 para Europa Ocidental e outros.

    Cada região chega a um consenso e apresenta um candidato para um mandato de dois anos. As candidaturas são apresentadas com muitos anos de antecedência.

    A última vez que o Brasil ocupou uma das vagas rotativas foi no biênio 2010-2011. Desde alguns anos antes disso, o país não apresentou mais candidatura e, como resultado, não terá "vaga" pelo menos até 2033, segundo a Folha apurou.

    O assunto foi discutido no sábado (11), na primeira reunião entre o recém-empossado chanceler Aloysio Nunes Ferreira e o alto escalão do Itamaraty.

    "É um sintoma do encolhimento do país no cenário internacional", afirma outro funcionário. "Por um misto de descaso e barbeiragem, o Brasil perde capacidade de influenciar o órgão de maior força na ONU."

    Com isso, o país ficará ausente do Conselho por 22 anos —período mais longo do que os 20 anos de ausência no órgão entre 1968 e 1988 (veja quadro abaixo), boa parte deles sob ditadura militar.

    "Mas na ditadura o país não se candidatou porque não queria que o tema da tortura viesse à tona", diz Matias Spektor, colunista da Folha e professor de Relações Internacionais da FGV.

    "É péssimo o Brasil ficar de fora por tanto tempo; temos tradição em participar, e a cadeira rotativa nos permite expressar nossa concepção de ordem internacional."

    Entre outras atribuições, o CS impõe sanções a países, como já fez com o Irã diversas vezes, por causa do programa nuclear iraniano; determina o envio de forças de paz, como ocorreu no Congo e Haiti, e pode abrir caminho para invasões militares, como na Líbia em 2011.

    PLEITO BRASILEIRO

    Uma das principais bandeiras da política externa brasileira nos últimos anos era justamente a reforma do CS para ampliar o número de membros permanentes e torná-lo "mais legítimo e representativo". Só os membros permanentes têm poder de vetar resoluções do órgão.

    O Brasil tem um pleito histórico de ser um membro permanente num CS ampliado, com o argumento de que a mudança refletiria melhor a atual importância dos países emergentes.

    A ausência do Brasil nos assentos rotativos do CS não afeta diretamente esse pleito, mas tampouco ajuda. Se o Brasil não manifesta nem o interesse por uma vaga temporária, fica difícil levar a sério a pressão por reforma do CS, dizem observadores.

    Existe uma possibilidade para o Brasil estar no CS antes de 2033 —algum outro país da América Latina desistir de sua candidatura. Mas isso teria de ser negociado.

    Procurado, o Itamaraty não respondeu aos questionamentos da Folha até a conclusão desta edição.

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