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    análise

    Quando o inimigo mora ao lado

    CLÓVIS ROSSI
    COLUNISTA DA FOLHA

    23/03/2017 13h47

    O terrorista que matou três pessoas na quarta-feira (22) em Londres chama-se, informa a polícia, Khalid Masood, 52, nome e sobrenome que denunciam a sua origem árabe. Mas não era nem imigrante nem refugiado nem esteve na Síria com o Estado Islâmico, preparando-se para atacar.

    Nasceu em Kent, no próprio Reino Unido –uma clara evidência de que muros e/ou outras barreiras contra imigrantes podem até reduzir o número de chegadas, mas não vão eliminar o terrorismo.

    Não, ao menos, esse tipo rudimentar de terrorismo, que usa armas (um veículo e uma faca) ao alcance de qualquer um.

    É praticamente impossível evitá-lo quando o terrorista, se dispõe a matar e morrer no mesmo ato, como aconteceu com Masood na quarta-feira.

    Segundo o Guardian, os serviços britânicos de segurança monitoram cerca de 3 mil britânicos, a maioria islamistas, vistos como potencialmente capazes de praticar atos terroristas.

    (O fato de que a maioria são islamistas não quer dizer que outras tribos sejam imunes ao extremismo. Agora mesmo, descobriu-se que foi um jovem estudante judeu quem disparou ameaças de bomba contra centros comunitários judeus nos Estados Unidos, o que assustou muito a comunidade judaica).

    Masood já esteve sob vigilância, mas, por ser considerado "periférico", não figurava na lista dos cerca de 500 que permanecem sob investigação ativa, sempre segundo o Guardian. Só um número ainda mais limitado é objeto de vigilância física.

    Falha dos serviços de segurança ou de informação? Talvez, mas o fato é que o radar do sistema judicial detectou Masood pela última vez em 2003, por posse de uma faca. Logo, fazia 14 anos que ele estava limpo, por assim dizer.

    O número de agentes necessários para fazer a vigilância física dos 3 mil suspeitos potenciais seria grande demais e possivelmente de pouca valia: digamos que um policial estivesse seguindo Masood dia e noite. Ele veria, portanto, quando Masood subiu ao Hyundai 4x4 com que atropelou pessoas na ponte Westminster.

    Mas como poderia adivinhar que subir ao veículo nesse dia particular, ação corriqueira e banal, seria o prelúdio de um atentado?

    Que esse tipo de terrorismo veio para ficar demonstra-o a repetição (mas sem vítimas desta vez) de um ataque em rua movimentada no dia seguinte ao evento de Londres: foi na quinta-feira (23) na principal rua comercial da cidade belga de Antuérpia.

    Como Masood, o terrorista potencial era de origem árabe (Mohamed R.), mas não era imigrante. Era francês e residente na França.

    É óbvio que ataques similares, o ano passado, em Nice (França) e Berlim devem ter inspirado Masood, que, por sua vez, inspirou o atacante de Antuérpia.

    Terrorismo vive (também) de publicidade –e é impossível evitar o abundante noticiário em torno de atentados. Mesmo que a mídia tradicional fizesse um impossível pacto de censura em torno deles, as mídias sociais se encarregariam de difundi-los.

    Como disse o prefeito de Londres, Sadiq Khan, as grandes cidades (e as médias, como Antuérpia, também) precisam se dar conta de que, a qualquer hora, em qualquer lugar, podem ser vítimas de um ataque.

    Ainda mais que o inimigo mora ao lado.

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