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    Após 'brexit', acordo comercial entre Reino Unido e Brasil deve demorar

    PATRÍCIA CAMPOS MELLO
    DE SÃO PAULO

    30/03/2017 02h00

    Já há conversas preliminares entre o Brasil e o Reino Unido sobre um eventual acordo de livre comércio a ser assinado após os britânicos deixarem oficialmente a União Europeia (UE), daqui a dois anos, se não houver atrasos.

    Mas as conversas são reservadas e incipientes, porque os britânicos ainda são membros do bloco e, em tese, não poderiam estar em negociação.

    Christopher Furlong/AFP
    Britain's Prime Minister Theresa May, signs the official letter to European Council President Donald Tusk, invoking Article 50 and signalling the United Kingdom's intention to leave the EU, in the cabinet office inside 10 Downing Street on March 28, 2017.. British Prime Minister Theresa May will send a letter to EU President Donald Tusk with Britain's formal departure notification on Wednesday, opening up a two-year negotiating window before Britain actually leaves the bloc in 2019. / AFP PHOTO / POOL / CHRISTOPHER FURLONG ORG XMIT: 700026409
    Theresa May, primeira-ministra do Reino Unido, assina nesta terça (28) carta que dá início ao "brexit"

    Além disso, a última coisa que os britânicos querem é irritar autoridades europeias no momento em que a prioridade é assegurar um bom acordo para continuar exportando seus produtos para a UE em condições vantajosas.

    Dentro do Itamaraty, a aposta é que o acordo entre Mercosul e o bloco europeu será assinado antes de um eventual tratado com os britânicos.

    Embora as negociações entre UE e Mercosul se arrastem desde 2000, o Itamaraty vê um novo ímpeto –do lado do Mercosul, uma mudança "filosófica" no modo de a Argentina encarar o comércio; no lado europeu, o abandono da postura dogmática.

    Fechar um acordo com o Reino Unido seria mais simples do que com 27 países, muitos deles protecionistas. Mas o governo não acredita que as negociações com Londres comecem antes do fim de 2019.

    O cientista político Anthony Pereira, diretor do Instituto Brasil do King's College, acha que um acordo com o Reino Unido, que não tem o perfil protecionista de países com forte lobby agrícola como França, Bélgica e Irlanda, seria mais fácil do que com a UE.

    Mas Pereira também acha que tudo isso deva levar tempo. "Neste ano, há eleições na França em abril e na Alemanha em setembro; as negociações sobre o 'brexit' só devem começar a sério depois disso; vai levar mais de dois anos para serem concluídas."

    O encarregado de negócios (embaixador em exercício) britânico no Brasil, Wasim Mir, diz que o país vai se tornar mais aberto ao comércio. E o Brasil é um dos países com os quais o Reino Unido quer reforçar laços comerciais.

    Os ministros das Relações Exteriores, Boris Johnson, e da Economia, Philip Hammond, virão ao Brasil nos próximos três meses. Mir enfatiza que, inicialmente, os brasileiros não serão afetados.

    "Por enquanto nada muda para os brasileiros que moram no Reino Unido. Há muitos brasileiros lá e muitos britânicos morando em outros países da UE. Por isso queremos começar o quanto antes a negociar os seus direitos. É uma questão de negociação, mas ainda permanecemos membros da UE pelos próximos dois anos. "

    O embaixador Luiz Felipe Seixas Correa, vice-presidente do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), não está otimista. "O Brasil continuará não sendo prioridade para o Reino Unido, focado mais na Ásia. A América Latina, após sucessivas crises, voltou à periferia."

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