A líder escocesa Nicola Sturgeon pediu a Londres nesta sexta-feira (31) que autorize a repetição de um plebiscito pela independência do país do Reino Unido, após a derrota em 2014.
Sturgeon formalizou sua petição em uma carta enviada à primeira-ministra britânica, Theresa May. O gesto espelha aquele feito na quarta por May ao enviar uma carta ao Conselho Europeu anunciando a saída do Reino Unido da União Europeia, conhecida como "brexit".
O paralelo foi ainda mais acentuado porque Sturgeon divulgou na véspera uma fotografia sua sentada com as pernas em cima do sofá e rascunhando o texto. May havia publicado sua imagem em uma mesa assinando a carta ao Conselho Europeu.
Russell Cheyne/Reuters | ||
As líderes da Escócia (esq.) e do Reino Unido (dir.), se encontram para discutir um possível plebiscito de separação |
O Parlamento escocês aprovou o pedido por um plebiscito na terça-feira com uma vantagem de dez votos. Mas Sturgeon precisa do aval de May para seguir adiante com a consulta independentista, prevista para entre 2018 e 2019. Não há um prazo para a resposta.
O governo britânico já sinalizou que não aceitará o pedido de Sturgeon, o que tensionaria as relações entre ambas as líderes. A escocesa alertou que buscará alternativas caso seja impedida de prosseguir com o plebiscito –não está claro quais.
Na quarta-feira, ao dar início ao "brexit", May disse à rede BBC que "agora não é a hora de ter o foco em um segundo plebiscito de independência". "É a hora de nos aproximarmos como um Reino Unido."
Uma pesquisa realizada pela instituição Survation, publicada na quinta pelo jornal escocês "Herald", porém, aponta que 58% dos escoceses acredita que Londres não tem o direito de impedir o plebiscito.
"Não parece haver uma razão racional para você se colocar no caminho da vontade do Parlamento escocês e espero que você não faça isso", disse Sturgeon em sua carta.
REPETIÇÃO
A Escócia votou em 2014 por sua independência do Reino Unido, mas 55% dos eleitores preferiram permanecer na união britânica. Sturgeon acredita, no entanto, que o "brexit" transformou o cenário.
Há um importante abismo a ser explorado. Enquanto 52% do Reino Unido votou por deixar a União Europeia, a população escocesa, se analisada isoladamente, preferia permanecer, com 62% dos votos – e foi derrotada.
Sturgeon poderá, portanto, argumentar que os planos do "brexit" não representam os interesses da Escócia. Esse discurso é favorecido pela escolha de May de retirar o Reino Unido também do mercado único europeu, que congrega 500 milhões de consumidores, uma medida à que a líder escocesa se opõe.
Sturgeon discorda também da decisão britânica de dar ao gabinete de May os "poderes de Henrique 8°", com os quais podem modificar a legislação do país sem passar por todo o processo legislativo.
Londres diz que a medida é necessária para emendar milhares de leis europeias que já não serão aplicáveis ao Reino Unido em meados de 2019, quando deixar a União Europeia. Edimburgo acredita que o gesto é uma apropriação indevida de poderes.