• Mundo

    Saturday, 04-May-2024 11:23:00 -03

    Aliada do chavismo, procuradora da Venezuela critica manobra da Justiça

    DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

    31/03/2017 12h44 - Atualizado às 01h00

    A procuradora-geral da Venezuela, Luisa Ortega, denunciou nesta sexta-feira (31) a "ruptura da ordem constitucional" no país, um dia após o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) assumir as funções da Assembleia Nacional.

    O anúncio de Ortega é inesperado, pois a procuradora era tradicionalmente ligada ao chavismo. Trata-se da primeira declaração de uma autoridade de alto escalão do país contra a manobra do TSJ.

    Juan Barreto - 02.fev.2016/AFP
    Venezuela's General Attorney Luisa Ortega Diaz (C) presents the annual report to the National Assembly in Caracas February 2, 2016. AFP PHOTO/JUAN BARRETO ORG XMIT: VEN421
    A procuradora-geral da Venezuela, Luisa Ortega, em foto de arquivo

    "Nessas sentenças se evidenciam várias violações da ordem constitucional e desconhecimento do modelo de Estado consagrado em nossa Constituição", declarou Ortega. "Isso representa uma ruptura da ordem constitucional. É minha obrigação expressar minha grande preocupação com o país."

    A sentença do TSJ, denunciada pela oposição como "golpe de Estado", agravou a crise política no país. Alguns dias antes, a mesma corte, cujos membros são em maioria aliados do chavismo, havia retirado a imunidade dos congressistas e autorizado o presidente Nicolás Maduro a processar opositores por crimes militares e de terrorismo.

    Desde o início de 2016, a Justiça venezuelana considera que o Legislativo, sob controle da oposição, age em desacato à Constituição por ter juramentado três deputados do Estado de Amazonas acusados de fraude eleitoral. Embora a Câmara tenha exonerado os parlamentares posteriormente, o TSJ diz que o ato não foi formalizado.

    Os três legisladores eram importantes porque, com eles, a oposição tinha a maioria qualificada de 112 das 167 cadeiras da Casa (dois terços). Isso permitiria aprovar emendas à Constituição, mudar leis orgânicas, como a de controle de preços, e inclusive remover a cúpula do próprio TSJ.

    Na prática, a decisão do TSJ significa que, por um prazo indeterminado, o tribunal pode escrever as próprias leis ou indicar um órgão que passe a legislar no lugar da Assembleia.

    MADURO FALA

    Após quase 48 horas de silêncio sobre a decisão do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela de assumir as funções da Assembleia Nacional, o presidente Nicolás Maduro disse nesta sexta-feira (31) que "há poderes legítimos e constitucionais" no país e que a "direita nacional e internacional" busca "montar um show para incendiar nosso país".

    Além do recado à oposição, Maduro também deu uma resposta à procuradora-geral, Luisa Ortega, que mais cedo havia classificado a sentença do TSJ de "ruptura da ordem constitucional".

    O anúncio de Ortega foi recebido com surpresa, pois a procuradora era tradicionalmente ligada ao chavismo.

    O presidente disse que não teve conhecimento prévio sobre a decisão do TSJ nem sobre a posição de Ortega.

    Além disso, Maduro afirmou que as divergências entre o Ministério Público e o Judiciário demonstram que há plena separação de poderes na Venezuela. "Cada poder atua conforme a Constituição e sua consciência", disse.

    O líder chavista convocou para a noite desta sexta uma reunião do Conselho Nacional de Segurança para discutir o "impasse" entre poderes. O resultado da sessão não havia sido divulgado até a conclusão desta edição.

    Maduro também afirmou que vai a um encontro da Alba (aliança formada por governos bolivarianos) na semana que vem, em Cuba.

    A declaração da procuradora-geral foi comemorada pela oposição. Deputados entregaram ao Ministério Público um pedido de investigação contra os juízes do TSJ, acusando-os de ter "sequestrado os direitos do povo".

    O deputado opositor Freddy Guevara, vice-presidente da Assembleia Nacional, conclamou as demais instituições do país, inclusive as Forças Armadas, a "imitar" a procuradora, posicionando-se contra a sentença do TSJ.

    "A ditadura só vai cair quando aqueles que lhe dão apoio por meio das instituições passarem para o lado do povo", afirmou Guevara.

    Em Caracas, manifestantes bloquearam ruas nesta sexta para protestar contra a manobra do TSJ. A oposição convocou novos atos para este sábado (1º).

    -

    Venezuela

    dez.2015
    Oposição conquista a maioria da Assembleia Nacional pela primeira vez desde a chegada do chavismo ao poder

    jan.2016
    Após posse de três deputados opositores acusados de fraude eleitoral, Justiça declara que Assembleia age em desacato

    out.2016
    Justiça suspende processo de convocação de consulta sobre mandato de Nicolás Maduro, alegando fraude da oposição

    out.2016
    Órgão eleitoral adia por tempo indeterminado eleições regionais e municipais sob a justificativa de falta de verba

    jan.2017
    Justiça anula votação da Assembleia sobre o abandono do cargo por Nicolás Maduro, após Legislativo desacatar proibição

    fev.2017
    Órgão eleitoral cancela pleito regional pela segunda vez para realizar recadastramento de partidos

    28.mar.2017
    Suprema Corte retira imunidade de parlamentares, autorizando governo a processar opositores

    30.mar.2017
    Suprema Corte assume as competências da Assembleia Nacional; oposição convoca protestos

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024