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    Manutenção do dólar no Equador é consenso entre candidatos no país

    SYLVIA COLOMBO
    ENVIADA ESPECIAL A QUITO

    01/04/2017 02h00

    "Tem certeza de que não é uma indígena equatoriana?", perguntava, com olhar incrédulo, Erwin Díaz, 34, dono de um restaurante de comidas típicas no centro da capital Quito, na manhã chuvosa desta sexta-feira (31).

    Díaz, assim como alguns clientes do local que se aproximaram para ver a moeda que a repórter da Folha exibia, disse não só conhecê-la como usá-la diariamente.

    The United States Mint/Reuters
    ORG XMIT: 504101_1.tif The 22-karat gold coins that flew aboard the Space Shuttle Columbia in July 1999 is shown in this combo photograph released on July 13, 2007. The 22-karat gold versions of the Sacagawea Golden Dollar are made of.9167 (half ounce) fine gold. The 12 gold versions of the circulating Golden Dollars will be unveiled at the American Numismatic Association's World's Fair of Money in Milwaukee, the largest coin show in the nation. Until now, the gold "space coins" have been stored at Fort Knox. They never have been seen in public, and similar gold coins were never sold, making them extremely rare. REUTERS/The United States Mint/Handout (UNITED STATES). EDITORIAL USE ONLY. NOT FOR SALE FOR MARKETING OR ADVERTISING CAMPAIGNS.
    Moeda em homenagem à índia Sacagawea, dos EUA

    Todos, porém, acreditavam se tratar de uma moeda de dólar cunhada especialmente para o Equador, pois traz a imagem de uma mulher de traços indígenas carregando, nas costas, um bebê.

    "É exatamente como nossas indígenas levam os filhos quando vão aos campos ou aos mercados", completou Román Acosta, 22.

    Quase aposentadas nos EUA, essas moedas, cunhadas a partir do ano 2000, tinham outra intenção, a de homenagear a população americana nativa por meio da heroína Sacagawea, da tradicional tribo dos Shoshone, que, no século 18, ajudou desbravadores brancos nos Estados de Idaho e Louisiana.

    Só que, enquanto nos EUA o uso de moedas no dia-a-dia foi caindo -dando lugar aos cartões-, no Equador passou a ser ainda mais valorizado. Desde 2002, o Departamento do Tesouro americano já enviou US$ 150 milhões ao país sul-americano, apenas em moedas de um dólar.

    Tudo isso remete ao traumático processo de inflação e desvalorização do sucre, que levou à adoção definitiva do dólar como moeda há 17 anos, na gestão de Jamil Mahuad (1998-2000).
    "Todo mundo sentiu mais confiança quando chegaram os dólares. E preferimos moedas a cédulas. Houve tanta falsificação de notas no passado", diz o comerciante Rubén Montoya, 58.

    A manutenção da dolarização é um dos poucos temas comuns nas promessas dos candidatos ao segundo turno da eleição, no domingo (2). Nem o governista Lenín Moreno, que lidera as pesquisas (52,4%), nem o opositor Guillermo Lasso (47,6%) vislumbram abandonar o dólar.

    "É o que nos dá estabilidade monetária", explicou Moreno em reunião com empresários no começo da semana.

    À Folha Lasso afirma que "a prioridade não é desdolarizar, mas sim despetrolizar a economia", referindo-se à dependência equatoriana da commodity, cujos preços despencaram nos últimos anos.

    Ambos preferem não questionar a dolarização devido a sua popularidade. Na época em que o dólar foi adotado, a inflação e a instabilidade política (presidentes caíam no meio do mandato) eram tamanhas que 3 milhões de pessoas deixaram o país.

    Mariana Bazo/Reuters
    Woman sells vegetables at San Roque market in Quito, Ecuador, February 18, 2017. REUTERS/Mariana Bazo ORG XMIT: MBZ08
    Comércio em Quito, no Equador

    DESAFIOS ECONÔMICOS

    Ganhe quem ganhe, os desafios econômicos do próximo presidente equatoriano não são poucos. Vão longe os tempos de "boom" das commodities, com o crescimento do PIB na marca dos 7,9%.
    Em 2016, o PIB equatoriano encolheu 1,7%. E, segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional), o país deve ser o único da América Latina, ao lado da Venezuela, que em 2017 terá crescimento negativo, por volta dos -2,7%.

    Outros indicadores também preocupam. As exportações caíram 10%, o desemprego subiu de 4,8% a 6,6% em um ano, e o endividamento do Estado chegou a 38% do PIB.

    O governo do presidente Rafael C orrea tenta compensar as perdas aumentando impostos, e contraindo dívida, especialmente com a China. O terremoto de abril de 2016 contribuiu para esvaziar ainda mais os cofres públicos, devido ao gasto de US$ 3 bilhões na reconstrução.

    É por isso que, segundo o instituto Cedatos, a principal preocupação dos equatorianos nesta eleição é a economia, disparada na frente com 28%. Em segundo vem corrupção (19%) e segurança (10%).

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