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    Paraguai vive tensão após protestos e repressão que deixou um morto

    DANIEL AVELAR
    ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO

    02/04/2017 20h50

    Daniel Avelar / Folhapress
    Altar improvisado na sede do PLRA, em Assunção, onde Rodrigo Quintana, 25, foi morto pela polícia
    Altar improvisado na sede do PLRA, em Assunção, onde Rodrigo Quintana, 25, foi morto pela polícia

    Quase 48 horas depois de uma noite marcada por protestos violentos e a morte de um manifestante com um tiro da polícia, o ambiente continuava tenso nas ruas de Assunção, capital do Paraguai.

    Na sexta (31), centenas de pessoas incendiaram e saquearam partes do edifício do Congresso paraguaio em protesto contra uma manobra de senadores para aprovar mudanças na Constituição permitindo que o presidente Horacio Cartes, do Partido Colorado (conservador), busque um novo mandato.

    A manifestação terminou com mais de 30 feridos, 200 detidos e a morte de um líder opositor pela polícia.

    Daniel Avelar / Folhapress
    Coroas de flores na (Paraguai), onde o dirigente Rodrigo Quintana, 25, foi morto pela polícia
    Coroas de flores na (Paraguai), onde o dirigente Rodrigo Quintana, 25, foi morto pela polícia

    Neste domingo (2), o movimento no centro de Assunção era menor do que o comum devido à preocupação com a segurança, segundo residentes relataram à Folha.

    Nos arredores do Senado, ainda se viam cacos de vidro e móveis queimados, além de policiais da tropa de choque que isolavam o local. Transeuntes tiravam fotos em frente ao prédio danificado.

    Uma vigília foi montada na praça em frente ao Congresso, e pessoas portavam bandeiras e cartazes com os dizeres "Não ao golpe" e "Defendamos a democracia".

    "Não temos cor, religião nem partido", disse Francisco Soteras, 28, que coletava assinaturas contra o projeto de reeleição presidencial.

    O taxista Sylvio Ayala expressou preocupação com manifestantes violentos ("atrapalharam o trânsito") e disse ser contra as mudanças na Constituição. "Sou colorado, mas acho que seria melhor se colocassem outro candidato", afirmou.

    A polêmica emenda, que foi aprovada no Senado na sexta sem a presença dos principais partidos da oposição, deveria ter sido votada na Câmara no sábado (1º), mas a votação foi adiada para terça-feira (4) devido aos temores de novos confrontos.

    Congressistas da Frente Guasú, de esquerda, apoiaram o projeto da reeleição, na esperança de que o ex-presidente Fernando Lugo, deposto em 2012, possa concorrer a um novo mandato.

    ENTERRO DE OPOSITOR

    Na cidade de La Colmena, a cerca de 130 quilômetros de Assunção, dezenas de pessoas acompanharam neste domingo o enterro de Rodrigo Quintana, 25, dirigente do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), principal sigla de oposição no país.

    O militante foi morto na madrugada de sábado, após o protesto no Congresso. Ele levou um tiro disparado por policiais na sede da agremiação, no centro de Assunção.

    A reportagem da Folha visitou o local, onde foi improvisado um altar com flores e fotografias ao redor de uma grande mancha de sangue no chão, onde Quintana morreu.

    "Os policias forçaram a porta, que estava trancada, para entrar aqui", explicou a militante Marta Florentín. "A sorte foi que chegou um jornalista pouco depois, senão eles teriam matado mais gente", disse.
    Após a morte de Quintana, o governo demitiu o ministro do Interior e o chefe da polícia do Paraguai.

    Os protestos e a violência em Assunção atraíram atenção internacional. No sábado, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, Luis Almagro, fez um "chamado às forças políticas do Paraguai pela paz e pelo respeito à democracia".

    O papa Francisco expressou neste domingo (2) preocupação com as crises no Paraguai e na Venezuela e pediu que "se evite toda a violência em busca de soluções políticas".

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