• Mundo

    Friday, 17-May-2024 03:32:16 -03
    BBC

    Greve geral na Guiana Francesa já dura dez dias e influencia eleição na França

    DA BBC BRASIL

    04/04/2017 09h42

    A Guiana Francesa, território ultramarino da União Europeia espremido entre o Brasil e o oceano Atlântico, está sendo palco de uma onda de protestos e de greves que já dura dez dias.

    Líderes sindicais que comandam as paralisações exigem que o governo francês faça um pagamento imediato de 2,5 bilhões de euros (R$ 8,3 bilhões) a seu departamento na América do Sul. Eles acusam Paris de ignorar os problemas da região, que oficialmente é um exclave da União Europeia no continente e usa o euro como sua moeda.

    As tensões sociais na Guiana Francesa se transformaram até em um assunto da campanha presidencial francesa.

    Jody Amiet/AFP
    Multidão se reúne do lado de fora da Prefeitura de Caiena, na Guiana Francesa, no último dia 30
    Multidão se reúne do lado de fora da Prefeitura de Caiena, na Guiana Francesa, no último dia 30

    Conhecida oficialmente como um departamento remoto da França, a Guiana Francesa está situada entre o oceano Atlântico e o Estado do Amapá. Do final do século 18 a meados do 20, a região abrigou uma imensa colônia penal.

    Sua notória prisão da Ilha do Diabo teve como seus prisioneiros mais famosos o capitão do Exército francês acusado de traição Alfred Dreyfuss —protagonista do famoso "Caso Dreyfuss"— e Henri Charièrre, autor de "Papillon", romance supostamente autobiográfico.

    A Guiana Francesa é também um local com vários problemas. A maioria de sua população de 250 mil pessoas não tem água encanada ou eletricidade. O desemprego é endêmico, atingindo 50% da população jovem, e o índice de homicídios é o maior entre os territórios franceses no exterior.

    A principal parcela da população é mestiça, descendente de escravos e colonizadores franceses; há minorias francesas, haitianas, surinamesas, brasileiras e asiáticas. A língua oficial é o francês, mas a que predomina é o creole guianense francês.

    O departamento francês é governado por uma autoridade territorial, exercida desde 2015 pela Assembleia da Guiana Francesa, eleita localmente.

    A Guiana Francesa também tem problemas com a imigração ilegal, incluindo de brasileiros, alimentada especialmente pelo setor da mineração —o território tem jazidas de ouro. Algo que não é refletido pela renda per capita anual de US$ 15 mil, no mesmo patamar que a do Brasil —e metade da média da França.

    PROTESTOS

    Milhares de pessoas foram às ruas no último 28, em apoio à greve geral. Os protestos tiveram início quatro dias antes, quando 10 mil pessoas fizeram manifestações nas duas principais cidades do país, Caiena e Saint-Laurent-du-Maroni.

    Foi o maior evento do tipo na história do país, e muitos trabalhadores permanecem de braços cruzados.

    A paralisação causou uma série de transtornos, entre eles o fechamento da base espacial de Korou, adiando o lançamento de um foguete que colocaria satélites do Brasil e da Coreia do Sul em órbita.

    No comando dos protestos está um coletivo conhecido como Os 500 Irmãos. Entre as principais reivindicações estão ainda mais segurança e amparo aos desempregados.

    Em uma tentativa de acalmar os ânimos, o governo francês ofereceu um aporte de 1 bilhão de euros, mas o porta-voz dos 500 Irmãos, Olivier Goudet, disse que o grupo considera a oferta "insatisfatória", até porque os termos falavam em pagamentos ao longo de 10 anos.

    A menos de um mês das eleições presidenciais na França, os problemas na Guiana Francesa não passam despercebidos pelos candidatos.

    E o centrista Emmanuel Macron, um dos favoritos nas pesquisas, cometeu uma gafe ao descrever o território como uma ilha, embora tenha proposto novas políticas econômicas e melhorias na segurança da região.

    Já a candidata da extrema direita, Marine Le Pen, disse que os problemas na Guiana Francesa são causados pela "imigração em massa".

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024