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    Forças de segurança reprimem protesto anti-Maduro em Caracas

    DIEGO ZERBATO
    ENVIADO ESPECIAL A CARACAS

    04/04/2017 13h58 - Atualizado às 14h38

    O cerco feito pelas forças de segurança da Venezuela dividiu a manifestação desta terça-feira (4) convocada pela oposição ao presidente Nicolás Maduro.

    O grupo que conseguiu chegar antes das 8h (9h de Brasília) avançou além da praça Venezuela, onde deveria ter sido a concentração do protesto. Depois, a Polícia Nacional, a Guarda Nacional e as Forças Armadas fecharam a passagem de todas as ruas em um perímetro de quatro quadras.

    No entanto, cerca de 5.000 pessoas, principalmente militantes de partidos da coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática e do movimento estudantil, tentavam avançar à praça Venezuela.

    Também estavam no local políticos como o ex-presidenciável Henrique Capriles e o vice-presidente da Assembleia Nacional, Freddy Guevara.

    Enquanto alguns deputados discursavam, um grupo tentou furar o cerco, mas sofreu com o disparo de gás pimenta. Na sequência, os estudantes tentaram descer para a rodovia Francisco Fajardo para tentar furar o primeiro cerco.

    Minutos depois, grupos de coletivos (milícias armadas chavistas) em motos começaram a avançar, fazendo com que os estudantes voltassem para a parte superior da avenida.

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    Com os manifestantes concentrados de novo, as forças de segurança os cercaram dos dois lados, de onde dispararam gás lacrimogêneo. Parte do grupo conseguiu passar o cerco do lado contrário à praça Venezuela.

    Um grupo de cem pessoas se refugiou em um restaurante português, que abriu suas portas.

    Dentre os que sofreram com o gás lacrimogêneo estão Capriles, Guevara, o presidente da Assembleia Nacional, Julio Borges, que também foi agredido pelos agentes, e seu antecessor à frente do Parlamento, Henry Ramos Allup.

    Cerca de 30 minutos após o cerco ao protesto, a polícia prendeu um grupo de dez estudantes. Alguns deles estavam atirando pedras contra o cerco policial.

    Enquanto os opositores são alvo dos agentes do governo, a manifestação dos aliados de Maduro avança sem impedimentos rumo à Assembleia Nacional. A presença dos militantes chavistas deve dificultar a votação da destituição dos juízes do TSJ envolvidos nas sentenças contra o Legislativo.

    MANIFESTANTES

    O deputado Luis Stefanelli fez menção ao recuo do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), que revogou as sentenças que tiravam a imunidade parlamentar dos deputados e dava ao Judiciário o poder de legislar.

    "Eles foram surpreendidos em flagrante. Os magistrados cometeram pelo menos uma tentativa de golpe de Estado, mas não funcionou, porque tiveram que voltar atrás."

    Giovanni Giannonne, 21, estudante de direito da Universidade Central da Venezuela, disse que a intenção dos estudantes da oposição é pedir para viver em um país diferente —ele tinha três anos quando Hugo Chávez (1954-2013) assumiu a Presidência.

    "Nós estamos lutando porque não vimos outra maneira de combater as más políticas do governo, que afetam todos os venezuelanos e queremos algo diferente. Estamos estudando para o futuro do país e formar a Venezuela que realmente queremos."

    Embora os jovens fossem maioria, havia manifestantes mais velhos, como a advogada Rosabel Hernández, 56, que segurava um cartaz com o artigo 333 da Constituição, que autoriza a desobediência civil.

    "Mesmo que tentem consertá-lo ou modificá-lo é um golpe de Estado e nós estamos vivendo há tempos violações constantes à Constituição."

    Ela diz ter emagrecido sete quilos desde o início da crise de escassez. "Mas o que mais me dói são as pessoas que morrem por falta de remédios ou têm que procurar comida na rua em um país tão rico como a Venezuela."

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