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    Governo Trump

    Visita de presidente chinês a Trump demarcará relação entre potências

    ISABEL FLECK
    DE WASHINGTON

    06/04/2017 02h01

    Para o encontro com o presidente chinês, Xi Jinping, que promete ser o mais complicado desde que assumiu o poder, Donald Trump escolheu um lugar em que se sente à vontade: o resort de Mar-a-Lago, na Flórida.

    O conforto e o clima mais descontraído de que desfrutarão a partir desta quinta (6), no entanto, não são garantia de uma conversa amistosa, pontuada por temas como Coreia do Norte e o enorme deficit americano com Pequim.

    Diante da complexa agenda entre as duas maiores economias mundiais, que somam 40% do PIB global, e da posição de dois líderes dispostos a projetar poder para seus públicos internos, a expectativa é que o encontro de dois dias termine sem grandes concessões e anúncios.

    Relação EUA X China - Balança comercial, em US$ bilhões

    A Coreia do Norte, ao lançar um míssil balístico sobre o Mar do Japão nas vésperas da reunião, estabeleceu o programa nuclear do seu país como tema principal da conversa entre Trump e Xi.

    Nesta quarta (5), o presidente americano disse que o regime de Pyongyang é um "grande problema" para os dois países. "Vou me reunir com o presidente da China em breve, e essa é uma responsabilidade que temos, chamada Coreia do Norte."

    Antes, Trump dissera em entrevista ao "Financial Times" que se a China não "resolvesse" a questão norte-coreana, os EUA resolveriam.

    Segundo o Departamento de Estado, os EUA querem que a China aplique sanções a empresas chinesas que negociarem com o país.

    "Precisamos fazer algo para mudar a situação e obter resultados. Esperamos que os chineses se envolvam nisso", disse Susan Thornton, secretária de Estado assistente para Ásia Oriental.

    O diretor de Estudos de China da Universidade Johns Hopkins, David Lampton, aposta que os dois líderes manifestarão preocupação com a escalada norte-coreana, mas só. "Duvido que a China mude sua relutância em dar passos que alterariam a determinação da Coreia do Norte de obter um robusto arsenal nuclear", disse à Folha.

    O próprio Trump tentou reduzir as expectativas para o encontro ao tuitar, na sexta (31), que a conversa com o chinês será "muito difícil".

    Um alto diplomata americano disse a jornalistas que o "espírito" da visita de Xi não é chegar a "grandes resultados", mas "desenvolver uma relação" entre os líderes.

    O pesquisador David Dollar, do centro sobre China do Instituto Brookings, destaca que o fato de o encontro se realizar de forma tão precipitada –quando ainda o governo Trump não definiu sua estratégia para Pequim– também deve ser um obstáculo.

    "Não houve tempo para estabelecer uma base de trabalho para nenhum acordo que estabeleça avanços", diz. "Mas ainda é uma boa ideia que os dois presidentes se reúnam para esclarecer suas prioridades na relação."

    Li Tao/Xinhua
    (161111) -- BEIJING, Nov. 11, 2016 (Xinhua) -- General Secretary of the Communist Party of China (CPC) Central Committee Xi Jinping, also Chinese President and Chairman of the Central Military Commission, addresses a gathering to commemorate the 150th anniversary of Sun Yat-sen's birth in Beijing, capital of China, Nov. 11, 2016.
    O presidente chinês, Xi Jinping, durante evento em novembro de 2016

    FARPAS

    O encontro também pode servir para acalmar os ânimos após a série de ataques de Trump a Pequim durante a campanha eleitoral e de seu telefonema à presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, após sua eleição, indicando que poderia rever o apoio americano à política da "China única" (Pequim considera a ilha um território rebelde).

    Em fevereiro, porém, Trump telefonou a Xi para dizer que mantinha o compromisso de não reconhecer a independência de Taiwan.

    O telefonema ocorreu após gestões do genro e assessor de Trump, Jared Kushner, cuja família negociava um acordo de US$ 400 milhões com uma firma chinesa ligada a líderes do governo para uma construção em Nova York.

    Os dois lados desistiram do negócio após acusações de conflito de interesses.

    Relação EUA X China - Como os americanos veem a China

    "Trump usou a China como saco de pancadas durante sua campanha, e agora tem o desafio de permanecer crível em sua base política enquanto se move em direção uma política mais realista com Pequim", diz Lampton.

    Trump, entre outras coisas, acusou o governo em Pequim de manipular o câmbio de sua moeda, de manter relações comerciais abusivas com os EUA e de "roubar" empregos americanos.

    Na última sexta (31), o republicano assinou um decreto orientando o Departamento do Comércio a listar países que usavam práticas unilaterais injustas contra os americanos, num recado à China, que tem um superavit de US$ 347 bilhões na balança.

    Trump, contudo, descumpriu a promessa de declarar a China "manipuladora do câmbio" tão logo chegasse à Casa Branca, no que pode ser lido como um aceno tímido ou um recuo realista diante de possíveis consequências.

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    TEMAS ESPINHOSOS

    Coreia do Norte
    Às vésperas da visita, Pyongyang disparou um míssil balístico sobre o Mar do Japão; Trump quer compromisso de Pequim para pressionar o regime norte-coreano -o que dificilmente ocorrerá

    Câmbio
    Durante a campanha, Trump disse que declararia a China como manipuladora cambial, assim que assumisse o poder. Ainda não cumpriu a promessa, que abriria espaço para possível sanção ao país

    Deficit
    Trump assinou um decreto para identificar relações comerciais "abusivas", num recado a Pequim, que tem superavit de US$ 347 bi com os EUA. Na campanha, prometeu taxar em 45% a importação de itens chineses

    Mar do Sul da China
    Na campanha, Trump criticou a construção de ilhas artificiais no estratégico Mar do Sul da China, reivindicado por vários países; é difícil que haja alguma declaração dos dois sobre o tema

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