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    Sírios pareciam não crer que ameaças de Trump poderiam se concretizar

    YAN BOECHAT
    ENVIADO ESPECIAL A HOMS (SÍRIA)

    07/04/2017 01h04

    Mass Communication Specialist 3rd Class Robert S. Price/U.S. Navy via AP
    Imagem cedida pela Marinha dos EUA do navio USS Ross lançando um míssil Tomahawk do mar Mediterrâneo em direção à Síria
    Imagem cedida pela Marinha dos EUA do navio USS Ross lançando um míssil Tomahawk do mar Mediterrâneo em direção à Síria

    Homs amanheceu nesta sexta-feira (7) com uma brisa leve e o canto dos pássaros que despertavam com os primeiros raios de sol.

    Antes das seis da manhã, cachorros que vivem pelas ruas desertas da cidade antiga, completamente destruída durante a guerra, iniciaram uma briga barulhenta. O céu azul mostra que o dia será mais um de sol forte e sem nuvens nesta cidade síria que acreditava, até ontem, ter vivido o pior da guerra.

    Nas primeiras horas da manhã não há sinais de mobilização ou de uma tensão excepcional na cidade.

    Na noite de quinta-feira, poucas horas antes do ataque americano à base aérea de Shayrat, a cerca de 40 quilômetros de Homs, jovens sírios divertiam-se em bares e restaurantes da cidade, como em toda a noite de quinta-feira, véspera do principal feriado no mundo árabe.

    Nas dezenas de check-points que cortam a cidade, nenhuma tensão excepcional. Soldados armados com AKs-47 e um pequeno aparelhinho que, dizem eles, é capaz de detectar o cheiro de bombas feitas com o explosivo plástico C4 faziam uma burocrática e preguiçosa checagem dos carros que cortam a cidade.

    No hotel Safir, o principal de Homs, o bar passou boa parte da noite cheio. Homens bebiam araque, fumavam shisha.

    As mulheres conversam no lobby do hotel e um grupo de ao menos 10 crianças brincava no pátio decadente do Safir, onde um piscina com um pouco de água esverdeada mostra que, como tudo na Síria, já viu tempos melhores.

    Onde foi o ataque

    Até ontem, os sírios pareciam não acreditar que as ameaças de Trump poderiam se concretizar. Mesmo em Aleppo, recém retomada das forças rebeldes pelo governo Sírio, uma calma parecia imperar.

    "É claro que foram os terroristas, eles são capazes de tudo, eles matam as pessoas como se elas fossem moscas, como se não tivessem valor", conta Mohamed Aziz, um comerciante de secos e molhados que retornou à parte leste de Aleppo após cinco anos fora da cidade.

    Ele, como quase todos que vivem nas áreas controladas pelo governo, acredita que a Síria é vítima de uma guerra entre a barbárie e a civilização, entre o passado retrógrado dos salafistas e um futuro de prosperidade sob o comando de Assad.

    Na noite de quarta para quinta-feira, no entanto, Aleppo percebeu que os impactos do ataque químico em Idlib poderiam ser desestabilizadores.

    Pela primeira em meses, forças rebeldes tentaram invadir uma das entradas da cidade. As forças armadas síria repeliram a tentativa.

    Mas os sons da artilharia ressoando por toda a noite e fazendo as janelas dos prédios mais altos chacoalharem foram uma lembrança importante de que a paz pode estar bem mais distante do que os sírios gostariam de imaginar.

    Editoria de Arte/Folhapress
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