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    Síria alternou três papéis na política externa dos EUA nos últimos 15 anos

    DA BBC BRASIL

    07/04/2017 12h31

    Sana - 9.jan.2017/Associated Press
    In this photo released Monday, Jan. 9, 2017 by the Syrian official news agency SANA, Syrian President Bashar Assad, left, speaks with French journalists in Damascus, Syria. Assad said in remarks published on Monday that he was prepared "to negotiate everything" at talks set to begin in later this month in Kazakhstan, seeking to cast himself as a peacemaker after his forces' recapture of Aleppo last month. Assad also defended his troops' deadly bombardment of eastern Aleppo. (SANA via AP) ORG XMIT: HAS103
    Bashar al-Assad, presidente da Síria, conversa com jornalistas franceses, em Damasco

    Alvejada por mísseis americanos na madrugada desta sexta-feira, a Síria alternou ao menos três papéis no palco da política externa dos Estados Unidos ao longo dos últimos 15 anos.

    Após os ataques em 11 de setembro de 2001, quando o então presidente George W. Bush lançou-se na Guerra ao Terror, o governo americano ameaçou incluir a Síria na lista de países que considerava pertencentes ao chamado Eixo do Mal. O eixo original era composto por Iraque, Irã e a Coreia do Norte.

    Na época, o Departamento de Estado dos EUA acusava a Síria de financiar e abrigar grupos palestinos que o governo americano classificava como terroristas.

    A Síria também era acusada de permitir que voluntários armados cruzassem suas fronteiras para lutar contra a coalizão americana na Guerra do Iraque, iniciada em 2003.

    O governo sírio negava as acusações e, oficialmente, tratava organizações armadas palestinas como grupos de resistência, que combatiam o domínio israelense de forma legítima.

    Um comitê do Congresso americano chegou a propor a aplicação de sanções a Damasco, mas o gesto foi barrado.

    Washington considerava a Síria importante demais para as negociações de paz entre israelenses e palestinos e não queria aliená-la do processo.

    Além disso, após os ataques às Torres Gêmeas, o país árabe se revelou um valioso parceira dos EUA no combate à Al-Qaeda, de Osama Bin Laden. Em várias ocasiões, o governo sírio compartilhou informações com a CIA (a agência de inteligência dos EUA) sobre membros da organização.

    Na onda de protestos que varreu o Oriente Médio e ficou conhecida como Primavera Árabe, a posição americana sobre a Síria mudou.

    Ameaçado pela revolta, o líder sírio, Bashar al-Assad, reagiu com uma ofensiva contra grupos rivais. O país mergulhou na guerra civil que é travada até hoje.

    Em 2011, em meio ao crescimento do conflito, o presidente Barack Obama disse que Assad deveria deixar o cargo.

    Os EUA tentaram aprovar uma resolução no Conselho de Segurança da ONU que apoiasse uma transição de poder na Síria, mas a iniciativa falhou por causa da oposição de russos e chineses.

    Em 2012, congressistas republicanos passaram a cobrar Obama para que enviasse armas a grupos que combatiam Assad, algo que a Casa Branca relutava em fazer.

    No governo americano, temia-se que as armas pudessem acabar em mãos erradas - como grupos afiliados à Al-Qaeda. O apoio dos EUA aos insurgentes então se limitava ao envio de ajuda humanitária e alguns equipamentos para soldados.

    Pressionado a agir, o presidente americano afirmou que, caso Assad empregasse armas químicas no confronto –algo que se suspeitava que ele já tivesse feito e pudesse voltar a fazer–, os Estados Unidos interfeririam no conflito.

    O uso de armas químicas passou a ser encarado pelo governo dos EUA como uma "linha vermelha" que não poderia ser cruzada pelo governo sírio, ou a Casa Branca agiria abertamente para derrubá-lo.

    Em 2013, surgiram indícios do uso de armas químicas perto de Aleppo, a maior cidade síria. O governo Assad atribuiu o ataque a forças rebeldes, enquanto os insurgentes culparam o governo.

    Obama adotou uma posição cautelosa. Ele afirmou que seria arriscado agir sem provas de que Assad havia realmente ordenado o ataque.

    A postura foi mantida até o fim do governo –Obama deixou o cargo sem jamais ter ordenado um ataque direto contra o líder sírio.

    Acredita-se que outro fator também tenha afetado a avaliação do então presidente sobre o conflito: o avanço do grupo autointitulado Estado Islâmico (EI).

    Em janeiro de 2016, o grupo ocupava 60.400 km² na Síria e no Iraque, pouco mais que o dobro do Estado de Alagoas, e se projetava também em outras partes do mundo.

    Atentados ordenados ou inspirados pelo grupo nos EUA e na Europa alçaram o EI ao centro do debate político americano.

    Durante a campanha eleitoral, o então candidato Donald Trump pregava uma aproximação entre os EUA e a Rússia –aliada do governo Assad– para derrotar o Estado Islâmico.

    Trump já havia criticado Obama por traçar uma "linha vermelha na Síria quando o mundo sabia que aquilo não significava nada".

    Por outro lado, disse num comício em Miami que atacar um governo aliado da Rússia poderia levar à Terceira Guerra Mundial.

    Em debate presidencial em outubro, Trump disse que não gostava "nem um pouco de Assad". "Mas Assad está matando o EI, a Rússia está matando o EI, e o Irã está matando o EI."

    Em entrevista ao Wall Street Journal, Trump disse que sua posição sobre a Síria era oposta à do governo Obama: "Minha atitude era 'você está lutando contra a Síria, a Síria está lutando contra o EI, e você tem de se livrar do EI".

    O cálculo de Trump mudou, segundo ele, após a divulgação de vídeos que mostravam vítimas de um ataque químico atribuído pela Casa Branca ao governo sírio.

    "O que Assad fez é terrível", disse o presidente horas antes do ataque americano a bases sírias.

    "Acho que o que aconteceu na Síria é uma desgraça para a humanidade. Ele [Assad] está lá, e acho que ele está comandando as coisas, então algo deveria acontecer."

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