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    Síria deixa em segundo plano encontro dos presidentes dos EUA e da China

    TOM MITCHELL
    DEMETRI SEVASTOPULO
    DO "FINANCIAL TIMES"

    08/04/2017 02h00 - Atualizado às 09h48

    Enquanto Donald Trump brincava na noite de quinta-feira (6) que não tinha recebido "nada, absolutamente nada" de Xi Jinping nas conversas iniciais em sua primeira cúpula, o presidente americano elogiou o primeiro encontro com seu homólogo chinês antes das negociações mais substanciais marcadas para esta sexta-feira (7).

    Os líderes das duas maiores economias mundiais estavam prontos para discutir uma série de questões polêmicas no clube de Trump na Flórida, Mar-a-Lago, como o programa nuclear da Coreia do Norte e as disputas comerciais bilaterais.

    Mas o esperado encontro foi ofuscado pelo ataque com mísseis dos EUA à Síria e o que ele pode sinalizar sobre a intenção do governo Trump de usar a força militar para alcançar seus objetivos.

    Carlos Barria/Reuters
    Os presidentes Donald Trump, dos EUA, e Xi Jinping, da China, caminham após uma reunião bilateral em Palm Beach, na Flórida
    Os presidentes Donald Trump, dos EUA, e Xi Jinping, da China, caminham após uma reunião bilateral na Flórida

    A reação militar de Trump ao ataque com armas químicas nesta semana, atribuído a forças leais ao presidente Bashar al-Assad, contrasta com o notório fracasso de seu antecessor, Barack Obama, em agir depois de uma atrocidade semelhante em 2012.

    Na tarde de sexta, em Pequim, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês condenou o ataque químico, pedindo uma "investigação independente e abrangente da ONU", mas também indicou o desagrado com a reação americana.

    "A China nunca interfere nos assuntos internos de outros países. O presidente sírio foi eleito pela população, e respeitamos sua escolha", disse Chua Chunying, acrescentando que Pequim "sempre se opôs ao uso da força nas relações internacionais".

    O ataque militar dos EUA poderá dar credibilidade à ameaça de Trump de punir a Coreia do Norte unilateralmente por seus repetidos testes de mísseis e nucleares.

    "Trump está tentando pressionar [a China] para agir mais sobre a Coreia do Norte", disse Evan Medeiros, que serviu no Conselho de Segurança Nacional de Obama, depois da ameaça de Trump de agir isoladamente em relação à Coreia do Norte.

    Liu Binjie, membro do comitê que supervisiona o Parlamento chinês, disse que a China seria muito cautelosa porque "a posição final dos dois lados não é clara", e acrescentou: "Não queremos instigar nenhum confronto ou tomar a iniciativa".

    Liu também advertiu contra a ação unilateral sobre a Coreia do Norte. "O Estado inteiro é militarizado", disse. "Se você os ameaçar, o tiro poderá sair pela culatra."

    Paul Haenle, diretor do Centro Carnegie-Tsinghua, em Pequim, disse que as negociações de sexta poderiam esclarecer se Xi estaria disposto a modificar a abordagem tradicionalmente cautelosa de seu governo a Pyongyang depois das repetidas provocações de Kim Jong-un, o líder da Coreia do Norte.

    "A única incógnita é Xi Jinping", disse Haenle, que também assessorou Obama sobre política asiática e se encontra regularmente com políticos chineses. "Sabemos de modo anedótico que seu nível de frustração com Kim Jong-Un é muito, muito alto."

    Trump disse na semana passada que suas reuniões com o presidente chinês seriam "muito difíceis", e na quinta-feira repetiu em parte sua retórica de campanha, dizendo: "Fomos tratados injustamente e fizemos péssimos acordos com a China durante muitos e muitos anos".

    Mas a maioria dos analistas continua cética sobre a capacidade dos dois presidentes de alcançar acordos substanciais na Flórida, especialmente porque a política de Trump para a China ainda não está totalmente formada e muitos cargos chaves de seu governo continuam vagos.

    "A China dará [a Trump] pequenas vitórias, mas eles não vão tratar das grandes questões estruturais de alguma maneira substancial na frente econômica e comercial", disse Haenle. "Eles vão querer comprar mais produtos americanos e talvez anunciar alguns investimentos."

    Folha Explica - Síria

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