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    Paquistanês confessa ter operado rota ilegal para os EUA a partir de Brasília

    SPENCER S. HSU
    DO WASHINGTON POST

    13/04/2017 19h25

    Um esquema de tráfico de imigrantes que ajudou pessoas do Paquistão e Afeganistão a entrar nos Estados Unidos por meio do Brasil e de outras regiões da América Latina foi publicamente revelado na quarta-feira (12).

    Sharafat Ali Khan, 32, paquistanês com residência permanente no Brasil, assumiu diante de um tribunal federal em Washington ter servido como facilitador para dezenas de
    paquistaneses que contataram ele no Brasil, pagaram de US$ 5.000 a US$ 12.000 cada e, depois, andaram pela selva colombiana ou viajaram em direção aos EUA de ônibus, avião ou a pé, segundo os registros do tribunal.

    Khan se declarou culpado por conspiração para fraude aos EUA e por contrabando humano.

    As viagens que ele organizava eram longas, árduas e perigosas, afirmou o tribunal.

    "O viajante médio levou aproximadamente nove meses para ir do Brasil aos Estados Unidos. Durante a viagem, os estrangeiros foram submetidos a condições severas que causaram um risco substancial de lesões corporais graves ou morte", afirmam os registros judiciais.

    Muitos viajaram para a cidade de Turbo, no norte da Colômbia, e daí para a fronteira oriental do Panamá, onde tiveram que caminhar pela região de Darien, descrita como "uma área de floresta tropical selvagem e perigosa", não acessível a veículos.

    A acusação contra Khan prevê pena máxima de cinco anos na prisão. Mas, no acordo para confessar, promotores aceitaram uma punição de três anos e um mês.

    O paquistanês, que também usou o pseudônimo "Dr. Nakib", foi preso em 14 de julho em Washington após ser extraditado do Qatar, de acordo com documentos do tribunal. As circunstâncias da sua prisão naquele país não foram reveladas.

    Khan é um operador de tráfico humano conhecido no Brasil, disse o agente especial Frank Iervasi, da Imigração e Alfândega dos EUA, em um depoimento de 3 de junho sobre a aplicação da lei que deu base à prisão de Khan em Washington. Ele afirmou que outro operador estrangeiro deu informações sobre Khan a oficiais.

    A acusação contra o paquistanês citou apenas seis indivíduos alvos de tráfico, mas ele teria sido identificado pelo nome ou pela fotografia por cerca de 80 estrangeiros que disseram ser ele quem organizou suas viagens a partir do Brasil entre março de 2014 e aproximadamente maio de 2016, escreveu Iervasi.

    Já na quarta-feira (12), no tribunal, Khan e o governo estipularam em documentos da admissão de culpa que o número de indivíduos ficou entre 25 e 99.

    A acusação alegou que Khan trabalhou com pelo menos três outros conspiradores cujas identidades são conhecidas por um júri federal.

    Fredy Builes/Reuters
    ORG XMIT: FLB06 A soldier of the Marina of Colombia stands guard over packages of cocaine seized by the police, in coordination with the DEA, in Turbo, September 12, 2011. At least 2.2 tons of cocaine were seized during a counter-narcotics operation of the criminal gang "Urabenos" near the Gulf of Uraba. REUTERS/Fredy Builes (COLOMBIA - Tags: DRUGS SOCIETY CRIME LAW)
    Barreira policial em Turbo, Colômbia, em 2011

    Os seis imigrantes, identificados apenas por iniciais em processos judiciais, estão agora em processo de deportação em Nova York e Baltimore, disse Bill Miller, porta-voz do escritório da Procuradoria-Geral em Washington.

    Segundo o agente Iervasi, gravações e comunicações eletrônicas obtidas pelos investigadores, incluindo algumas no idioma Urdu, falado no Paquistão, deram detalhes das atividades, rotas, taxas, associados e métodos de pagamento de Khan.

    Seu depoimento registra que a rota usada na operação de tráfico humano foi do Paquistão para Dubai, Brasil, Peru, Equador, Colômbia, Panamá, Costa Rica, Nicarágua, El Salvador, Guatemala e México.

    Segundo documentos de acusação, diversos indivíduos contrabandeados afirmaram que eram levados para a casa de Khan ou recebiam seu telefone. Alguns ficavam em uma residência providenciada pelo paquistanês antes de viajar. Eles dizia aos imigrantes para apagarem seus telefones ou comunicações pelo WhatsApp, disse Iervasi.

    Outra fonte afirmou que Khan trabalhava em um aeroporto do Brasil e que muitos estrangeiros o procuravam em casa. Ele também ficaria com moedas e documentos de pessoas de diferentes países sem justificativa, escreveu o agente.

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